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Batalha aérea

Quem vai vender os caças para a FAB?

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Da Redação

Publicado em 14 de outubro de 2010 às 13h16.

Quem assistiu às cenas de perseguição com aviões de caça supersônicos no filme Top Gun, estrelado por Tom Cruise, sabe como essas máquinas podem despertar emoções fortes. O caça é para a aviação o que os carros de Fórmula 1 são para o automobilismo. Neles, está presente o que há de mais moderno em termos de aerodinâmica, turbinas, sistemas de radar, software e armamentos. Seus pilotos compõem a elite da aviação mundial. Mas não é só nos céus que esses aviões conseguem elevar o nível de adrenalina no sangue das pessoas. O meio aeronáutico -- incluídos aí militares da FAB e executivos de empresas como Embraer, Avibrás e de fabricantes internacionais de aviões -- vive momentos de taquicardia com uma decisão que o Conselho de Defesa Nacional, órgão vinculado à Presidência da República, deve tomar até o fim de junho. Trata-se da escolha do caça que deverá substituir, até 2005, a frota brasileira de 16 Mirage III, adquiridos em 1972 e hoje em processo de desativação. A compra deverá ser de 12 aviões, num valor superior a 700 milhões de dólares, e faz parte de um programa de reaparelhamento da FAB de 3,4 bilhões de dólares.

Na disputa, entraram os russos Sukhoi Su-35 e MiG 29, o americano F-16C, o francês Mirage 2000 BR e o anglo-sueco JAS39 Gripen. O Sukhoi começou na frente. De acordo com fontes ouvidas por EXAME, a avaliação das propostas, concluída no início de junho pelo Departamento de Pesquisas e Desenvolvimento da Aeronáutica, colocou o caça russo no topo da lista, seguido pelo Mirage.

A megaencomenda da FAB pôs em pé de guerra a Embraer e a Avibrás, separadas por apenas 100 metros de distância em São José dos Campos, no interior de São Paulo. A Embraer está ligada à francesa Dassault, que detém 20% de suas ações e produz o Mirage. A Avibrás é a parceira nacional da russa Rosoboronexport, fabricante do Sukhoi. Agora, as duas empresas devem iniciar uma batalha nos bastidores do poder em Brasília até a escolha final pelo Conselho de Defesa, composto pelo presidente Fernando Henrique, o vice Marco Maciel, os ministros da Defesa, da Justiça, do Planejamento, das Relações Exteriores, os presidentes da Câmara e do Senado e os comandantes do Exército, da Aeronáutica e da Marinha. As alfinetadas já estavam acontecendo antes mesmo da conclusão do relatório da Aeronáutica. "Transferência de tecnologia é uma coisa muito séria e é preciso ter gente competente para absorvê-la", afirma Romualdo Monteiro de Barros, diretor-vice-presidente para o mercado de defesa da Embraer. A Avibrás, fabricante de foguetes e mísseis, não veste a carapuça. "Nossos aviões são melhores, mais baratos, temos total competência técnica e inclusive licença para fabricar armamentos, coisa que a Embraer não tem", diz João Brasil Carvalho Leite, diretor e sócio da Avibrás.

Além de estudar o avião, a avaliação da Aeronáutica levou em consideração aspectos como a transferência de tecnologia, a manutenção da frota, preço e prazo de entrega, risco de falência da empresa e as chamadas "cláusulas de compensação": o país que vender os caças deverá adquirir produtos brasileiros no mesmo valor da venda, preferencialmente produtos de alta tecnologia.

A Embraer, que dispõe de um forte apoio político no Congresso, ainda conta com a possibilidade de um desfecho a seu favor no Conselho de Defesa. Segundo seu presidente, o executivo Maurício Botelho, caso ganhe a concorrência com o Mirage, a empresa terá garantida a transferência de uma tecnologia que vai ajudá-la a desenvolver novos aviões comerciais. Isso lhe permitiria manter a competitividade que a tornou um dos grandes nomes do setor e a maior exportadora brasileira. "Se não tivesse havido o AMX nos anos 80, não teríamos assumido esse papel extremamente relevante na indústria aeronáutica mundial", diz Botelho.

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