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Bancos apertam o cerco contra a Odebrecht, dizem fontes

As instituições querem que a empreiteira coloque a casa em ordem após passarem meses tratando a empresa com cautela

Odebrecht: (Carlos Garcia Rawlins/Reuters)

Odebrecht: (Carlos Garcia Rawlins/Reuters)

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Reuters

Publicado em 15 de maio de 2017 às 08h39.

Última atualização em 15 de maio de 2017 às 11h22.

São Paulo - Os bancos decidiram aumentar a pressão sobre a Odebrecht para que a empreiteira coloque a casa em ordem após passarem meses tratando a empresa com cautela por temores de que um colapso do conglomerado prejudicaria seus balanços, disseram fontes.

A Odebrecht concordou em acelerar as vendas de ativos como parte de um acordo com os bancos credores que permita ao grupo altamente endividado manter os 800 milhões de dólares do desinvestimento de sua unidade de água e esgoto anunciado no mês passado, afirmaram vários executivos, banqueiros e advogados envolvidos nas conversas.

O conglomerado ainda concordou em entregar aos credores todos os dividendos da petroquímica Braskem e colocar mais ativos como colaterais dentro da renegociação, disseram as fontes, que pediram para não ser identificadas porque os termos do acordo ainda não foram divulgados.

"Todas as partes concordaram que os passos para resolver esse drama de uma vez por todas devem ser tomados cuidadosamente, mas rapidamente", disse uma das fontes envolvidas nas conversas.

O acordo mostra como os bancos credores que detêm uma grande parcela da dívida pendente de 76 bilhões de reais da Odebrecht estão se tornando cada vez mais insistentes.

Em parte, a confiança recém-descoberta dos bancos deriva de um acordo de delação firmado pela empreiteira em dezembro com procuradores de Estados Unidos, Brasil e Suíça que traçou um limite para os principais riscos legais do grupo.

A Odebrecht e a Braskem admitiram ter subornado autoridades em 12 países, principalmente na América Latina, e concordaram em pagar 3,5 bilhões de dólares para não serem processadas.

Os credores também acreditam ter dado tempo suficiente à Odebrecht e lidaram com outras dores de cabeça em seu portfólio de crédito ao longo do ano passado, o que lhes dá mais espaço de manobra.

"Agora que o acordo de leniência é uma realidade, acreditamos que a Odebrecht pode reduzir seus ativos e passivos em um ritmo mais acelerado", disse um banqueiro veterano.

A postura mais rígida fica evidente na maneira que os bancos estão lidando com a participação acionária de 38 por cento da Odebrecht na Braskem, maior empresa petroquímica latino-americana.

Embora o presidente Emílio Odebrecht queira que a Braskem lidere a recuperação do grupo, os banqueiros creem ter o direito de decidir o destino da participação acionária - oferecida como colateral por uma reestruturação de dívida da Odebrecht Agroindustrial SA, unidade de agronegócio do grupo.

"Deveria caber a nós, não à Odebrecht, decidir o que fazer com a Braskem", disse o presidente-executivo de um grande banco brasileiro.

Escândalo e recessão

Outrora a maior empregadora do Brasil, a Odebrecht foi seriamente abalada pelas investigações da Operação Lava Jato sobre o pagamento de propinas em contratos estatais de infraestrutura, e a pior recessão já registrada no país agravou os problemas para o grupo familiar.

A restrição ao acesso a capital e a reputação manchada impediram a Odebrecht de atingir uma meta de venda de ativos de 12 bilhões de reais até meados de 2017.

A meta foi estendida para o ano que vem, conforme o acordo fechado em abril para a venda da Odebrecht Ambiental SA.

Mas o governo brasileiro se somou ao coro dos credores pressionando para que o grosso desta meta seja cumprido neste ano, disseram à Reuters autoridades, banqueiros e advogados a par da reestruturação.

Alguns bancos vêm reagindo mal à lentidão com que a família Odebrecht, que mantém o controle da companhia que fundou em 1944, está vendendo estaleiros e empresas de biocombustível e de prospecção de petróleo. Outros questionam se a família deveria se manter no comando depois de seu papel no escândalo de corrupção.

Em um comunicado enviado à Reuters, a Odebrecht disse estar empenhada em reduzir seu tamanho, observando que a receita bruta caiu para cerca de 90 bilhões de reais no ano passado - em 2015 o grupo declarou uma receita bruta de 132,5 bilhões de reais.

"Depois de fechar acordos com as autoridades judiciais de Brasil, Estados Unidos, Suíça e República Dominicana, o grupo está trabalhando para assinar acordos semelhantes com outros países para levar o grupo a um novo padrão de ética, governança e transparência".

Na sexta-feira, a Odebrecht indicou Luciano Guidolin, que desempenhou papel crucial na negociação dos acordos de leniência, como seu novo presidente.

Mesmo assim, as revelações de que a Odebrecht subornou autoridades por toda a América Latina vêm complicando os esforços para a obtenção de novos contratos.

A carteira de pedidos da unidade de construção civil Odebrecht Engenharia & Construção SA encolheu 50 por cento nos dois anos transcorridos até dezembro de 2016, para 17 bilhões de dólares, o valor mais baixo desde 2008, de acordo com dados financeiros preliminares vistos pela Reuters.

Emilio Odebrecht criou estruturas de conformidade mais rígidas e prometeu manter os membros da família fora dos conselhos da empresa.

Uma pessoa familiarizada com as finanças da Odebrecht SA disse que a gerência concordou em registrar todas as multas de dezembro na declaração do resultado do ano passado, jundo com baixas contábeis de ativos e cobranças relacionadas ao esquema de suborno.

Isso levaria o grupo a registrar um prejuízo recorde, a ser anunciado nas próximas semanas, disse a fonte.

A dúvida é se o grupo pode voltar refazer sua carteira de pedidos depois de ter sido proibido de concorrer em licitações de obras públicas no Brasil e igualmente rechaçado em ao menos quatro outros países latino-americanos.

Várias autoridades brasileiras de alto escalão estão fazendo lobby em agências antitruste e de auditoria pare evitar penalidades adicionais.

"Vi muitas pessoas espalhando o boato de que a Odebrecht não irá sobreviver, mas isso vai contra a toda essa ideia de formular acordos de leniência", disse Carlos Lima, procurador da força-tarefa da Lava Jato. "Queremos a empresa trabalhando e a queremos limpa."

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