AZUL: empresa teve trimestre acima das expectativas dos analistas, com lucro de 345 milhões de reais e alta de 31% na receita (Azul/Divulgação)
Carolina Riveira
Publicado em 8 de agosto de 2019 às 16h15.
Última atualização em 10 de agosto de 2019 às 10h01.
A Azul recebeu 15 dos 41 horários de pouso e decolagem (slots) da Avianca Brasil no aeroporto de Congonhas, em São Paulo, mas está na expectativa de conseguir ficar com tudo que foi deixado pela concorrente.
Em conferência com analistas para divulgar os resultados do segundo trimestre nesta quinta-feira, 8, o presidente da empresa, John Rodgerson, afirmou que está esperando "em stand by" as negociações com os órgãos reguladores do governo brasileiro.
A aposta otimista da diretoria é que as companhias aéreas MAP Linhas Aéreas, do Amazonas, e Passaredo, de Ribeirão Preto (SP), não conseguirão operar no aeroporto, um dos mais importantes do Brasil e que exige alta eficiência de operação e aeronaves mais modernas do que essas empresas atualmente possuem.
“Não somos contra MAP e Passaredo”, disse Rodgerson. “Mas queremos o uso mais eficiente possível [de Congonhas], que é usar a pista principal para aviões maiores.”
A Avianca, então quarta maior companhia aérea do Brasil, parou de operar em maio em meio a dívidas de 2,8 bilhões de reais. Pela redistribuição da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), a MAP ficou com 12 slots e a Passaredo com 14. As empresas têm até esta sexta-feira, 9, para provar aos reguladores e operadores de Congonhas que serão capazes de operar no aeroporto.
Assim, um anúncio mais concreto da Azul sobre como se darão as futuras operações em Congonhas deve vir na semana que vem. Se, no pior dos cenários para a Azul, a empresa de fato só ficar com 15 slots, os somará a seus 26 atuais.
Perguntado sobre se essa soma é suficiente para operar na ponte-aérea Rio-São Paulo, a rota mais lucrativa e importante da aviação brasileira, os diretores da Azul afirmaram que um anúncio oficial deve ser feito apenas na semana que vem.
As rotas em Congonhas estão atualmente concentradas nas mãos de Gol e Latam, com 236 pares de slots no aeroporto, ou 44% do total, e 234 pares, ou 43,6%, respectivamente. Como não são novas entrantes (empresas com até 54 slots), as empresas estão fora da rodada de distribuição dos horários da Avianca.
"O processo não acabou, por isso ainda não anunciamos nada", disse Rodgerson. O presidente completou a conferência afirmando que a Azul vai aproveitar "qualquer oportunidade" para entrar em Congonhas e que sua participação no aeroporto beneficiaria o consumidor.
Discussões por Congonhas à parte, a Azul coroa um trimestre que foi um dos mais importantes de sua história. O lucro foi de 345,5 milhões de reais, ante prejuízo de 791 milhões um ano antes. A margem operacional também cresceu, de 10% para 13%. A receita teve alta de 31,3%, fechando em 2,6 bilhões de reais.
"Reduzimos nosso crescimento da capacidade internacional ao mesmo tempo em que estamos fortalecendo nossa presença nos mercados domésticos, onde há mais potencial para aumentar a lucratividade", escreveu a empresa no balanço.
Ninguém ganhou tanto em 2019 quanto a Azul. Em dezembro do ano passado, a empresa tinha 19% do mercado doméstico, mas fechou junho com 25%. Enquanto isso, a Gol foi de 38% para 40% do mercado doméstico, e a Latam foi de 31% para 34%.
A companhia também conseguiu aumentar sobremaneira sua capacidade, que subiu 15,5% na comparação com o ano passado. Ao mesmo tempo, a receita por quilômetro e por assento ocupado (RASK), que mede a eficiência da operação, subiu 13,6%.
Grande parte mérito próprio, mas a saída da Avianca de fato deu à Azul alguns atalhos. Para além dos novos slots obtidos (e os que ainda podem ser obtidos) em aeroportos importantes, a companhia também conseguiu comprar -- "oportunisticamente", como afirma no balanço -- 12 aeronaves A320neos da Avianca. A empresa também comprou, por conta própria, quatro aviões do mesmo modelo e um A330neo, terminando o trimestre com 29 aeronaves de nova geração.
As novas aeronaves gastam menos combustível e possibilitam redução de custos, ao mesmo tempo em que permitem à companhia dar conta tanto de seu crescimento próprio quando do aumento da demanda, que se intensificou com a saída da Avianca, que detinha no fim do ano passado 12% do mercado doméstico.
Com a concentração do mercado sem a Avianca, o mercado doméstico teve a menor oferta de assentos em junho desde 2010 e os preços chegaram a mais que dobrar em algumas rotas.
Apesar da briga por Congonhas e da inegável importância do aeroporto para que a Azul opere nas rotas mais lucrativas nacionais, a diretoria da Azul segue batendo na tecla de que o crescimento do trimestre não foi apenas devido à saída da Avianca.
Sem um grande acesso aos principais aeroportos do país e à ponte-aérea Rio-São Paulo, a Azul se especializou nas rotas alternativas às grandes companhias desde sua fundação, em 2008. Por isso, em 70% de suas 226 rotas, opera sozinha. Há concorrentes em apenas 43 rotas.
A empresa é líder absoluta nos estados do Nordeste, por exemplo, com voos em todas as capitais. Dentre os locais com maior participação da Azul estão cidades como Recife (PE), Governador Valadares (MG) e Cuiabá (MT). Além disso, sua base está não na capital paulista, mas no aeroporto de Viracopos, em Campinas (SP).
Das 24 novas rotas da empresa neste ano, apenas cinco eram da Avianca. Em 77 rotas a capacidade foi atualizada e aumentada, e apenas 11 delas eram da concorrente. Das 59 rotas da Avianca, a Azul afirma que estava em apenas 20.
“Construímos uma maravilhosa rede nos últimos dez anos”, disse o vice-presidente de Receitas, Abhi Manoj Shah. “Nossa estratégia não mudou. Continuamos com foco em fortalecer nossa rede.” Nessa trajetória, a falência da rival pode ter acelerado o processo. A Azul acredita que terá grandes anos pela frente. Se conseguir mais slots em Congonhas, melhor ainda.