As empresas com os conselheiros mais caros do Brasil
Bradesco, líder do ranking, gasta oito vezes mais que o décimo colocado
Da Redação
Publicado em 16 de março de 2012 às 07h00.
Última atualização em 13 de setembro de 2016 às 16h25.
São Paulo – O Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC) analisou informações de 189 companhias listadas na bolsa para chegar àquelas que melhor remuneram os membros dos conselhos de administração. Entraram na lista as maiores empresas brasileiras, responsáveis por 90% do valor de mercado da Bovespa. Como nem todas elas fecharam o balanço do ano passado, os dados referem-se ao exercício de 2010. Desde então, as empresas são obrigadas a divulgá-los à Comissão de Valores Mobiliários. O motivo remonta à crise que chacoalhou o mercado em 2008. Muitas foram as reflexões que surgiram a partir da quebra do Lehman Brothers. Mas talvez nenhuma delas tenha causado tanta indignação quanto a abissal diferença entre os bônus distribuídos aos executivos de grandes bancos e a real situação financeira dessas instituições. Nove gigantes americanos, entre os quais Merrill Lynch, Morgan Stanley, Citigroup e Goldman Sachs, chegaram a pagar 32,6 bilhões de dólares a seus funcionários em 2008. No mesmo ano, amargaram um prejuízo de 81 bilhões. A partir de então, algumas propostas foram colocadas na mesa para diminuir o descasamento entre os resultados de longo prazo das companhias e a remuneração de seus dirigentes. Tornar as práticas salariais públicas foi uma delas. Veja, nas próximas páginas, as empresas brasileiras que melhor pagaram seus conselheiros em 2010 o quanto elas cresceram no mesmo período.
Se as empresas brasileiras de capital aberto gastaram em média 139.600 reais com seus conselheiros em 2010, aqueles que ocuparam um assento no Bradesco embolsaram 100 vezes mais. O banco aparece isolado entre as companhias que melhor pagaram os funcionários com esse gabarito, distribuindo uma média anual de 10,54 milhões de reais a cada um deles – no setor, a média foi de 1,37 milhão. Em linhas gerais, o conselho de uma empresa é responsável por decidir e monitorar questões estratégicas. Espera-se, portanto, que o montante pago aos seus membros guarde alguma relação com o desempenho apresentado pela companhia. No caso do Bradesco, os resultados foram positivos, mas não chegaram a empolgar. No exercício de 2010, considerado para análise de dados do IBGC, o valor de mercado do banco subiu 6,3%.
A empresa de Eike Batista só começou a extrair petróleo da Bacia de Campos em janeiro de 2012 (e ainda assim, num teste de longa duração). O total distribuído pela companhia em 2010, quando ainda era pré-operacional, correspondeu a uma média de 5,68 milhões de reais a cada um de seus conselheiros ao longo do ano. No mesmo período, seu valor de mercado subiu 17%. Segundo a OGX, essa cifra foi puxada para cima pelo pagamento de 50 milhões de reais a uma única pessoa. Por considerar que o valor era influenciado principalmente pela remuneração de Eike, acionista controlador, o próprio IBGC excluiu os dados da OGX da análise geral para que os números não inflassem a média geral do setor. Enquanto as empresas de petróleo, gás e biocombustível pagaram, em média, 92.566 reais aos seus conselheiros, a OGX distribuiu 61 vezes mais – a maior diferença no ranking do IBGC. Companhias estatais como a Petrobras, por exemplo, apresentam menor nível de remuneração por contarem com teto salarial definido por lei.
O Cruzeiro do Sul é o segundo dos quatro bancos que aparecem na lista do IBGC. Com 3,82 milhões de reais distribuídos aos profissionais que ocuparam uma cadeira no conselho, a empresa pagou quase três vezes mais que a média de 1,37 milhão apresentada no setor financeiro. Em 2010, o desempenho das ações não deixou a desejar, aumentando o valor de mercado da companhia em 19,5%. Entre as decisões aventadas pelo conselho de lá para cá, a compra de 88,7% do banco Prosper chamou a atenção no fim do ano passado. A aquisição, que custou 55 milhões de reais, faz parte da estratégia do banco de aumentar a participação no segmento de crédito pessoal consignado.
Outra empresa do homem mais rico do Brasil aparece no ranking das que destinam uma bolada razoável para remunerar seus conselheiros. Em média, aqueles que ocuparam esse cargo na MPX , empresa de energia de Eike Batista, receberam 1,95 milhão de reais em 2010. O valor de mercado da companhia subiu 17,1% no mesmo período. O hiato apresentado em relação à média do setor foi alto, mas não chegou a surpreender como no caso da OGX. No cálculo do IBGC, as empresas de utilidade pública pagaram em média 189.689 reais aos conselheiros no ano inteiro – ou 10 vezes menos que a MPX. No começo de 2012, a companhia anunciou a formação de uma joint-venture com a elétrica alemã E.ON para formar a maior empresa privada de energia do país.
Enquanto os conselheiros do setor de consumo não cíclico receberam uma média de 553.232 reais no ano, a gigante de bebidas Ambev distribuiu 1,78 milhão de reais àqueles que ocuparam este assento na companhia. E os profissionais tiveram o que comemorar. Em 2010, o valor de mercado da empresa subiu robustos 47%. No ano seguinte, a Ambev aumentou sua presença no mercado de cervejas, garantindo liderança absoluta no segmento com uma fatia de 69,6% de participação. Ao mesmo tempo, a Ambev viu suas ações subirem novamente na casa dos dois dígitos, crescendo 33,9% em 2011.
Dentre os representantes do setor financeiro que integram a lista, o banco Daycoval foi o que apresentou maior evolução no valor de mercado. No ano em que seus conselheiros receberam uma média de 1,75 milhão de reais, as ações da instituição subiram 32,9%. Na prática, a distância entre o pagamento efetuado pelo banco e o observado na média do setor acompanhou de perto esse percentual. O montante embolsado pelos conselheiros do Daycoval foi “apenas” 30% superior.
A Suzano é a primeira empresa do ranking que viu suas ações derraparem no período analisado pelo IBGC. Em 2010, o valor de mercado da companhia caiu 6,3%. Ainda assim, seus conselheiros receberam 1,6 milhão de reais no ano, mais que o dobro da média de 717.906 reais embolsada pelos executivos do setor de madeira e papel. Na esteira da crise da dívida soberana europeia, a Suzano acabou sofrendo com a redução do preço para a celulose também no ano seguinte. No fim de 2011, a agência de classificação de risco Moody’s chegou a reduzir o rating para os títulos emitidos pela empresa no mercado internacional.
Apesar de abocanhar o oitavo lugar da lista e reforçar a presença dos bancos entre as empresas que melhor remuneraram seus conselheiros, o montante pago pelo Itaú se aproximou da média paga aos profissionais do setor: 1,39 milhão de reais por membro do conselho contra média de 1,34 milhão apresentada pelas instituições financeiras. Em 2010, o valor de mercado do banco subiu 3,4% - percentual ligeiramente inferior à diferença de 4% observada entre a média do setor e o que os executivos levaram para casa.
Em 2010, as ações da fabricante de carrocerias de ônibus Marcopolo registram um crescimento astronômico de 105%. Com isso, o valor de mercado da empresa pulou de 1,44 bilhão de reais para 2,95 bilhões - melhor desempenho entre as companhia listadas no ranking do IBGC. Ao mesmo tempo, os conselheiros da Marcopolo receberam, em média, 1,38 milhão de reais no ano. A média no setor de material rodoviário foi quase três vezes mais baixa, alcançando 477.318 reais. A companhia seguiu colhendo frutos em 2011 ao apresentar lucro líquido de 344 milhões de reais. O resultado é 16,3% maior que o obtido em 2010.
A siderúrgica Gerdau fecha a lista das empresas que melhor pagaram seus conselheiros apresentando o pior resultado na bolsa. Em 2010, o valor de mercado da companhia despencou 17,9%, mas os membros do conselho receberam, em média, 1,29 milhão de reais. O valor é 240% superior aos 380.365 reais que, em média, foram pagos aos conselheiros de empresas de siderurgia e metalurgia.
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