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Artigo: A falência é a melhor solução

O governo deveria salvar a indústria automobilística para evitar a falência de montadoras? Em vez disso, que tal se os conselhos da Chrysler e da GM declarassem a falência de ambas as montadoras com o objetivo explícito de reestruturá-las e de promover sua fusão? Pode parecer uma idéia radical, mas é a melhor saída, na […]

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Da Redação

Publicado em 12 de outubro de 2010 às 18h56.

O governo deveria salvar a indústria automobilística para evitar a falência de montadoras? Em vez disso, que tal se os conselhos da Chrysler e da GM declarassem a falência de ambas as montadoras com o objetivo explícito de reestruturá-las e de promover sua fusão? Pode parecer uma idéia radical, mas é a melhor saída, na nossa opinião, para que a indústria tenha um futuro viável.

Sim, estamos convencidos de que a indústria automobilística americana tem futuro. Os defensores do livre mercado podem falar à vontade sobre a morte natural da indústria - não tiramos sua razão. Apesar dos enormes avanços das montadoras americanas em qualidade e design, as companhias alemãs, japonesas e coreanas, muito bem administradas, já tomaram cerca de metade do mercado americano. A concorrência só vai ficar ainda mais acirrada com a entrada de montadoras chinesas e indianas nesse mercado. Contudo, a exemplo do que acontece com muitas outras indústrias, é preciso que os Estados Unidos - pensando nos empregos, na defesa nacional e no auto-respeito - mantenha viva sua indústria automobilística.

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O socorro do governo, porém, não ajudará em nada as montadoras. Washington pode até impor condições e se comprometer a supervisionar rigorosamente a indústria, mas não conseguirá de modo algum pôr em prática o tipo de mudança transformadora de que essas companhias precisam. Haveria muita oposição política, e apesar de todo o dinheiro com que o governo vem acenando - 25 bilhões de dólares tirados do contribuinte só para começar - as três grandes montadoras americanas simplesmente seguiriam em frente tal como hoje: com muita dificuldade. É como se respirassem com ajuda de aparelhos. Portanto, a solução não é essa.

Os conselhos das montadoras deviam tomar uma atitude corajosa e decretar falência. Alguns credores, provavelmente, gostariam muito que elas fossem liquidadas, mas dada à desvalorização dos seus ativos, a idéia não lhes parece tão boa assim. Em vez disso, talvez preferissem que o governo interviesse como garantia perante os credores, dando respaldo à reestruturação.

Seja como for, as empresas precisam de um novo ponto de partida. Durante mais de uma década, as montadoras americanas enfraqueceram sob a pressão de custos esmagadores. Decretada a falência de todas elas, a mudança fundamental tão necessária ganharia força com a fusão dessas empresas. É difícil juntar três montadoras e, no caso da Ford, há uma estrutura familiar de dois níveis no controle da companhia. Por isso vamos deixá-la de fora da solução que estamos propondo e nos limitar a GM e a Chrysler. Estima-se que a fusão das duas empresas possa gerar até 15 bilhões de dólares em sinergias decorrentes da redução da capacidade instalada e de cortes de despesas administrativas em excesso - uma economia que reduziria o custo de produção dos carros e elevaria o gasto com pesquisa e desenvolvimento. É verdade que a GM e a Chrysler podem perder vários pontos em participação de mercado durante a transição, mas nem por isso a companhia resultante da fusão seria menos forte: ela teria mais de um quarto do mercado dos Estados Unidos.

Não queremos de forma alguma dar a impressão de que todo esse processo seria simples. Qualquer fusão é sempre complicada, sejam quais forem as circunstâncias. A fusão de duas empresas em estado falimentar seria o ápice da complicação, uma vez que exigiria o comprometimento de gente habituada a um modo antigo e antagônico de fazer as coisas. A grande virada seria precedida por uma etapa de transição extremamente dolorosa: os investimentos dos acionistas evaporariam, milhares de postos de trabalho seriam cortados, pensões e outros benefícios seriam afetados. Os bancos assistiriam à conversão de boa parte de suas dívidas em ações.

Sabemos também que não faltam razões para rejeitar uma solução assim tão drástica. Alguém poderá dizer que o consumidor americano não investiria 30 000 dólares num carro de uma empresa falida. No entanto, os americanos investem regularmente seu ativo mais valioso - a vida - em companhias aéreas falidas sempre que voam. Portanto, se o governo quiser que a Chrysler e a GM saiam o quanto antes da situação em que se encontram, deve mostrar que está disposto a apoiá-las de algum modo, talvez assegurando a elas a concessão de novas garantias para os veículos produzidos. Outros dirão que é impossível administrar a mecânica de duas falências e uma fusão. Outros ainda dirão que já foram feitas muitas concessões contratuais.

Os líderes poderão se negar a bancar essa mudança dolorosa. Em tempos normais, essa seria uma missão extremamente complicada - hoje, então, seria uma façanha hercúlea dado o clima de extrema politização em Washington e Detroit. Contudo, para a indústria americana sair de onde está e achar seu rumo dentro do mercado global é preciso que ela deixe a trilha tradicional das mudanças graduais. Passada a fusão e a reestruturação, a indústria terá pela frente uma estrada acidentada, mas o futuro que a aguarda fará com que a viagem valha a pena.

*Jack e Suzy Welch são autores do best-seller internacional Paixão para Vencer. Para fazer perguntas aos autores, escreva para agendadolider@abril.com.br)

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