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Apps como Airbnb e Uber podem acabar com a festa do consumo dos Millenials

Enquanto tentam chegar ao lucro, empresas de tecnologia reajustam tarifas com maior demanda e término de subsídios

 (David Paul Morris/Getty Images)

(David Paul Morris/Getty Images)

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Agência O Globo

Publicado em 9 de junho de 2021 às 15h52.

Última atualização em 9 de junho de 2021 às 15h52.

Há alguns anos, durante uma viagem de trabalho em Los Angeles, chamei um Uber para um passeio pela cidade durante a hora do rush. Eu sabia que seria uma longa viagem e me preparei para desembolsar mais de US$ 60 ou US$ 70.

Em vez disso, o aplicativo informou um preço que me deixou de queixo caído: US$ 16.

Experiências como essas eram comuns durante o período entre 2012 até o início de 2020, quando muitas das atividades diárias de uma cidade grande estavam discretamente subsidiadas por capitalistas ricos do Vale do Silício.

Coletivamente, pegamos milhões de viagens baratas de Uber e Lyft, nos deslocando como a alta renda enquanto dividíamos a conta com os investidores dessas empresas.

Mergulhamos a MoviePass na falência tirando proveito de seu negócio de ingressos de cinema no qual você podia ver quantos filmes quisesse por US$ 9,95 por mês. Enchemos cemitérios com as carcaças de empresas iniciantes de entrega de comida - Maple, Sprig, SpoonRocket, Munchery - simplesmente aceitando suas ofertas de refeições gourmet a preços baixos.

Os investidores dessas empresas não se propuseram a financiar nossa extravagância. Eles estavam apenas tentando obter tração para suas start-ups, que precisavam atrair clientes rapidamente para estabelecer uma posição dominante no mercado, eliminar concorrentes e justificar suas avaliações em alta.

Então, eles inundaram essas empresas com dinheiro, que muitas vezes era repassado aos usuários na forma de preços artificialmente baixos e incentivos generosos.

Agora, os usuários estão percebendo que, pela primeira vez - seja por causa do desaparecimento de subsídios ou meramente devido ao aumento da demanda no fim da pandemia - seus hábitos de luxo na verdade têm etiquetas de preços de luxo.

“Hoje, minha viagem de Uber de Midtown para JFK me custou tanto quanto meu voo de JFK para SFO”, tuitou recentemente Sunny Madra, vice-presidente da incubadora de empreendimentos da Ford, junto com uma captura de tela de um recibo que mostrava que ele gastou quase US$ 250 em uma corrida para o aeroporto.

Serviços mais caros

Algumas dessas empresas vêm apertando o cinto há anos. Mas a pandemia parece ter esvaziado o que restava dos subsídios. A viagem média do Uber e do Lyft custa 40% mais do que há um ano, de acordo com a Rakuten Intelligence, e aplicativos de entrega de comida como o DoorDash e o Grubhub têm aumentado constantemente suas taxas no ano passado.

A taxa média diária de aluguel do Airbnb aumentou 35% no primeiro trimestre de 2021, em comparação com o mesmo trimestre do ano anterior, de acordo com os registros financeiros da empresa.

Parte do que está acontecendo é que, conforme a demanda por esses serviços aumenta, as empresas que antes precisavam competir por clientes agora estão lidando com uma superabundância deles. O Uber e o Lyft estão lutando contra a falta de motoristas, e as taxas do Airbnb refletem a crescente demanda por viagens de verão e a escassez de anúncios disponíveis.

Esses subsídios nem sempre terminam mal para os investidores. Algumas empresas apoiadas por capital de risco, como Uber e DoorDash, foram capazes de aguentar até seu IPOs (oferta pública inicial de ações, na sigla em inglês), cumprindo sua promessa de que os investidores eventualmente veriam um retorno sobre seu dinheiro.

Outras foram adquiridas ou conseguiram aumentar seus preços sem assustar os clientes.

Disciplina financeira

Ainda há muita irracionalidade no mercado e algumas start-ups gastam enormes pilhas de dinheiro em busca de crescimento. Mas, à medida que essas empresas amadurecem, elas parecem estar descobrindo os benefícios da disciplina financeira.

O Uber perdeu apenas US$ 108 milhões no primeiro trimestre de 2021 - uma mudança que pode ser parcialmente atribuída à venda de sua unidade de direção autônoma, e uma grande melhora, acredite ou não, em relação ao mesmo trimestre do ano passado, quando perdeu US$ 3 bilhões.

Tanto o Uber quanto o Lyft se comprometeram a se tornar lucrativos em uma base ajustada este ano.

Justiça

Os lucros são bons para os investidores, é claro. E embora seja doloroso pagar preços sem subsídios por nossas extravagâncias, também há certa justiça nisso.

A contratação de um motorista particular para levá-lo por Los Angeles durante a hora do rush deve custar mais de US$ 16, se todos na transação estiverem sendo compensados de forma justa.

Conseguir que alguém limpe sua casa, lave sua roupa ou entregue seu jantar deve ser um luxo, se não houver exploração envolvida. O fato de alguns serviços de ponta não serem mais facilmente acessíveis para os meramente semi-ricos pode parecer um desenvolvimento preocupante, mas talvez seja um sinal de progresso.

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