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ANS obriga Interclínicas a vender a carteira de clientes

Se os recursos obtidos com a alienação da carteira não forem suficientes para honrar as dívidas, operadora pode entrar em processo de liquidação. Repassar os clientes para outro plano de saúde não deve ser uma tarefa fácil

EXAME.com (EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h40.

A Agência Nacional de Saúde Complementar (ANS) determinou que a Interclínicas venda a carteira de beneficiários de planos de saúde num prazo de 15 dias. A decisão, que foi publicada no Diário Oficial da União desta segunda-feira (29/11), pode ser o primeiro passo para que a operadora entre em processo de liquidação extrajudicial.

Repassar a carteira para outra operadora, como determinou a ANS, não deve ser uma tarefa fácil. Em 2003, a Interclínicas era uma das 30 maiores empresas de um setor que conta com cerca de 1 000 operadoras atuantes. Mesmo com o número de associados em queda (eram 297 mil no ano passado, contra cerca de 220 mil neste ano), poucas empresas têm fôlego para absorver a carteira. "É preciso uma operadora de porte, que conheça bem o perfil da Interclínicas, para assumir os beneficiários", afirma Roberto Parenzi, sócio da Capitólio Consulting, consultoria especializada nos segmentos de previdência privada, seguros e planos de saúde.

Alguns números da operadora ajudam a afastar potenciais interessados. A taxa de sinistros, por exemplo, medida pela relação entre eventos indenizáveis e faturamento, foi de 82% em 2003. Conforme Parenzi, somente operadoras muito enxutas podem se sustentar com uma taxa dessas. Outro é a perda de clientes. Segundo dados da Capitólio, em 2003, a Interclínicas detinha 1,7% do mercado, em termos de faturamento. Com o recuo dos beneficiários, a taxa já deve ter caído cerca de 0,8 ponto percentual.

Estratégia

O objetivo da alienação da carteira é permitir que a Interclínicas obtenha recursos para quitar as dívidas junto a médicos, hospitais e fornecedores. Segundo a assessoria de imprensa da ANS, se o montante conseguido for suficiente para pagar todas as contas, a operadora poderá voltar ao mercado e iniciar novamente a venda de novos planos de saúde, recompondo sua carteira. Mas, se o dinheiro não for suficiente, a liquidação será decretada.

Embora seja teoricamente viável, a recuperação da empresa é bastante improvável, segundo Parenzi. "A venda da totalidade da carteira pressupõe o fim da operadora e sinaliza problemas financeiros talvez insolúveis, detectados pela ANS", diz.

A situação financeira da Interclínicas se deteriorou nos últimos anos. O faturamento, medido pelas mensalidades pagas pelos usuários, subiu de 364,659 milhões de reais para 405,369 milhões entre 2002 e 2003. Os gastos com o pagamento de consultas, hospitais, exames e outros procedimentos médicos (chamados no setor de eventos indenizáveis), porém, passaram de 302,303 milhões de reais para 332,321 milhões no mesmo período.

A Interclínicas também viu as despesas de comercialização e administração, bem como o déficit financeiro, aumentarem nos últimos dois anos. O resultado é que a empresa encerrou 2003 com um prejuízo líquido de 7,1 milhões de reais, enquanto fechou o ano anterior com um lucro de 5,434 milhões. Segundo Parenzi, esses resultados sugerem, inclusive, a necessidade de injeção de capital na operadora.

Dívidas

O nível de endividamento da empresa é elevado. Em 2003, o patrimônio líquido da Interclínicas era de 12,384 milhões de reais, contra um passivo total de 124,649 milhões de reais. "Isso indica que a empresa tem 0,83 centavo para pagar cada 1 real de dívida", afirma Parenzi.

A Interclínicas não é a única empresa do setor que está enfrentando problemas. Desde que os planos de saúde foram regulamentados, em 1998, a necessidade de cobrir uma série de procedimentos médicos onerou o setor e as empresas tentam cortar todos os custos para equilibrarem o orçamento.

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