Negócios

Amazon agora entrega no alto do Himalaia – e perde dinheiro

A uma altitude de 3.524 metros, Leh é o ponto mais alto do mundo onde a empresa oferece entrega rápida. Soldados e monges são grandes clientes

Himalaia: Amazon começou a oferecer entregas domiciliares na região em outubro do ano passado (Atul Loke/The New York Times)

Himalaia: Amazon começou a oferecer entregas domiciliares na região em outubro do ano passado (Atul Loke/The New York Times)

DR

Da Redação

Publicado em 13 de julho de 2018 às 12h14.

Última atualização em 13 de julho de 2018 às 13h28.

Leh, Índia – Encarapitada no alto do Himalaia, perto da fronteira da Índia com a China, a pequena cidade de Leh às vezes parece que foi deixada para trás pela tecnologia moderna. A internet e o serviço de telefonia celular são irregulares, as duas estradas que a ligam ao mundo exterior ficam cobertas de neve durante todo o inverno e mosteiros budistas competem com postos militares pelos locais do topo da montanha principal.

Mas todos os dias pela manhã a conveniência da era digital chega por avião, com uma média de 15 a 20 sacos de pacotes da Amazon.com. A uma altitude de 3.524 metros, Leh é o ponto mais alto do mundo onde a empresa oferece entrega rápida.

Quando o avião chega de Nova Délhi, é abordado por funcionários da parceira de entrega local da Amazon, a Incredible Himalaya, que então transfere os pacotes de van para um modesto armazém nas proximidades. Eshay Rangdol, 26 anos, sobrinho do proprietário, ajuda a supervisionar a organização dos pacotes e ele próprio entrega muitos deles.

Os entregadores devem seguir padrões exatos definidos pela Amazon, desde usar sapatos fechados e estar bem arrumados até estar preparados para mostrar a identidade e ter o celular sempre com a bateria carregada.

A Amazon começou a oferecer entregas domiciliares na região em outubro do ano passado, como parte de um esforço para melhor servir os cantos mais remotos da Índia. O volume das vendas em Leh cresceu doze vezes desde que a Incredible Himalaya assumiu o serviço de entrega do correio, que era muito mais lento e exigia que os clientes fossem até os postos pegar suas compras.

Parceiros que realizam entregas locais como a Incredible Himalaya são vitais para a estratégia global da empresa americana, especialmente agora que ela tenta diversificar para além das empresas tradicionais, como a UPS ou FedEx. A Amazon anunciou recentemente um programa para atrair empresas pequenas para sua rede de entregas.

Leh é geograficamente e culturalmente próxima ao Tibete, região controlada pela China. Mosteiros budistas satisfazem as necessidades religiosas de 30 mil moradores da cidade, enquanto as unidades militares guardam a fronteira ainda disputada com a China.

Rangdol e os outros entregadores chegam até os clientes através de motocicletas ou scooters. No inverno, quando a neve é intensa, usam carros. Mas duas rodas são geralmente a melhor opção para navegar por Leh e suas ruas estreitas, estradas esburacadas e vacas onipresentes.

Skalzing Dolma, cliente frequente da Amazon, foi a primeira parada de Rangdol certo dia, recebendo uma entrega de lençóis e sombra para os olhos.

Dolma comprou tudo na Amazon, desde roupas até utensílios de cozinha, e estima que tenha gasto um total de 100 mil rúpias, ou cerca de US$1,5 mil, no site. Com poucas opções em lojas locais, cosméticos e roupas são categorias de consumo populares na Amazon por aqui.

As encomendas geralmente chegam em cinco ou sete dias, mais lentas do que o prazo de dois dias que os clientes da Amazon têm nas grandes cidades, mas mais rápido que a viagem de um mês da época dos correios.

Felizmente para a Amazon, os soldados locais e os monges são grandes clientes. Thinley Odzer, monge no minúsculo mosteiro de Kartse, recebeu uma mochila. Ele já havia comprado também capinhas para celular e peças para sua moto.

Leh dificilmente parece ser o tipo de local que atrairia um gigante do comércio global on-line como a Amazon. É frequente que existam problemas com o serviço de internet – essencial para realizar um pedido. Mesmo com tempo bom, ela pode cair, e chega a ficar inteiramente inativa por semanas ou meses durante o inverno, quando a linha principal para Srinagar, a capital do estado, é danificada pela neve.

Mas a Amazon tem uma visão de longo prazo. O e-commerce está se espalhando pelo mundo e a Índia é um campo de disputa importante, onde os clientes estão apenas começando a usar lojas on-line e ainda não há grande lealdade. O Walmart anunciou recentemente planos de comprar uma participação majoritária na principal empresa de e-commerce da Índia, a Flipkart, desafiando a Amazon na atenção dos consumidores.

A Amazon talvez nunca consiga lucrar com os produtos transportados por aviões para os clientes em Leh. Mas a ideia é que os lucros de áreas urbanas densas como Mumbai e Nova Délhi subsidiarão o serviço em locais mais remotos.

“Queremos tornar a entrega conveniente onde quer que nossos clientes estejam”, disse Tim Collins, vice-presidente do setor de logística global da Amazon. “Com o tempo, a economia vai se resolver”.

A estratégia desagrada os comerciantes de Leh, como Nawang Shispa, proprietário da Tsering Electronics, que disse que suas vendas de telefones e acessórios caíram 10 por cento desde que a Amazon começou a entrega mais rápida para a comunidade.

Ainda assim, seus vendedores conseguem compensar. Um deles vendeu um novo smartphone Oppo para Jigmat Amo, 16 anos, sendo um pouco mais barato do que o preço praticado pela Amazon. Amo disse que desconfiava um pouco da Amazon depois de comprar uma bolsa e sapatilhas de balé do site que não se pareciam com as das fotos.

Liyaqat Ali, proprietário da loja geral Singay General Store na praça principal da cidade, percebeu que há espaço suficiente para ele e para a Amazon. Ele faz um negócio rápido vendendo artigos como fraldas, que as pessoas normalmente precisam de imediato.

“A Amazon é nova em Leh e a internet por aqui não é muito boa. Se você encomendar algo como fralda, vai ter que esperar de uma semana a 10 dias”, afirmou.

Rangdol disse que, além de entregar pacotes e gerir o armazém de entrega, tem ensinado as pessoas como comprar na Amazon.

“Antes de eu ter essa parceria com a empresa, meus amigos me chamavam de Eshay. Agora me chamam de Amazon”, contou.

Esse trabalho agora é certamente melhor do que seu anterior, levando turistas em longas caminhadas pelas montanhas frias – embora ele ainda tenha que subi-las com coisas pesadas nas costas.

The New York Times News Service/Syndicate – Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times.

Acompanhe tudo sobre:AmazonExame HojeÍndia

Mais de Negócios

Bezos economizou US$ 1 bilhão em impostos ao se mudar para a Flórida, diz revista

15 franquias baratas a partir de R$ 300 para quem quer deixar de ser CLT em 2025

De ex-condenado a bilionário: como ele construiu uma fortuna de US$ 8 bi vendendo carros usados

Como a mulher mais rica do mundo gasta sua fortuna de R$ 522 bilhões