Airbnb vai abrir capital em 2020. A empresa irá melhor que Uber e WeWork?
Airbnb teve Ebitda positivo nos últimos anos e tentará se salvar da onda de desconfiança que abateu startups de tecnologia na bolsa
Carolina Riveira
Publicado em 19 de setembro de 2019 às 14h43.
Última atualização em 19 de setembro de 2019 às 18h10.
Depois de Uber, Slack e WeWork, vem o Airbnb . A empresa de aluguel de imóveis para estadia temporária anunciou em comunicado nesta quinta-feira, 19, que está planejando uma oferta inicial de ações (IPO) para abrir seu capital na bolsa em 2020.
No comunicado breve, a empresa não deu mais detalhes sobre o assunto e não confirmou se já enviou a documentação necessária à SEC, comissão reguladora da bolsa de valores americana. Nathan Blecharczyk, cofundador do Airbnb, havia dito em março que a empresa estava se movimentando para um IPO e havia até mesmo uma expectativa de que a oferta acontecesse ainda neste ano.
Criada em 2008 em São Francisco, nos Estados Unidos, o Airbnb vale cerca de 31 bilhões de dólares após mais de dez rodadas de investimentos. O Airbnb chegou a valor de mercado superior a 1 bilhão de dólares apenas quatro anos depois de sua fundação, ganhando o rótulo de unicórnio.
A companhia ainda não revela números trimestrais de lucro e faturamento, mas disse que o faturamento foi superior a 1 bilhão de dólares no segundo trimestre deste ano. Anteriormente, a empresa havia dito à imprensa que o faturamento também havia sido de 1 bilhão de dólares em outro momento, no terceiro trimestre de 2018.
A agência de notícias Reuters informou que a receita da plataforma em todo o ano de 2017 superou 2,5 bilhões de dólares, aumento de mais de 50% em relação a 2016. O site de dados de startups Crunchbase também estima que o Airbnb tenha faturamento anual de 2,6 bilhões de dólares.
No Brasil, a empresa abriu seu primeiro escritório em 2012, em São Paulo, e ganhou tração sobretudo com eventos internacionais no país, como a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016. No ano passado, foram 3,7 milhões de hóspedes no Brasil.
O desafio das startups
Se confirmado, o IPO do Airbnb seria mais um em um momento de abertura de capital de startups de tecnologia. Só neste ano, chegaram à bolsa nomes como Uber e Lyft , de transporte, Zoom, de videoconferências, Pinterest , rede social de imagens e Slack, de mensagens corporativas.
Essas empresas explodiram em popularidade nos últimos anos ao aplicar tecnologia a processos comuns, como alugar uma casa ou pegar um táxi. Elas foram avaliadas em bilhões de dólares antes de chegar à bolsa, mas hoje enfrentam maior ou menor grau de desconfiança por prejuízos sequenciais em seus resultados.
A WeWork , que aluga espaços em escritórios compartilhados, planejava um IPO ainda para este ano, mas deve adiar o negócio após o mercado questionar seus prejuízos e perspectivas para o futuro. Avaliada inicialmente em 47 bilhões de dólares e bancada sobretudo pelo superfundo da empresa japonesa Softbank, a WeWork cortou o valor para menos da metade, mas não foi o suficiente para animar investidores.
Resta saber em que grupo o Airbnb ficará. Um faturamento acima de 2 bilhões de dólares, se confirmado, seria maior que o da WeWork, que faturou 1,8 bilhão de dólares em 2018, segundo números oficiais. O faturamento da Airbnb também seria maior que todas as empresas de tecnologia que abriram capital neste ano, como Slack (220,5 milhões de dólares em 2018), Pinterest (756 milhões de dólares) e Lyft (2,1 bilhão de dólares). O Airbnb só não supera a Uber, que faturou 11 bilhões de dólares em 2018.
Além do alto faturamento, o Airbnb informou que o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) foi positivo em 2017 e 2018, embora a empresa não revele os valores. Isso colocaria a companhia de hospedagem em um patamar diferente das demais startups que abriram capital recentemente.
Analistas ouvidos pela Reuters apontam que o Airbnb pode ter uma recepção mais calorosa na bolsa do que as demais entrantes. "Eu acredito que vai ser uma recepção completamente diferente para o Airbnb, assumindo que eles podem mostrar que são um negócio lucrativo sem ter de perder dinheiro em marketing", disse à Reuters Kathleen Smith, diretora da Renaissance Capital, que faz pesquisa institucional e investe em empresas com IPO recente.
Até onde é possível crescer?
A promessa das empresas de tecnologia é manter no futuro o crescimento exponencial que vêm tendo nos últimos anos e, assim, reverter os prejuízos de seus balanços. Para manter a taxa de dois dígitos de crescimento, são necessários vultuosos investimentos em marketing e expansão para novos mercados, o que aumenta os custos. Diferentes regulações no futuro também podem ser um problema -- no modelo do Airbnb, por exemplo, algumas cidades já proíbem ou dificultam a locação temporária.
O Airbnb afirma ter mais de 7 milhões de imóveis listados em sua plataforma em mais de 100.000 cidades no mundo e hospeda, emmédia, mais de 2 milhões de pessoas por dia.Um dos principais objetivos nos últimos meses vem sendo expandir seu serviço para além de grandes polos turísticos mundiais, como Londres, Paris e Nova York.
Dados divulgados em agosto por EXAME mostram que o Airbnb começa a avançar em sua descentralização. Em 2011, somente 12 cidades tinham mais de 1.000 anúncios de locação na plataforma, isto é, com ampla disseminação do Airbnb. Hoje, quase 1.000 cidades chegaram a essa faixa. Além disso, 92% de todas as chegadas de hóspedes ocorreram fora das dez maiores cidades do Airbnb. Em 2011, as cidades fora do top 10 respondiam por 60%.
Dentro desses esforços, o Airbnb disse no comunicado desta quinta-feira que lançará uma campanha de marketing multimilionária com anúncios digitais e na TV, promovendo os benefícios da hospedagem em sua plataforma.
Passada a euforia inicial com as startups, os investidores na bolsa podem estar cada vez menos dispostos a investir sem resultados. Para o Airbnb, crescer e controlar os gastos ao mesmo tempo será preciso para que seu IPO seja um sucesso.