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Agência nascida em garagem aposta em IA para mudar eventos globais

Fundada na Vila Mariana, em SP, Cuco atende marcas como Nike e Amazon e agora testa sistema próprio de automação com IA nos EUA. A meta: reduzir até 40 horas no planejamento de um único evento

Luan Teixeira e Dennis Vianêz, da Cuco Agency: eventos que provam valor para além do awareness (Divulgação/Divulgação)

Luan Teixeira e Dennis Vianêz, da Cuco Agency: eventos que provam valor para além do awareness (Divulgação/Divulgação)

Karla Dunder
Karla Dunder

Freelancer

Publicado em 15 de dezembro de 2025 às 10h58.

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Fundada literalmente na garagem de uma casa na Vila Mariana, em São Paulo, a Cuco Agency chega aos dez anos vivendo o maior salto de sua história.

A agência, especializada em brand experience e ativações, atravessou a pandemia reinventando o próprio modelo de negócio, ampliou presença internacional — incluindo os Estados Unidos, Europa e América Latina — e agora prepara o próximo ciclo: transformar processos do setor com o lançamento da Brief, plataforma de IA e automação criada para reduzir em até 40 horas o trabalho operacional de um único evento.

“No começo, éramos meninos de 20 anos tentando entregar um porte que ainda não tínhamos. E isso, dentro da garagem da minha casa”, lembra Luan Teixeira, cofundador. “A gente queria passar profissionalismo para Nike, Dior, Sephora… e foi complexo. Mas a confiança e a criatividade nos levaram a oportunidades que mudaram tudo.”

Um começo improvisado — e uma falha decisiva

Os sócios Luan Teixeira e Dennis Vianêz se conheceram na faculdade, seguiram caminhos diferentes no início da carreira — ele na Red Bull, Denis na McCann — e só depois se reencontraram com um objetivo simples: produzir um único evento. Esse primeiro projeto não deu muito certo.

Mas foi justamente esse fracasso que abriu espaço para o modelo que definiria a Cuco.

A história da Cuco começou para criar um evento só. E foi justamente na falha em executar esse evento que a gente criou o que a Cuco é hoje”, diz Dennis.

A agência nasceu com eventos autorais, como o Jazz Mansion, ainda ativo, e a partir deles passou a atender grandes marcas. “Nosso primeiro cliente corporativo foi a Nike. Era a época pré-TikTok, e nossos shareable moments viralizavam porque ninguém fazia aquilo”, conta o fundador.

Pandemia: ruptura, reinvenção e sobrevivência

Quando o setor de eventos parou em 2020, a Cuco estava em plena curva de crescimento. O choque foi imediato: redução de time, queda de receita e um mercado inteiro em pausa.

A saída foi transformar serviço em produto — criando kits enviados para as casas dos participantes e experiências híbridas com arte, música e interação.

“A gente viu que o problema das lives era falta de interação. Então pensamos: como levar a experiência para dentro da casa das pessoas?”, diz Dennis. Kits de pintura e música ao vivo por chamada de vídeo foram o primeiro teste — que depois virou ferramenta para atividades corporativas de team building e entregas em todo o Brasil, além de cidades na Argentina.

Mesmo assim, as contas quase não fechavam. “Quando a pandemia passou, a gente olhou e falou: sobrevivemos. Agora estamos mais preparados do que nunca”, diz Luan.

Do Brasil para o mundo: Estados Unidos, Europa e atuação global

O plano de internacionalização existia antes da covid, mas só ganhou força em 2022. Luan mudou-se para Palo Alto para estudar em Stanford, onde foi exposto ao ambiente de tecnologia que acelerou a visão da Cuco sobre IA, automação e escalabilidade.

O primeiro impulso global veio do próprio mercado.

Uma global events manager da Amazon disse que queria trabalhar com a gente em outros países. Foi quando percebemos que fazia sentido abrir a empresa lá fora”, lembra Luan.

A expansão rapidamente ganhou ritmo: Nova York como base, Barcelona como hub europeu, eventos executados nos EUA, Canadá, México, Reino Unido e Brasil — com clientes como Amazon Ads, Nike, Dior, Sephora e CRM no Miami Open.

A operação internacional também resolveu um gargalo histórico do setor: pagamentos.

“Receber o primeiro pagamento internacional foi uma lista de perrengues. Ter empresa fora dá segurança para nós e para os clientes”, explica Denis.

Time da Cuco Agency: eventos fora do Brasil como parte da estratégia para 2026 (Divulgação/Divulgação)

O desafio invisível: processos, cultura e escala

Ao crescer para fora, a Cuco descobriu nuances culturais que impactam profundamente a produção de eventos. Diferentes horários, hábitos, expectativas e fluxos de trabalho mudam completamente uma operação.

O que funciona em São Paulo não necessariamente funciona no Rio. Já fizemos evento às 15h no Rio e ninguém chegava — estavam na praia. Só depois do pôr do sol o evento lotou”, conta Luan.

Esse aprendizado, segundo os fundadores, deixou o time mais preparado para projetos globais — da COP em Belém a ativações para marcas americanas e europeias.

Faturamento e momento atual

Com crescimento acelerado no pós-pandemia e consolidação internacional, a Cuco chega aos 10 anos ultrapassando R$ 10 milhões em faturamento anual e estruturando hubs em três continentes:

  • São Paulo (Brasil) — sede e base criativa

  • Nova York (EUA) — presença estratégica em um dos maiores mercados de eventos do mundo

  • Barcelona (Espanha) — direção comercial e interface com a Europa

O futuro dos eventos: mensuração, side-events e tecnologia invisível

Para os próximos anos, os fundadores afirmam que o setor vai mudar menos por formatos e mais por propósito: eventos deixarão de ser apenas ferramentas de marketing e passarão a operar como mecanismos de vendas e mensuração de impacto.

Hoje o evento precisa provar valor. O awareness por si só já não sustenta uma estratégia”, diz Luan.

A dupla aponta ao menos três tendências para o próximo ano.  O primeiro é a busca por mensuração e accountability, uma pressão crescente sobre quem investe em eventos. “Por mais lindo que o evento seja, quem decide sucesso é o profissional de marketing — e ele precisa de métrica”, afirma Denis.

O segundo é a força dos side events, os eventos satélites que acontecem em torno de grandes encontros como SXSW, Web Summit, US Open e Miami Open — este último com presença da Cuco em 2026 ao lado da CRM. O terceiro é a chamada tecnologia invisível, com IA e automação atuando como copilotos, e não substitutos do trabalho criativo.

A curadoria humana será o grande diferencial de 2026. Não é a IA que substitui o videomaker — é o videomaker usando IA que entrega algo realmente bom”, diz Denis.

Brief: a aposta da Cuco para transformar o setor com IA

O próximo passo da agência é lançar a Brief, um sistema operacional criado para organizar, automatizar e integrar todas as etapas de um evento, do briefing à apresentação final. A ideia surgiu dentro da própria Cuco, a partir da dor de processos fragmentados — textos em Word, ideias presas em paredes de post-its, planilhas soltas, imagens enviadas por WhatsApp e longas threads de e-mail que dificultavam o fluxo de trabalho.

O briefing é o documento mais importante, mas ele se perde nas etapas. Cada ferramenta separa texto, imagem e número — e isso cria silos de informação”, explica Luan.

A Brief concentra tudo em um único lugar: gera o briefing automaticamente a partir da transcrição da reunião, cria brainstorms colaborativos, transforma ideias aprovadas em planilhas de produção, atualiza apresentação, budget e briefing ao mesmo tempo e reduz semanas de trabalho para poucas horas. Segundo os dados internos da Cuco, a economia média chega a 40 horas por evento, convertidas em minutos.

A IA também passou a apoiar a etapa de ilustração e 3D, permitindo testes rápidos antes de envolver projetistas e arquitetos — o que diminui custo, retrabalho e tempo de aprovação. “Antes, gerar uma imagem 3D demorava dias. Hoje, com IA, entendemos rapidamente se estamos no caminho certo, ajustamos e só depois levamos para o CAD”, diz Luan.

A plataforma está em teste com outras agências e profissionais independentes nos Estados Unidos e deve ser lançada em 2025. Para os próximos 10 anos, a visão dos fundadores combina expansão e tecnologia proprietária.

A gente não quer só colocar bandeirinhas em países diferentes. A internacionalização exige que os fundadores estejam presentes”, afirma Luan. “E agora estamos mais preparados do que nunca”, completa Denis.

Se o primeiro capítulo da Cuco foi escrito na garagem, o segundo se tornou global — e o terceiro, pelo que a empresa projeta, será guiado pela soma de criatividade, dados e tecnologia.

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