Acordo na Usiminas fica mais distante após avanço da Ternium
Analistas do banco liderados por Alexander Hacking consideram que nenhuma das partes quer sair voluntariamente da Usiminas
Da Redação
Publicado em 3 de outubro de 2014 às 11h22.
São Paulo - Um eventual acordo na briga entre os principais acionistas da maior produtora de aços planos do Brasil, Usiminas , ficou mais difícil de ser alcançado depois que o grupo Ternium anunciou na véspera compra de participação adicional na companhia, afirmaram analistas do Citigroup nesta sexta-feira.
Em relatório intitulado "Uma Declaração de Guerra?", analistas do banco liderados por Alexander Hacking consideram que nenhuma das partes --Ternium e o Grupo Nippon-- quer sair voluntariamente da Usiminas e a divisão do grupo de controle da empresa arrisca criar uma batalha legal de vários anos.
Na sexta-feira passada, disputas internas entre Ternium e Nippon envolvendo a gestão da Usiminas culminaram com a demissão do presidente-executivo da companhia, Julián Eguren, indicado pelo grupo latino-americano. Outros dois altos executivos indicados pela Ternium também foram destituídos em uma votação do conselho de administração que foi desempatada pelo presidente do órgão, Paulo Penido, alinhado à Nippon.
Segundo os analistas do Citi, o anúncio da aquisição pela Ternium da participação do fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil, Previ, na Usiminas "claramente levanta a possibilidade da Techint (Ternium) se posicionar para uma quebra no acordo de acionistas".
De acordo com os analistas, qualquer movimento nesse sentido favoreceria a ação ordinária da Usiminas em detrimento da preferencial, uma vez que o papel ordinário assegura aos acionistas minoritários o direito de recebimento de 80 por cento do preço pago por eventual comprador de ações que integram o bloco de controle da companhia através de uma oferta pública.
Na véspera, a Ternium informou que acredita que a compra da fatia da Previ não vai disparar obrigação para que faça uma oferta pública de aquisição.
O acordo de acionistas da Usiminas tem validade até 2031 e foi firmado quando a Ternium, controlada pelo grupo ítalo-argentino Techint, acordou a compra das participações de controle da Camargo Corrêa e Votorantim na siderúrgica no final de 2011. O ágio pago naquela época foi de 80 por cento, praticamente o mesmo nível do prêmio ofertado agora na compra das ações da Previ, que não participa do grupo de controle, mas tem uma vaga no conselho de administração.
A Previ teria votado a favor da demissão de Eguren e dos outros dois executivos da Usiminas, segundo analistas do Citi.
Porém, como ainda não há definição sobre possível quebra do acordo de acionistas, a compra da participação da Previ pela Ternium não garante agora ao grupo latino-americano direitos adicionais no conselho, disseram os analistas, apesar de sua participação no grupo de controle da siderúrgica subir de 27,66 por cento para 38 por cento. A Nippon detém atualmente fatia de 29,45 por cento.
"O futuro do décimo assento no conselho da Usiminas (que pertencia à Previ) pode ser interessante. A participação de 10 por cento da CSN em ações ordinárias da Usiminas é outro fator", lembraram os analistas do Citi.
Procurados, representantes da Nippon no Japão disseram que a compra dos papéis adicionais "não afetará nossos direitos na gestão da Usiminas", e que o motivo para a saída dos executivos da companhia foi porque auditorias realizadas na empresa "mostraram que eles receberam dinheiro de maneira indevida".
A Usiminas afirmou na quarta-feira que a destituição dos executivos ocorreu por problemas de falta de governança encontrados pelas auditorias. Representantes dos executivos não puderam ser contatados de imediato. Usiminas não comentou o assunto e a Ternium rejeitou as acusações.