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A queda de Dantas

O baiano Daniel Dantas protagoniza o que é provavelmente o mais intrincado imbróglio societário da história empresarial brasileira. Saiba mais sobre como Dantas...

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Da Redação

Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h40.

...ficou sem aliados

Embora não sejam os únicos em seu encalço, os executivos do Citigroup representam o maior obstáculo no caminho de Dantas. No dia 12 de abril, o Citigroup entrou com uma nova ação contra o Opportunity -- e contra Dantas pessoalmente -- em que apresenta indicações de que a instituição sofreu prejuízos por quebra de contrato e fraude durante o período em que o banqueiro se manteve como gestor do fundo CVC em oito empresas brasileiras, como Brasil Telecom e Telemig Celular. A ação pede 300 milhões de dólares para reaver esses prejuízos até agora. A discussão, no entanto, envolve o controle de companhias que valem muito mais do que isso e gira em torno de bilhões de reais. Só a Brasil Telecom estaria avaliada algo como 13 bilhões de reais. A Telemig Celular e a Amazônia, em outro bilhão.

Em toda a sua trajetória litigante, alguns dos principais escritórios de advocacia do país foram aliados importantíssimos. Nessa ala, Dantas também começa a registrar perdas. Recentemente, um de seus principais advogados, Sérgio Bermudes, deixou uma das causas mais relevantes contra os fundos de pensão. O motivo: Bermudes defendia o CVC, que antes representava os interesses comuns tanto do Opportunity como do Citigroup. Com a briga entre os sócios, o advogado teve de escolher o lado de um de seus clientes para não gerar conflito de interesse. E escolheu o Citigroup.

...se cercou de familiares

Um dos pontos que distanciam Dantas de outros banqueiros brilhantes -- como Jorge Paulo Lemann, fundador do Garantia -- é que os seus assessores mais próximos são os seus familiares desde o início da formação do Opportunity, na década de 90. Enquanto Dantas é a cabeça que articula as estratégias, a irmã Verônica Dantas executa boa parte delas. O cunhado Arthur Carvalho é descrito como uma espécie de rottweiller, que mantém os executivos alinhados às determinações de Dantas. Alguns profissionais conceituadíssimos dessa área, como o economista Pérsio Arida e Luiz Orenstein, atualmente sócio da Dynamo, tiveram uma rápida passagem pelo banco.

e se indispôs com o Citi

Antes da disputa entre Citigroup e Opportunity se tornar pública, ela já acontecia nos bastidores. Os dois bancos começaram a negociar uma saída amigável ao longo do segundo semestre do ano passado. Uma das propostas discutidas foi trocar a participação do CVC-LP e do Opportunity na Brasil Telecom com a que os dois grupos de investidores mantêm na Telemar, infinitamente menor. A participação dos dois investidores no capital total da Brasil Telecom é de 4,2%. Na Telemar, é de 1,8%. As negociações só chegaram a um único acordo desde então -- o Opportunity aceitou excluir o Citi dos termos do contrato umbrella. O Opportunity, no entanto, recusa-se a ceder em relação à exclusão dos fundos de pensão das obrigações desse contrato.

O texto do processo do Citi em Nova York descreve uma estratégia de entrincheiramento a partir daí. No início deste ano, Dantas tirou as ações das companhias em que o CVC-LP tem participação da custódia do Banco Itaú e as passou para o Opportunity. "O banco Itaú é o maior prestador de serviços de custódia do Brasil", diz a ação. "O Opportunity não oferece esse serviço para nenhuma outra empresa do mercado." Isso faz com que, para qualquer transação de venda dessa participação, o Citi dependa dos trâmites burocráticos do Opportunity. Em fevereiro deste ano, o Citi contratou o Citigate e a Trevisan para realizar uma auditoria no fundo CVC-LP. "O Opportunity se negou a fornecer os dados necessários para começar a auditoria", diz o texto da ação do Citi.

A leitura da ação do Citi contra o Opportunity leva a questionar como Dantas conseguiu se colocar numa posição tão favorável em detrimento da organização que mantém uma das equipes mais bem preparadas e realiza negócios bilionários em todo o mundo. Uma das explicações, dada por fontes próximas às negociações, é que Dantas nunca permitiu que todos os sócios -- Telecom Italia, fundos de pensão e Citi -- se reunissem. Ele se colocou desde o início como o melhor interlocutor entre todos. "E depois só jogava uma parte contra a outra", diz essa fonte.

Com uma estrutura de participação acionária complexa -- que no caso da Brasil Telecom envolve uma cadeia com cinco estágios de controle -- ele conseguiu articular uma maneira de ter um direito a voto desproporcional em relação à participação direta que tem nas empresas. Um exemplo é a cadeia societária da Brasil Telecom. Num dos níveis de controle, a Telecom Italia tem 37,99% do capital total e a Timepart, uma empresa do Opportunity, tem 0,03%. Mesmo assim, as duas empresas têm respectivamente, 19% e 62% do capital votante. Para assinar contratos assim, ele também teria contado com a boa fé ou a desatenção de executivos tarimbados.

De fato, em todos os casos em que se envolveu em disputas com os sócios, a saída apontada por Dantas era comprar a participação do oponente. Isso aconteceu primeiro com os canadenses, depois com o Citi e mais tarde com os argentinos da Cometrans, sócio do Metrô Rio, que opera as linhas da cidade do Rio de Janeiro. No caso dos argentinos, Dantas teria chegado a oferecer 3 milhões de dólares por uma participação em que os argentinos investiram 30 milhões de dólares.

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