Negócios

A maior aposta que a Amazon já fez no mundo físico

Aquisição da Whole Foods Market por 13,7 bilhões de dólares pode transformar o setor de supermercados, segundo analistas

Amazon: ainda que paradoxal, as investidas da varejista no mundo físico fortalecem ainda mais sua operação digital (Andrew Harrer/Bloomberg)

Amazon: ainda que paradoxal, as investidas da varejista no mundo físico fortalecem ainda mais sua operação digital (Andrew Harrer/Bloomberg)

Karin Salomão

Karin Salomão

Publicado em 16 de junho de 2017 às 16h59.

Última atualização em 16 de junho de 2017 às 17h24.

São Paulo - A Amazon, maior companhia de comércio eletrônico do mundo, fez hoje sua maior aposta no varejo físico, com a compra da rede norte-americana de supermercados Whole Foods Market. O negócio pode mudar radicalmente o setor de supermercados, da mesma forma que a gigante transformou as livrarias e o comércio eletrônico, segundo analistas.

Trata-se da maior compra da história da Amazon. O valor da aquisição, de 13,7 bilhões de dólares ou 42 dólares por ação representa um prêmio de 27% em relação ao valor de fechamento e também inclui as dívidas da adquirida.

Com vendas de 16 bilhões de dólares em 2016, a rede Whole Foods Market “tem satisfeito, encantado e nutrido consumidores por quase quatro décadas. Eles estão fazendo um ótimo trabalho e queremos que isso continue”, disse a Jeff Bezos, presidente da Amazon em nota. Com a adição desse faturamento ao balanço da companhia, vendas de perecíveis se torna um de seus maiores negócios.

A marca continuará existindo e John Mackey, cofundador e presidente da Whole Foods Market, continuará no cargo. A sede, em Austin no Texas, também não deverá mudar. A aquisição ainda está sujeita à análise dos acionistas da rede e de aprovações regulatórias.

Não é a primeira investida da gigante no setor de supermercados, mas é certamente a mais impactante. Ela já vinha desenvolvendo serviços e protótipos para entrar nesse setor.

Compras em supermercados representam cerca de 15% dos gastos anuais das famílias nos Estados Unidos, disse Robin Sherk, vice-presidente sênior da Kantar Retail, consultoria de varejo. "Compras e itens perecíveis são um foco estratégico muito importante para a Amazon. Capturar esses gastos é capturar viagens semanais e share of mind", disse, por e-mail, a EXAME.com.

Segundo o banco JP Morgan, “com o tempo, acreditamos que a Amazon pode trabalhar para transformar a experiência física no varejo”. “Estamos vendo sinais muito iniciais através das livrarias da Amazon e a loja Amazon Go, em Seattle”, afirmou, em relatório.

Digital fortalecida

Para a Amazon, a compra é um passo muito maior na direção do setor de supermercados e do mundo físico do que a companhia vinha fazendo até então, com algumas experimentações revolucionárias.

E, ainda que pareça paradoxal, as investidas da varejista no mundo físico podem fortalecer mais sua operação digital.

Segundo o banco de investimentos Piper Jaffray, os principais ganhos da Amazon com a aquisição são o logístico e a maior proximidade com os consumidores, que tende a fortalecer sua operação de entrega de produtos frescos.

A expansão deverá ocorrer principalmente com a marca Amazon Fresh. O serviço foi lançado em 2007 e oferece mais de 500.000 itens frescos, como alimentos, para entrega no mesmo dia ou manhã seguinte. Custa 14,99 dólares por mês e está aberto apenas para membros Prime, assinatura anual com diversos benefícios.

A entrega está disponível apenas em cerca de 20 cidades nas regiões de Seattle, norte e sul da Califórnia, Nova York e Philadelphia, cerca de 20% a 30% da população dos Estados Unidos, de acordo com a análise do banco.

Com a incorporação das mais de 460 lojas da Whole Foods espalhadas pelos Estados Unidos, Canadá e Reino Unidos, a cobertura para a entrega de produtos frescos da Amazon se torna quase nacional, especialmente entre a população de maior renda.

As lojas poderão servir como estoque e pontos de distribuição. "Acreditamos que a Amazon pode, portanto, lançar cobertura nacional de entrega de suprimentos dentro de 12 a 18 meses", diz o relatório.

Outras iniciativas da gigante no setor também incluem a Amazon Fresh Pickup, retirada gratuita de itens de supermercado em duas localidades, Prime Now, entrega de alguns produtos frescos em até duas horas em mais de 30 cidades e Amazon Go, supermercado tecnológico sem caixas ou checkout, com pagamento diretamente pelo celular, serviço ainda está em fase de testes.

O banco JP Morgan acredita que, no longo prazo, a companhia poderá implementar a tecnologia Amazon Go, de compras sem caixas, nas lojas Whole Foods, diminuindo consideravelmente os gastos operacionais e com funcionários.

Livraria digital e física

A transformação que analistas preveem para o setor de supermercados já ocorreu com o setor de livros. Criada como uma vendedora de livros pela internet em 1994, a Amazon cresceu tanto que levou diversas livrarias a fechar lojas.

Em novembro de 2015, ela abriu sua primeira livraria física em Seattle, cidade sede da companhia e berço de várias de suas inovações.

Mais do que vender livros, o objetivo das lojas Amazon Books é fortalecer a venda dos dispositivos da própria companhia como o leitor de e-books Kindle, e os dispositivos Amazon Fire TV, Echo e Echo Dot, ligados à assistente virtual Alexa.

"Acreditamos que livrarias, por exemplo, são uma excelente forma para os consumidores interagirem com nossos dispositivos, verem, tocarem e brincarem com eles e se tornarem fãs, então vemos um grande valor nisso", disse o diretor financeiro Brian Olsavsky durante a apresentação de resultados da empresa.

Com faturamento de quase 90 bilhões de dólares e planos ambiciosos, a Amazon está, de fato, ganhando muito valor.

Acompanhe tudo sobre:AmazonFusões e AquisiçõesInovaçãoSupermercados

Mais de Negócios

Projeto premiado da TIM leva cobertura 4G a 4.700 km de rodovias

De Hard Rock a novo shopping em Santos: os planos do Grupo Peralta para o litoral de SP

Cadeias de fast food 'reféns' de robôs? CEO de rede responde

BPool projeta R$ 200 milhões em 2024 com marketplace da indústria criativa