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A Lifan está na torcida pelas rivais

Michele Loureiro Esqueça toda aquela história de que é proibido torcer pela concorrência. Na Lifan, montadora chinesa que vende seus veículos há cinco anos anos no Brasil, os concorrentes são parte da estratégia. Segundo Jair Leite de Oliveira, diretor comercial da Lifan no Brasil, a credibilidade é um dos principais fatores para a venda de […]

FÁBRICA DA LIFAN NA CHINA: no Brasil, a montadora focou nos modelos mais caros, e está se dando melhor que as rivais / China Photos/ Getty Images (China Photos/ Getty Images/Getty Images)
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Da Redação

Publicado em 9 de agosto de 2016 às 13h23.

Última atualização em 22 de junho de 2017 às 18h23.

Michele Loureiro

Esqueça toda aquela história de que é proibido torcer pela concorrência. Na Lifan, montadora chinesa que vende seus veículos há cinco anos anos no Brasil, os concorrentes são parte da estratégia. Segundo Jair Leite de Oliveira, diretor comercial da Lifan no Brasil, a credibilidade é um dos principais fatores para a venda de veículos chineses. “Os consumidores enquadram todas as montadoras chinesas em um mesmo patamar. Quando uma das montadoras não vai bem, a reputação de todas é comprometida”, afirma.

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Segundo Oliveira, as recentes notícias negativas sobre a Jac Motors, que nunca tirou sua fábrica baiana do papel, e da Chery, que suspendeu a produção de veículos na fábrica de Jacareí (SP), acertaram em cheio os negócios da Lifan. “Apesar de estarmos em um cenário diferente, o consumidor acaba se sentindo inseguro para comprar um carro chinês. Por isso, estamos sempre na torcida por nossos concorrentes”, diz.

Para a marca, a reputação é tão importante que grande parte da equipe de 130 pessoas alocada em Salto, no interior de São paulo, incluindo expatriados da China, cuida da resolução de problemas apontados no site Reclame Aqui. “Ninguém compra um carro, especialmente chinês, sem consultar a internet. Por isso, nos dedicamos para mostrar a qualidade dos nossos serviços nesse canal”, afirma Oliveira.

Estratégia diferente

Apesar de brigar pela mesma fatia do bolo das chinesas no Brasil, a Lifan tem um posicionamento bem diferente das compatriotas. A marca é reconhecida na China por ser a maior fabricante de motores de motocicletas do mundo, com cerca de 12% do volume total. O negócio de automóveis só ganhou forma na última década, quando a companhia listada na Bolsa de Xangai resolveu diversificar o negócio. “Ainda estamos aprendendo a fazer automóveis, mas estamos melhorando constantemente”, afirma Oliveira. Sabendo de suas limitações, a companhia nunca almejou ser grande, uma vantagem especialmente tratando-se se do cíclico mercado automotivo brasileiro.
A Lifan tem uma estratégia no mínimo curiosa: estar onde ninguém quer estar. Não é à toa que as fábricas da marca estão instaladas no Irã, Etiópia, Rússia, China e Uruguai. A receita para se consolidar nesses mercados é justamente ser pequena, a exemplo de como a montadora se instalou por aqui.

No fim de 2009 o empresário Eduardo Effa fez um acordo comercial com a montadora e tornou-se representante oficial da Lifan no Brasil comercializando apenas dois modelos: uma cópia do BMW Mini Cooper, Lifan 320, e o sedan 620. Foram 4.000 unidades vendidas entre 2010 e 2011, número que saltou aos olhos da montadora na China. Problemas fiscais do importador e também no pós-venda fizeram a matriz assumir as rédeas da operação depois de uma intensa negociação que durou cerca de oito meses. “Ficamos sete meses sem vender um único carro, só resolvendo problemas de insatisfação dos clientes”, diz.

Depois de arrumar a casa, em maio de 2013 a Lifan começou a mudar o jogo ao iniciar as vendas do SUV X60, o carro chinês mais vendido no Brasil – custa a partir de 62.000 reais. “Não quisemos competir no segmento de entrada. Sabíamos que não éramos grandes para isso e optamos por um segmento que era monopolizado por apenas dois modelos na época”, diz Oliveira. Entre 2014 e 2015, a Lifan vendeu 10.000 carros no Brasil, e o país virou seu terceiro maior mercado.

Mas a crise que arrasou os negócios das outras montadoras chinesas também chegou para a Lifan. No auge da operação, a marca tinha 55 concessionárias no país. Dez delas fecharam as portas. As vendas acompanham a queda do mercado, de 25%, e somam pouco mais de 2.000 unidades até julho deste ano. A marca pretende comercializar 4.000 veículos de seis modelos neste ano, 1.000 a menos do que em 2015. Pode parecer pouco, mas quanto menor a ambição, menor o tombo. Na época da euforia, a JAC chegou a vender cerca de 24 000, e a Chery, 22 000. Hoje está todo mundo vendendo tão pouco quanto a rival com pouca ambição.

“O tombo não foi maior porque a Lifan se posicionou como montadora de baixo volume e não instalou unidade fabril no país. Decisão acertada quando se chega em um mercado novo”, afirma Leandro Baptista, consultor independente do mercado automotivo.
Uma outra vantagem da companhia é ter resolvido seus problemas com o sócio local, uma das maiores dificuldades dos chineses. Um estudo divulgado pela MA8 Management Consulting Group, empresa de consultoria especializada no setor automotivo, afirma que as fabricantes chinesas de automóveis são as que mais encontram dificuldades de adaptação no Brasil por problemas de rejeição do consumidor aos produtos, das dificuldades de se relacionar com parceiros comerciais e costumes ocidentais. “A trajetória da chegada da empresa no país, apesar de conturbada, já eliminou os problemas comerciais”, avalia Baptista.

Agora a Lifan olha para frente. No salão do automóvel de novembro, em São Paulo, a companhia apresentará uma nova versão de sua estrela, o X60, além do X80, um SUV grande que será testado por aqui. Até agora, menos foi mais para a Lifan. O risco é os novos modelos mudarem o que está dando certo.

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