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A bilionária Movile, dona do iFood, quer sua atenção total. Terá?

A companhia recebeu novo aporte para, entre outros desafios, criar um super aplicativo brasileiro. Para chegar lá, terá que competir com gigantes

Escritório do iFood em Campinas: isoladamente, os negócios da Movile são um sucesso (Movile/Divulgação)

Escritório do iFood em Campinas: isoladamente, os negócios da Movile são um sucesso (Movile/Divulgação)

LA

Lucas Amorim

Publicado em 12 de julho de 2018 às 12h45.

Última atualização em 12 de julho de 2018 às 13h25.

A quinta-feira (12) começou com mais uma notícia de grande aporte no movimentado mercado brasileiro de tecnologia. A Movile, dona de aplicativos como iFood, Rapiddo e PlayKids, anunciou ter recebido um investimento de 124 milhões de dólares de seus sócios, o grupo sul-africano Naspers e o fundo Inova Capital, do empresário Jorge Paulo Lemann.

Com mais de 1.600 funcionários no Brasil, Argentina, Colômbia, Estados Unidos, França, México e Peru e faturamento anual estimado em 1 bilhão de reais, a Movile é um dos maiores sucessos do mercado digital brasileiro. A companhia é a segunda que mais recebeu aportes de investidores no país. Foram 375 milhões de dólares, ante 528 milhões de dólares da empresa de pagamentos Nubank. Seu valor de mercado já é estimado em mais de 1 bilhão de dólares.

Isoladamente, os negócios da Movile são um sucesso. O problema é juntar tudo isso. Um dos principais objetivos da Movile é unir seus aplicativos embaixo de uma grande marca, a Rapiddo, e criar com isso um super aplicativo brasileiro. Segundo executivos e consultores ouvidos por EXAME, o desafio será enorme.

A inspiração é a empresa chinesa de internet Tencent, que também tem o Naspers como sócio. Criada há 20 anos, a Tencent vale 450 bilhões de dólares e tem quase 1 bilhão de clientes que utilizam compulsivamente seu principal aplicativo, o WeChat, para fazer de tudo — mandar mensagens, agendar uma consulta médica, transferir dinheiro, marcar um encontro. O modelo inspirou a Movile.

Desde o ano passado a companhia passou a direcionar seus investimentos para o Rapiddo, até então um aplicativo de entregas, num agregados de serviços e produtos. A ideia é que as pessoas usem um só aplicativo para gerenciar tanto serviços online quanto offline, modelo também usado pela indiana Paytm. Seria possível, assim, pedir comida, ouvir música (pelo app SuperPlayer), comprar ingressos (pelo Sympla) e ainda recarregar o celular, fazer pagamentos e outros serviços.

A Movile tem uma vantagem de não ter um concorrente direto no Brasil. Mas a maior dificuldade, segundo analistas, será criar nos brasileiros uma recorrência no uso do Rapiddo. “É preciso ter um aplicativo que funciona como a coluna vertebral, utilizado muitas vezes por dia. O WeChat começou com um serviço similar ao Messenger, o que facilitou a conquista de outros mercados. A Movile não tem isso”, afirma um executivo do mercado de tecnologia.

Criar essa “coluna vertebral” a essa altura do campeonato será especialmente difícil porque o brasileiro é um usuário de smartphones disperso. Segundo relatório da App Annie, uma empresa de pesquisas digitais, em 2017 os brasileiros tinham mais de 80 aplicativos instalados em seus telefones, e usavam mais de 40 todos os meses. A cada 24 horas os brasileiros abrem 12 aplicativos, em média, um recorde mundial à frente de Índia e China.

A dispersão é também uma oportunidade, claro. A questão é por qual caminho as empresas conseguirão concentrar a atenção dos brasileiros. Criar um serviço de mensagens para competir com Facebook e WhatsApp está fora de questão. Uma porta de entrada, avaliam especialistas, seria criar uma carteira digital — um app que permita aos usuários fazer pagamentos, transferir dinheiro, fazer compras, etc.

É um mercado ainda em aberto, mas com uma disputa ferrenha, com competidores de três grupos: serviços de mensagem, bancos e fintechs e sites de comércio eletrônico. “Esses grupos vão competir cada vez mais diretamente. E a grande pergunta é em qual empresa os clientes vão depositar sua confiança”, diz Paulo Humberg, presidente da empresa de investimentos em internet A5.

Entre as maiores apostas, o varejista online Mercado Livre investe para fazer de seu serviço de pagamentos, o Mercado Pago, um negócio líder tanto on quanto offline. O Itaú lançou recentemente um serviço que permite transferências via WhatsApp. A varejista Lojas Americanas criou uma carteira eletrônica para ser usada em seu site, em lojas físicas e, se tudo der certo, também em concorrentes.

Fora do Brasil, Amazon, Google e Facebook também investem nesse mercado de pagamentos. A Movile tem mais 124 milhões de dólares à disposição para ganhar a corrida dos super aplicativos. Competição não vai faltar.

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