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A ambição global da Didi, nova dona da 99

A compra do aplicativo brasileiro é mais uma mostra de que a companhia chinesa vai brigar com o Uber para dominar o mercado de transportes mundo afora

99: empresa investe em corridas por whatsapp (Facebook/99Táxis/Divulgação)
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Da Redação

Publicado em 4 de janeiro de 2018 às 17h30.

Última atualização em 4 de janeiro de 2018 às 21h20.

A compra do aplicativo de transportes brasileiro 99 pela chinesa Didi Chuxing trouxe uma grande notícia para o mercado empreendedor local: temos, enfim, um unicórnio no mercado de tecnologia, aquela startup com 1 bilhão de dólares de valor de mercado. A aquisição foi fechada por cerca de 960 milhões de dólares e avalia a brasileira em 1 bilhão de dólares, segundo a coluna do jornalista Lauro Jardim no jornal O Globo. AS empresas não confirmaram os valores.

É o ápice de uma surpreendente ascensão da 99, que há pouco tempo duelava pela liderança do mercado de táxis com a rival Easy. Em janeiro do ano passado, a Didi comprou uma participação minoritária na empresa por cerca de 100 milhões de dólares, ou 320 milhões de reais na cotação da época. Em rodadas anteriores, a 99 já havia recebido investimentos dos fundos Monashees, Tiger Global e Qualcomm Ventures. Agora, a DiDi adquiriu o controle da companhia criada em 2012 por Paulo Veras, Renato Freitas e Ariel Lambrecht.

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Mas a aquisição marca sobretudo uma ação decisiva da Didi para expandir sua dominação para muito além da China. É mais uma mostra de que a companhia vai brigar com o Uber para dominar o mercado de transportes mundo afora. Fundada em 2012 como um aplicativo para táxis, a Didi entrou em novos nichos de mercado, como carros particulares, ônibus e, desde 2016, bicicletas, com o investimento na empresa de aluguel Ofo (que sozinha já vale 3 bilhões de dólares).

Com estimados 50 bilhões de dólares de valor de mercado, a Didi é a segunda startup mais valiosa do mundo, atrás apenas, justamente, do Uber. A sede da companhia, no pólo tecnológico de Zhongguancun, em Pequim, tem biblioteca, terraços verdes e até um escorregador. É uma roupagem ocidental para tentar justamente dominar o ocidente.

A Didi atende, atualmente, mais de 1.000 cidades, atingindo mais de 60% da população mundial, mas boa parte desses clientes está na pátria mãe. A companhia conta com mais de 25 milhões de corridas, 21 milhões de motoristas e proprietários de automóveis gerando renda na sua plataforma.

Para Cheng Wei, fundador da chinesa Didi, os investimentos e aquisições de outras empresas já fortes nos mercados locais contribuem para a tão desejada “conquista do mundo”. “A globalização da operação é uma prioridade estratégica para a DiDi”, diz. Desde sua fundação, a companhia já adquiriu cinco empresas e investiu em mais de 14, dentre elas a americana Lyft e a própria brasileira 99.

Desde janeiro do ano passado a DiDi já demonstrava interesse na empresa brasileira, ao se tornar uma investidora estratégica da 99. Ao longo do ano, as duas empresas estreitaram suas relações, sobretudo nas áreas de tecnologia, inovação de produtos, desenvolvimento de mercado e gerenciamento operacional.

O processo de expansão internacional ganhou força com a parceria com a americana Lyft, em setembro de 2015. Na época, a Didi investiu 100 milhões de dólares na empresa. Em agosto de 2016, a Didi adquiriu o Uber China e se firmou como a líder incontestável em seu país de origem.

A Didi injetou 2 bilhões de dólares na líder do sudeste asiático, a Grab, em julho de 2017. E em agosto, a Didi afirmou que começaria um investimento na empresa Taxify, fundada na Estônia e que atua no continente europeu e africano. Alegando que o financiamento iria ajudar no desenvolvimento da empresa, o objetivo da Didi era fazer parte da empresa que quer se tornar a número um na Europa e também na África.

Além dessas aquisições, a companhia tem parceria com a Careem, que atua no Oriente Médio, e com a Ola, que atua na Índia. Duas semanas antes de anunciar a aquisição do controle da 99, a Didi tinha anunciado que iria atuar na ilha de Taiwan, convocando, pela rede social Facebook, novos motoristas e usuários.

Dinheiro, na teoria, não é problema para os chineses. Em dezembro do ano passado, por exemplo, o grupo japonês Softbank concedeu um aporte de 4 bilhões de dólares à companhia. Junto com um investimento da Mubadala, fundo estatal de Abu Dhabi, o aporte elevou o caixa da companhia para 12 bilhões de dólares.

Outra prioridade dos chineses, além da expansão geográfica, é a inovação. Em 2016, a Didi inaugurou um centro de pesquisa em Inteligência Artificial no Vale do Silício, nos Estados Unidos, e já mostrou interesse em investir em carros elétricos. O desenvolvimento faz parte do plano de expansão territorial, como afirma o fundador da companhia. “Com investimentos pesados em inteligência artificial e soluções avançadas de transporte, continuaremos a redefinir a mobilidade global e a própria indústria automotiva; seguiremos promovendo iniciativas e parcerias internacionais diversificadas”, afirma Wei.

“Durante muito tempo os chineses copiaram os americanos. Agora, os americanos têm que aprender cada vez mais com os chineses”, diz Paulo Humberg, fundador da empresa de investimentos em tecnologia A5.

Em uma corrida contra sua principal rival, o Uber, a companhia chinesa iniciou 2018 a cem por hora. Enquanto o Uber luta para reconquistar sua reputação e se encaixar na regulamentação em países onde já atua (como no Brasil e na Europa), a Didi já fechou negócio num mercado decisivo para suas pretensões – além da América Latina, outro foco é a Ásia.

“Somos uma empresa global de tecnologia que por acaso nasceu na China”, disse Haichen Wang, diretor de estratégia da Didi, em entrevista a EXAME em 2017. A companhia não concedeu entrevista sobre a compra da 99.

A julgar pelos primeiros dias de 2018, este será o ano da expansão da 99, e da reconstrução do Uber, que acumulou escândalos em 2017. Quem leva a melhor?

*Com reportagem de Carolina Pulice

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