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3 pontos para entender o que está em disputa na greve dos petroleiros

Petroleiros querem a revisão da política de preços da Petrobras e o fim do programa de desinvestimentos. Entenda o que está em jogo.

Greve dos petroleiros em Duque de Caxias, refinaria da Petrobras (Ricardo Moraes/Reuters)

Greve dos petroleiros em Duque de Caxias, refinaria da Petrobras (Ricardo Moraes/Reuters)

Mariana Desidério

Mariana Desidério

Publicado em 30 de maio de 2018 às 13h45.

Última atualização em 30 de maio de 2018 às 13h46.

São Paulo – A greve dos petroleiros, iniciada hoje, não é uma paralisação comum. Em vez de reivindicarem aumentos salariais ou outros benefícios, os grevistas querem mudanças na condução da Petrobras e pedem a saída do presidente da empresa Pedro Parente.

Com duração prevista de 72 horas, a paralisação pode agravar a crise que assola o país, após a greve dos caminhoneiros. A paralisação foi considerada ilegal pela Justiça, o que pode render multa diária de R$ 500 mil à FUP (Federação Única dos Petroleiros).

Dentre as reivindicações dos grevistas estão a revisão da política de preços da Petrobras, o fim do programa de desinvestimentos da estatal e a revisão da importação de derivados de petróleo. No limite, o que está em disputa são visões diferentes sobre o que é melhor para a estatal e para o país.

O site EXAME entrevistou especialistas para discutir esses pontos levantados pelos petroleiros. Veja a seguir:

Política de preços

Uma dos principais pontos criticados pelos petroleiros é a política de preços adotada pela atual gestão da Petrobras. Por essa política, a estatal passou a seguir as cotações do dólar e do petróleo no mercado internacional para definir os preços dos combustíveis. Com isso, os preços da gasolina e do diesel podem ter ajustes até diários.

A opção por esse modelo é um contraponto à política vigente no governo Dilma Rousseff, que represava os preços dos combustíveis como forma de segurar a inflação, o que rendeu prejuízos à Petrobras.

Apesar de ajudar a empresa a sair do vermelho, a atual política onera o consumidor e está na origem da paralisação dos caminhoneiros, que causou uma crise de desabastecimento em todo o país. Segundo os petroleiros, a Petrobras, como estatal, deveria proteger o mercado interno da volatilidade do mercado internacional.

O especialista em petróleo e ex-engenheiro da Petrobras Paulo César Ribeiro de Lima tende a concordar com os grevistas. “O custo de produção do óleo diesel é de R$ 0,93 por litro. A Petrobras sempre vendeu acima disso. Hoje, a margem da empresa está em 126% com a redução para R$ 2,10 [redução no preço durante 15 dias, anunciada pela empresa para atender os caminhoneiros]. Se ela reduzir para R$ 1,40 ainda vai ter uma margem de lucro de 50%. A Petrobras deixa de ganhar, mas não tem prejuízo”, diz.

Já para Pedro Guilherme Lima, analista da Ativa Investimentos, a opção por seguir a cotação do dólar e do petróleo é acertada. Afinal, o petróleo é uma commodity e tem preços definidos no mercado internacional. O problema é a periodicidade com que são feitos os reajustes, que hoje podem ser até diários. “De fato, fazer ajustes com uma periodicidade pequena prejudica o custo do frete. A política não deve ser questionada, mas a periodicidade deve ser ajustada, para que a política de preços fique em linha com os interesses de todos os envolvidos”, diz.

Para Pedro Paulo Silveira, economista-chefe da Nova Futura Investimentos, é preciso admitir que a atual política de preços atende às demandas dos acionistas, mas gerou revolta no mercado consumidor. “O que seria desejável é que a Petrobras encontre um meio-termo. Uma política de preços que consiga ser proativa no sentido de recuperar a capacidade econômica da empresa, e que seja viável para seus consumidores. Não vai ser o sonho do mercado, e não vai ser a solução de todos os problemas dos caminhoneiros”, afirma.

Programa de desinvestimento

Outro ponto questionado pelos petroleiros é o programa de desinvestimento da Petrobras. Pedro Parente assumiu a Petrobras com alta alavancagem (relação entre a dívida da empresa e seus resultados) e após a estatal registrar quatro anos seguidos de prejuízo.

Uma das estratégias definidas por ele para sanar as contas da empresa e diminuir sua dívida foi a venda de ativos. Dentre os ativos previstos para venda estão algumas refinarias da estatal. A ideia é que a Petrobras foque seus esforços no que sabe fazer melhor, que é a extração do petróleo.

Além de ajudar nas contas da empresa, Parente defende que o processo permitirá troca de tecnologia com outras empresas e trará aprendizado do ponto de vista de compliance – algo que, depois do escândalo da Lava Jato, é fundamental para a sobrevivência da estatal.

Os petroleiros questionam essa política e acusam Parente de promover o “desmonte da empresa”.

Para o especialista Paulo César Ribeiro de Lima, não há problema em querer reduzir a dívida da estatal, que de fato era muito alta. Porém, a gestão atual tem, segundo ele, uma “pressa excessiva” em resolver a questão, o que prejudica a empresa. “A Petrobras é uma máquina de fazer dinheiro. Não há necessidade em querer fazer a desalavancagem em dois anos, como quer o Parente. É possível fazer em cinco anos e preservar o patrimônio da empresa”, diz.

Já o economista da Nova Futura Investimentos , Pedro Paulo Silveira, afirma que, de fato, o momento atual é de investir. “Num ciclo de alta de petróleo, eu estaria comprando ativo. Não sei se foi uma estratégia adequada abandonar investimento com o mercado em alta. É um momento de apertar o acelerador e fazer investimento. É o que todas as empresas lá fora estão fazendo”, avalia.

Pedro Guilherme Lima, analista da Ativa Investimentos, concorda que o momento é de investir, mas lembra que não se pode ignorar a situação específica da Petrobras. “O caso da Petrobras é singular: a empresa passou por interferências nos governos anteriores, e estava com alta alavancagem. Era preciso reduzir isso”, diz.

Importação de derivados de petróleo

Os petroleiros questionam também a opção da Petrobras em reduzir a atividade em refinarias próprias e comprar derivados de petróleo no mercado internacional. Com o preço do petróleo em alta, a estratégia, segundo eles, prejudica o consumidor.

“A Petrobras deveria aumentar nossa capacidade de refino e importar o mínimo necessário. Dessa forma ficaríamos menos a mercê do preço internacional. A Petrobras tem capacidade para produzir quase todo o petróleo de que precisamos”, defende José Maria Rangel, coordenador da FUP (Federação Única dos Petroleiros).

Porém, para Pedro Paulo Silveira, da Nova Futura Investimentos , há dois pontos a serem considerados nesta questão. O primeiro é a qualidade do petróleo produzido aqui. Segundo ele, mesmo com grande capacidade produtiva, o Brasil tem necessidade de importar derivados mais leves de petróleo.

Outro ponto é o custo de se manter uma economia fechada, caso a Petrobras optasse por produzir e vender apenas no mercado interno. “Se fosse feito dessa forma, produziríamos uma economia fechada. Isso inibe o crescimento. Todos os indicadores mostram que, para a economia crescer, tem que ter liberdade de comércio”, afirma.

As divergências de opinião entre os especialistas mostram que a situação da Petrobras é extremamente complexa. O desafio é encontrar um caminho que atenda de forma equilibrada e responsável às demandas.

 

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