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Zelensky busca apoio na Casa Branca em meio a dificuldades no front e tensão com aliados

Clima político durante a visita a Washington será diferente desde a última vez que o presidente ucraniano visitou a capital americana

Zelensky: Presidente da Ucrânia encara grandes desafios para oficializar a paz com a Rússia (Spencer Platt /Getty Images)
Agência o Globo

Agência de notícias

Publicado em 21 de setembro de 2023 às 12h22.

Após uma participação na Assembleia Geral da ONU marcada pela condenação à guerra e uma esperada reunião bilateral com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Volodymyr Zelensky deixou Nova York e partiu para Washington, nesta quinta-feira, para sua segunda visita à Casa Branca desde o começo do conflito no Leste Europeu.

A reunião de cúpula com Joe Biden surge como uma tentativa de Zelensky de reforçar os laços com a aliança ocidental, principal base de apoio de Kiev, em um momento em que divergências internas começam a se tornar públicas.

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O presidente ucraniano confirmou a chegada a Washington em uma publicação nas redes sociais na manhã desta quinta. Zelensky disse estar acompanhado pela primeira-dama, Olena, e classificou como importantes os compromissos marcados para o dia — além de Biden, ele se encontra também com legisladores americanos, que detêm a "chave do cofre" para novos pacotes de ajuda externa.

"Noite passada, a Rússia lançou outro ataque massivo de mísseis na Ucrânia. Eu agradeço aos nossos socorristas por sua resposta imediata. Temos que trabalhar juntos para privar totalmente a Rússia do seu potencial terrorista. Nas minhas reuniões, defesa aérea estará entre as prioridades", escreveu Zelensky na X (anteriormente, Twitter).

A visita ocorre em um momento em que as pesquisas detectam um cansaço crescente com a guerra entre o público americano, que está focado nos problemas internos, e enquanto dezenas de republicanos dizem que se opõem ao último pedido de Biden — US$ 24 bilhões (R$ 118 bilhões) para recursos militares e humanitários adicionais à Ucrânia .

O presidente da Câmara, Kevin McCarthy, cuja posição é ameaçada por uma ala de extrema direita do partido que se opõe à ajuda à Ucrânia, planeja ter uma reunião privada com Zelensky, mas não convocará um fórum para ele se dirigir aos deputados na quinta-feira.

— Onde está a prestação de contas pelo dinheiro que já gastamos? — disse McCarthy a repórteres na terça-feira. — Qual é o plano para a vitória? Acho que é isso que o público americano quer saber.

Além do avanço lento da contraofensiva ucraniana neste ano, que mina a confiança de que o país será capaz de retomar totalmente os seus territórios, uma onda de críticas sobre a corrupção de autoridades ligadas às Forças Armadas e ao governo de Kiev corroeram a confiança ocidental. Zelensky tomou ações enérgicas sobre o tema nos últimos meses, demitindo uma série de oficiais e trocando o comando da Defesa.

De acordo com John Kirby, o porta-voz da Casa Branca, Biden tentará obter de Zelensky uma “perspectiva de campo de batalha” sobre a guerra. O apoio à Ucrânia é uma peça central da política externa do presidente americano, que continuou a fornecer ajuda usando fundos previamente aprovados, e o secretário de Defesa Lloyd J. Austin anunciou esta semana que os tanques americanos M1 Abrams chegariam em breve à Ucrânia.

Em busca de novas armas

A Ucrânia tem feito lobby para que os EUA forneçam uma arma poderosa chamada Sistema de Mísseis Táticos do Exército, conhecido como ATACMS (pronuncia-se “attack ’ems”), que Kirby disse não estar fora de questão.

O ATACMS, que pode atingir alvos a 300 Km de distância com uma ogiva contendo cerca de 375 quilos de explosivos, poderia ajudar Kiev a recuperar a Crimeia, uma parte do país que a Rússia conquistou em 2014. Mas os Estados Unidos expressaram receios sobre uma escalada.

— Estamos tentando evitar a Terceira Guerra Mundial — disse Biden.

Falando aos repórteres na quarta-feira, Kirby defendeu o armamento que os Estados Unidos já forneceram à Ucrânia.

— Desenvolvemos as capacidades à medida que a guerra evoluiu, à medida que as necessidades evoluíram, e isso teve um impacto significativo na capacidade dos ucranianos de se defenderem e de avançarem nesta contraofensiva — disse ele. — O progresso que estão a fazer, embora não tão longe ou tão rápido como eles próprios disseram que gostariam de ir, não é por acaso. Isso se deve em grande parte à sua bravura e habilidade no campo de batalha. Mas também se deve, em grande parte, ao apoio que os EUA lhes deram.

Cenário político diferente

Zelensky encontrará um clima político diferente daquele encontrado durante sua visita a Washington no ano passado, quando teve uma recepção de herói e um convite de Nancy Pelosi, então presidente da Câmara, para fazer um discurso no horário nobre em uma sessão conjunta de Congresso.

Durante essa visita, Zelensky saiu do Salão Oval com a promessa de Biden de que os Estados Unidos continuariam a apoiar a Ucrânia “enquanto for necessário”.

Na quinta-feira, os legisladores da Câmara que quiserem ouvir Zelensky diretamente terão que deixar o Capitólio. Espera-se que o encontro aconteça no Arquivo Nacional.

O senador Chuck Schumer, democrata de Nova York e líder da maioria, organizou uma sessão a portas fechadas no Capitólio para todos os 100 senadores.

Fora dos EUA, a pressão vinda de outros aliados da Otan também aumenta. Na quarta-feira, a Polônia anunciou que vai interromper o fornecimento de ajuda militar à Ucrânia para armar seu próprio Exército, uma suspensão que acontece após Kiev ter protestado contra a decisão de Varsóvia de proibir a venda de grãos ucranianos, que passaram a inundar o mercado local.

Varsóvia, um dos principais aliados de Kiev desde o começo da guerra, afirmou, contudo, que cumprirá com os envios já acordados anterioremente.

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