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Votar na terça-feira: por quê?

Thiago Lavado Além de todos os compromissos de um dia normal, quem diabos pensou que terça-feira seria um ótimo dia para sair de casa e ir votar? Esta terça-feira, mais uma vez, dezenas de milhões de americanos irão às urnas escolher um novo presidente, além de votar em senadores e em referendos estaduais. Muitos deles […]

CRIANÇA NA URNA: por razões históricas, os americanos mantém o dia da eleição na terça-feira. O que era cômodo no século XIX, se tornou um empecilho nos dias atuais / Matt McClain/Getty Images
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Da Redação

Publicado em 7 de novembro de 2016 às 19h45.

Última atualização em 22 de junho de 2017 às 18h42.

Thiago Lavado

Além de todos os compromissos de um dia normal, quem diabos pensou que terça-feira seria um ótimo dia para sair de casa e ir votar? Esta terça-feira, mais uma vez, dezenas de milhões de americanos irão às urnas escolher um novo presidente, além de votar em senadores e em referendos estaduais. Muitos deles já se preparam para um dia de longas filas, perda de trabalho e uma programação voltada para o cumprimento do dever cívico.

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A origem da eleição na terça-feira remonta a 1845 — muito antes de qualquer uma das típicas obrigações de uma terça-feira cotidiana existirem. Naquela época, os Estados Unidos eram uma sociedade vastamente agrária, onde o voto era exclusivo para uma população de homens brancos, principalmente fazendeiros.

Neste cenário, os legisladores da época pensaram em uma logística para que o típico eleitor pudesse se deslocar até um condado próximo, onde haveria uma urna. Novembro foi o mês escolhido, pois, na maior parte do país, é um mês de temperatura ainda amena para viagens. Além disso, a colheita do outono já teria terminado — naquela época, plantava-se na primavera, trabalhava-se no solo durante o verão e a colheita era feita durante o mês de outubro.

Mas por que uma terça-feira? Para evitar o conflito com a ida à igreja aos domingos. Na visão dos legisladores do século XIX, a terça-feira também seria mais adequada que a segunda-feira, uma vez que alguns cidadãos teriam que começar a viagem para votação ainda no final de semana, o que, mais uma vez, conflitaria com as obrigações religiosas.

E por que a primeira terça-feira depois da primeira segunda-feira? Essa questão é também fundamental. A data escolhida é necessariamente sempre na primeira terça-feira após a primeira segunda-feira de novembro. Os legisladores queriam evitar que as eleições caíssem no 1º de novembro, Dia de Todos os Santos, uma data importante para os católicos.

O problema é que a data, muito confortável para o típico eleitor de meados do século XIX, é bastante fortuita para o eleitor moderno. Desde 1845, os Estados Unidos, e o mundo, mudaram radicalmente, com a Revolução Industrial, o sufrágio universal, a abolição da escravidão, o direito de voto aos negros e, mais recentemente, a internet. Nesse ínterim, o número de fazendeiros foi de 60% para menos de 2% da população norte-americana.

As mudanças que aconteceram nos últimos 171 anos impactaram diretamente não só onde as pessoas votam, mas quando podem votar. Dada a rotina típica de um dia útil, votar em uma terça-feira, em horário comercial, deixou de ser um dia apropriado.

Como os estados são federados nos Estados Unidos, eles podem alterar algumas normas relativas à eleição. Pensando nisso, 34 deles têm o sistema de early voting, que permite ao eleitor votar antecipadamente, a partir de uma determinada data. Apesar disso, seis desses estados exigem uma justificava para antecipação e vários deles só mantém os escritórios abertos em horário comercial durante a semana. Sete não têm qualquer tipo de alternativa, e os outros três só permitem votos pelo correio.

O problema depõe contra o sistema eleitoral americano, que ainda é atrasado em diversos aspectos — como votos em cédulas de papel preenchidas à mão e cartões perfuráveis. Por causa disso, as taxas de abstenção são bastante altas: somente 53,6% das pessoas em idade hábil vota e mesmo entre os registrados a taxa de abstenção é de 16%. Há movimentos que pedem uma mudança da data, ou a transformação do dia em feriado nacional. Enquanto nada disso acontece, milhões de pessoas ainda precisarão encontrar uma brecha na agenda para escolher entre Hillary Clinton e Donald Trump nesta terça-feira.

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