Viúva de Navalny pode virar rosto de nova oposição na Rússia
Yulia Navalnaya seria a figura feminina da oposição mais proeminente na Rússia em pelo menos duas décadas
Repórter colaborador
Publicado em 20 de fevereiro de 2024 às 08h31.
Três dias depois das autoridades russas terem declarado que seu marido e principal líder da oposição, Alexei Navalny, tinha morrido numa prisão no Ártico, Yulia Navalnaya, disse na segunda-feira que assumiria a missão do seu marido de derrubar o regime de Vladimir Putin.
“Ao matar Alexei, Putin matou metade de mim, metade do meu coração e metade da minha alma. Mas ainda tenho a outra metade, e isso me diz que não tenho o direito de desistir”, anunciou ela em um vídeo no YouTube. “Vou continuar a causa de Alexei Navalny", completou.
A viúva de Navalny seria a figura feminina da oposição mais proeminente na Rússia em pelo menos duas décadas – uma mudança notável para um país patriarcal onde o Kremlin alardeia “valores tradicionais”, como limitar o direito ao aborto e pressionar as mulheres a terem mais filhos, de acordo com o Financial Times.
Segundo o site Politico,Navalnaya parece estar seguindo os passos de Sviatlana Tsikhanouskaya, da Bielorrússia, que, após a prisão do marido, assumiu o papel de líder da oposição, apesar da falta de experiência anterior, tornando-se um símbolo de protesto contra o ditador do país, Alexander Lukashenko, aliado de Vladimir Putin.
No mesmo dia em que foi divulgada a notícia da morte de Navalny, Navalnaya foi filmada em conversa com Tsikhanouskaya na Conferência de Segurança de Munique, alimentando especulações sobre seus próximos planos.
"A popularidade de Navalnaya poderia torná-la a voz de seu marido e dos russos que não apoiam Putin. Mas isso é muito difícil e muito arriscado", disse Tsikhanouskaya em Munique.
Apesar desse cenário, a declaração da viúva na segunda-feira surpreendeu a muitos, já que Navalnaya passou anos rejeitando a ideia de que queria uma carreira política.
Economista de formação, ela conheceu Alexei durante férias na Turquia em 1998. Em poucas entrevistas que concedeu, ela parecia lutar pela normalidade democrática da Rússia à medida que a repressão do Kremlin contra seu marido se intensificava.
Ainda segundo o Politico, nos bastidores, aqueles que conheciam bem o casal disseram que Navalnaya não apenas compartilhava as opiniões do marido, mas também ajudou a moldá-las ao longo dos anos.