Doença já provocou a morte de 440 milhões de porcos na China (Getty Images/Getty Images)
Carla Aranha
Publicado em 25 de maio de 2020 às 16h06.
Última atualização em 26 de maio de 2020 às 08h26.
Não bastasse a covid-19, outro vírus bastante agressivo, que ataca os suínos, teve uma explosão de casos na China e já atinge outros países da Ásia e da Europa. O vírus, da família Asfarviridae, infecta apenas porcos e javalis. Ele não é parente do coronavírus e não atinge os humanos.
Os suínos não têm salvação e morrem em uma semana. A doença, altamente contagiosa, chegou à China há dois anos, depois de passar pela Europa, onde não chegou a fazer muitos estragos na ocasião. “Na China, a peste provocou um surto sem precedentes, em boa parte porque a produção de porcos é feita em pequenas propriedades, mais difíceis de serem fiscalizadas”, diz Wagner Yanaguizawa, analista do Rabobank do Brasil, banco de origem holandesa especializado no setor de alimentos e agronegócio.
A doença já causou a morte de 440 milhões de porcos na China, a metade do rebanho do país. No mundo todo, atingiu 25% do total de suínos. Segundo a Organização Mundial de Saúde Animal, a doença já se espalhou por 50 países, afetando 75% da produção global de porcos. Ainda não há tratamento ou vacina para o vírus.
A peste suína africana, que tem esse nome por ter sido identificada pela primeira vez na África há quase cem anos, é transmitida por carrapatos. A doença provoca febre alta e uma hemorragia mortal nos porcos. O vírus, bastante agressivo, pode ficar ativo por tempo indeterminado em alimentos contaminados, roupas, sapatos, veículos usados no transporte dos animais e até debaixo da terra, em carcaças de porcos acometidos pela doença.
A doença está se espalhando pelo mundo. Ela já chegou à Índia, onde matou mais de 14.000 porcos. O vírus também ataca a Europa. Desde o início do ano, nove países europeus confirmaram casos da doença, entre eles a Bulgária, Romênia e Bélgica. Segundo a European Food Safety Authority (EFSA), autoridade de segurança alimentar europeia, a disseminação tem sido rápida.
Novos focos foram detectados na Polônia e na Grécia nas últimas semanas. Preocupado, o governo alemão mandou erguer uma cerca eletrificada na fronteira com a Polônia. “A Alemanha e a Espanha estão entre os maiores exportadores de carne suína, por isso precisam tomar um cuidado redobrado para não serem contaminados”, diz Yanaguizawa.
Apesar de estar em declínio na China, a doença ainda não está controlada. Em abril, o governo chinês reportou novos casos na província de Gansu. Para o Brasil, a boa notícia é que o vírus não chegou aqui – e as exportações de carne para a China, com o estoque de suínos em baixa, estão aumentado.
Segundo o Rabobank, nos primeiros quatro meses do ano o embarque de carne de porco para a China aumentou 29% em volume e 54% em faturamento. “O Brasil tomou medidas de precaução para evitar com que a doença chegue aqui e está sabendo aproveitar a oportunidade de negócios com a China”, afirma Yanaguizawa. Para os criadores de porcos na China e outros países, resta a esperança de ter uma vacina para o vírus. “Estudos vêm sendo feitos há dois anos e em algum momento terão sucesso”, diz Yanaguizawa.