Carlos Ghosn, ex-presidente da Nissan: fuga do Japão e vida no Líbano estão custando uma fortuna ao executivo (Issei Kato/Reuters)
Gabriela Ruic
Publicado em 11 de janeiro de 2020 às 06h00.
Última atualização em 11 de janeiro de 2020 às 07h00.
A vida de fugitivo está ficando cara para Carlos Ghosn. O custo da fuga incluiu US$ 14 milhões em recursos confiscados para a fiança, enquanto a operação que permitiu que o ex-presidente da Nissan comemorasse a véspera de Ano Novo em Beirute poderia ter custado US$ 15 milhões ou mais.
O valor inclui US$ 350 mil para o jato particular que levou o ex-executivo de Osaka a Istambul e milhões de dólares para sua fuga por vários países que uma equipe de 25 pessoas teria planejado por seis meses, disse um especialista em segurança privada que afirmou não estar envolvido e pediu para não ser identificado.
Com tantos gastos, a fortuna de Ghosn encolheu 40% desde que ele foi preso há mais de um ano no aeroporto de Haneda, em Tóquio, segundo estimativas do Índice de Bilionários Bloomberg. Sua fortuna agora é calculada em cerca de US$ 70 milhões, abaixo dos US$ 120 milhões na época de sua primeira aparição em um tribunal há um ano.
Em tom impetuoso durante conferência de imprensa de duas horas e meia em Beirute na quarta-feira, Ghosn, de 65 anos, declarou repetidamente sua inocência contra alegações de que teria ocultado sua renda e desviado recursos corporativos para ganho pessoal e acusou promotores, autoridades do governo japonês e executivos da Nissan de conspiração para derrubá-lo, insistindo que limparia seu nome.
“Estou acostumado com o que vocês chamam de missão impossível”, disse em resposta a perguntas dos repórteres no local. “Podem esperar algumas iniciativas que tomarei nas próximas semanas para dizer como vou limpar meu nome.”
Isso poderia incluir um livro para contar tudo. Ghosn planeja publicar a história de sua prisão, segundo a TV pública japonesa NHK.
Com o colapso de sua carreira, Ghosn já perdeu milhões em remuneração. No ano passado, a Nissan cancelou o pacote de aposentadoria e remuneração vinculada às ações, e a Renault disse que Ghosn não iria se beneficiar de um acordo de não concorrência assinado em 2015 com bônus de ações condicionados à sua permanência na empresa. Muitas das acusações contra Ghosn se concentram em pagamentos de aposentadoria, totalizando mais de U$$ 140 milhões, que ele ainda não havia recebido.
Isso pode ser apenas o começo. Investigações preliminares na França examinam o possível desvio de dinheiro da Renault por Ghosn para dar festas luxuosas e pagar honorários de consultoria. O ex-executivo também fechou um acordo de US$ 1 milhão para arquivar uma queixa civil da SEC dos EUA, segundo a qual Ghosn não teria divulgado adequadamente os possíveis pagamentos de aposentadoria, sem ter admitido ou negado as irregularidades.
O Paul Weiss Rifkind Wharton & Garrison LLP, escritório de advocacia de Ghosn nos EUA, não quis comentar sobre as estimativas da Bloomberg sobre o patrimônio ou sobre o acordo com a SEC. O advogado libanês de Ghosn também não quis comentar.
A Nissan tenta entrar com uma ação judicial contra Ghosn no Líbano, disseram pessoas a par dos planos da empresa, para recuperar o dinheiro que, segundo a montadora, ele teria usado de maneira inadequada. A montadora tenta tirá-lo da vila rosa em Beirute, à qual Ghosn ainda tem acesso. Depois de ter comprado a chamada mansão rosa por US$ 8,75 milhões, a Nissan renovou a propriedade e a colocou à disposição de Ghosn, de acordo com uma pessoa com conhecimento do assunto.
Não está claro se algum ativo de Ghosn foi apreendido. Em processos judiciais no Japão, os bens de um réu não podem ser confiscados até que um veredicto seja alcançado, de acordo com Taichi Yoshikai, professor de direito da Universidade Kokushikan. Os ativos só podem ser congelados se estiverem vinculados a certos tipos de crimes, relacionados principalmente ao crime organizado, e um juiz determina se devem ser apreendidos em caso de ser considerado culpado, acrescentou. Não se sabe como isso será aplicado quando um réu estiver no exterior, disse.
O cálculo da Bloomberg sobre o patrimônio líquido de Ghosn assume que nenhum de seus ativos no momento da prisão - que incluía ações da Renault e Nissan agora avaliadas em cerca de US$ 60 milhões - foi apreendido ou vendido.