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Vaticano reage com surpresa e irritação à condenação da ONU

Para o Vaticano, trata-se de acusações injustas que não levam em conta esforços feitos pela entidade desde que escândalos explodiram na Irlanda

Vaticano: "A ONU superou seus próprios limites. Uma coisa é proteger as crianças, outra é indicar as medidas a tomar", comentou fonte do Vaticano (©afp.com / Massimo Sestini)
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Da Redação

Publicado em 5 de fevereiro de 2014 às 20h20.

O Vaticano reagiu com surpresa e irritação à dura e inédita condenação proferida pela ONU por continuar encobrindo casos de pedofilia dentro da Igreja, um escândalo que mancha a imagem da instituição há décadas.

Para o Comitê das Nações Unidas para os Direitos das Crianças, o Vaticano adotou políticas que permitiram que sacerdotes assediassem e abusassem por anos de milhares de menores de idade, favorecendo também a impunidade dos culpados.

As críticas contra "o código de silêncio" que reinou por anos no Vaticano para preservar o prestígio da Igreja, assim como o pedido da ONU para que se abram os arquivos sobre os pedófilos e os bispos que ocultaram estes crimes, foram rechaçadas taxativamente pelas autoridades da Santa Sé.

Para o Vaticano, trata-se de acusações injustas que não levam em conta os esforços feitos pela entidade desde que os escândalos explodiram na Irlanda, na década de 1990.

"A ONU superou seus próprios limites. Uma coisa é proteger as crianças, outra é indicar as medidas a tomar", comentou uma fonte do Vaticano.

A dura reação do observador permanente do Vaticano na ONU, em Genebra, monsenhor Silvano Tomasi, que denunciou "distorções" no relatório, também foi imediata. O prelado chegou a acusar "lobbies" e grupos de pressão com interesses "ideológicos" dentro do organismo internacional.

Em entrevista à Rádio Vaticano, Tomasi acusou organizações não governamentais, "com interesses no campo da homossexualidade, o casamento gay e outros assuntos" de terem pressionado a favor da devastadora condenação da ONU.

"O relatório (da ONU) não foi atualizado, falta uma perspectiva correta", afirmou Tomasi.


Cerca de 600 denúncias ao ano

Embora os dados sobre o alcance do fenômeno dentro da Igreja não sejam públicos, a hierarquia da Santa Sé, respeitando o desejo de limpeza, retirou vários sacerdotes condenados, assim como bispos acusados de acobertamento, entre eles vários irlandeses, um dos países mais afetados.

Segundo a Congregação para a Doutrina da Fé, no ano 2011 e 2012, durante o pontificado de Bento XVI, 400 sacerdotes perderam sua condição de sacerdotes, a penalização mais grave do direito canônico, devido ao abuso de menores.

Nos últimos três anos, cerca de 600 casos foram denunciados anualmente, a maioria por abusos cometidos entre 1965 e 1985.

Desde 2001, sob o pontificado de João Paulo II, os casos de pedofilia cometidos dentro da Igreja são tratados internamente pela Congregação para a Doutrina da Fé, o equivalente a um ministério da Justiça no Vaticano.

Depois da série de escândalos desatada em meio mundo em 2010, o Vaticano estabeleceu novas regras que instruíam os bispos a denunciar os casos de abuso à polícia local, segundo a lei de cada país.

O comitê da ONU sobre os Direitos da Criança se queixou de não ter recebido dados de todos os casos de pedofilia investigados pela Congregação, nem sobre os castigos proferidos.

O Vaticano, que estabeleceu que todo caso deve ser denunciado à autoridade local, mesmo quando o crime já tiver prescrito, nem sempre consegue que a disposição seja cumprida.

"Do ponto de vista legislativo, fizeram tudo", admitiu o vaticanista do jornal La Stampa Andrea Tornielli, que considera que, agora, o problema é mudar a "mentalidade" do clero.

"Sabia-se que padres abusavam de menores, eram assuntos que eram deixados na penumbra. Graças a Deus vieram à tona", admitiu recentemente um importante religioso da Congregação para a Doutrina da Fé, que se recusou a dar o número exato dos casos investigados.

Desde sua escolha em março passado, o Papa Francisco se pronunciou a favor das vítimas e criou um comitê para combater o abuso que se concentra em aliviar a dor dos afetados.

O papa emérito Bento XVI (2005-2013), consciente da gravidade do tema, em várias ocasiões pediu perdão pelos abusos e abençoou tanto as vítimas quanto seus familiares, ao mesmo tempo em que castigou de forma exemplar o símbolo desse fenômeno, o religioso mexicano Marcial Maciel, fundador dos Legionários de Cristo. Em 2006, Maciel foi afastado para sempre da Igreja.

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O Vaticano reagiu com surpresa e irritação à dura e inédita condenação proferida pela ONU por continuar encobrindo casos de pedofilia dentro da Igreja, um escândalo que mancha a imagem da instituição há décadas.

Para o Comitê das Nações Unidas para os Direitos das Crianças, o Vaticano adotou políticas que permitiram que sacerdotes assediassem e abusassem por anos de milhares de menores de idade, favorecendo também a impunidade dos culpados.

As críticas contra "o código de silêncio" que reinou por anos no Vaticano para preservar o prestígio da Igreja, assim como o pedido da ONU para que se abram os arquivos sobre os pedófilos e os bispos que ocultaram estes crimes, foram rechaçadas taxativamente pelas autoridades da Santa Sé.

Para o Vaticano, trata-se de acusações injustas que não levam em conta os esforços feitos pela entidade desde que os escândalos explodiram na Irlanda, na década de 1990.

"A ONU superou seus próprios limites. Uma coisa é proteger as crianças, outra é indicar as medidas a tomar", comentou uma fonte do Vaticano.

A dura reação do observador permanente do Vaticano na ONU, em Genebra, monsenhor Silvano Tomasi, que denunciou "distorções" no relatório, também foi imediata. O prelado chegou a acusar "lobbies" e grupos de pressão com interesses "ideológicos" dentro do organismo internacional.

Em entrevista à Rádio Vaticano, Tomasi acusou organizações não governamentais, "com interesses no campo da homossexualidade, o casamento gay e outros assuntos" de terem pressionado a favor da devastadora condenação da ONU.

"O relatório (da ONU) não foi atualizado, falta uma perspectiva correta", afirmou Tomasi.


Cerca de 600 denúncias ao ano

Embora os dados sobre o alcance do fenômeno dentro da Igreja não sejam públicos, a hierarquia da Santa Sé, respeitando o desejo de limpeza, retirou vários sacerdotes condenados, assim como bispos acusados de acobertamento, entre eles vários irlandeses, um dos países mais afetados.

Segundo a Congregação para a Doutrina da Fé, no ano 2011 e 2012, durante o pontificado de Bento XVI, 400 sacerdotes perderam sua condição de sacerdotes, a penalização mais grave do direito canônico, devido ao abuso de menores.

Nos últimos três anos, cerca de 600 casos foram denunciados anualmente, a maioria por abusos cometidos entre 1965 e 1985.

Desde 2001, sob o pontificado de João Paulo II, os casos de pedofilia cometidos dentro da Igreja são tratados internamente pela Congregação para a Doutrina da Fé, o equivalente a um ministério da Justiça no Vaticano.

Depois da série de escândalos desatada em meio mundo em 2010, o Vaticano estabeleceu novas regras que instruíam os bispos a denunciar os casos de abuso à polícia local, segundo a lei de cada país.

O comitê da ONU sobre os Direitos da Criança se queixou de não ter recebido dados de todos os casos de pedofilia investigados pela Congregação, nem sobre os castigos proferidos.

O Vaticano, que estabeleceu que todo caso deve ser denunciado à autoridade local, mesmo quando o crime já tiver prescrito, nem sempre consegue que a disposição seja cumprida.

"Do ponto de vista legislativo, fizeram tudo", admitiu o vaticanista do jornal La Stampa Andrea Tornielli, que considera que, agora, o problema é mudar a "mentalidade" do clero.

"Sabia-se que padres abusavam de menores, eram assuntos que eram deixados na penumbra. Graças a Deus vieram à tona", admitiu recentemente um importante religioso da Congregação para a Doutrina da Fé, que se recusou a dar o número exato dos casos investigados.

Desde sua escolha em março passado, o Papa Francisco se pronunciou a favor das vítimas e criou um comitê para combater o abuso que se concentra em aliviar a dor dos afetados.

O papa emérito Bento XVI (2005-2013), consciente da gravidade do tema, em várias ocasiões pediu perdão pelos abusos e abençoou tanto as vítimas quanto seus familiares, ao mesmo tempo em que castigou de forma exemplar o símbolo desse fenômeno, o religioso mexicano Marcial Maciel, fundador dos Legionários de Cristo. Em 2006, Maciel foi afastado para sempre da Igreja.

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