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União Europeia fará esforços para preservar acordo nuclear com Irã

Os líderes da Alemanha, França e Reino Unido se reunirão com autoridades do Irã para tentar manter o acordo nuclear de 2015

Bandeira da União Europeia é vista durante cerimônia em Lausanne, na Suíça (Denis Balibouse/Reuters)
AB

Agência Brasil

Publicado em 12 de maio de 2018 às 17h51.

Os líderes da Alemanha, França e Reino Unido se reunirão na segunda-feira (14) com autoridades do Irã para tentar manter vigente o acordo nuclear assinado em 2015. Nos últimos dias, os líderes dos três países se manifestaram publicamente sobre a intenção de preservarem o acordo. Na última terça-feira (8), o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou a saída do acordo, deixando a União Europeia em estado de alerta.

De acordo com o eurodeputado português Francisco Assis, a atitude do presidente norte-americano pode desencadear uma guerra comercial entre os Estados Unidos e os países europeus. Para ele, a situação poderá se complicar muito caso os americanos resolvam impor sanções a empresas europeias.

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Em entrevista exclusiva à Agência Brasil, o deputado do Parlamento Europeu e membro do Partido Socialista português falou sobre as possíveis consequências da saída dos EUA do acordo e sobre quais medidas a União Europeia deve tomar para impedir o Irã de produzir armamento nuclear.

Agência Brasil - Quais são as consequências da saída dos Estados Unidos do acordo nuclear para a União Europeia?

Deputado do Parlamento Europeu Francisco Assis (Reprodução/Parlamento Europeu)

Francisco Assis - Eu penso que tem consequências muito negativas. Não há nenhuma razão para essa decisão. Não foi detectada nenhuma situação de descumprimento do acordo por parte do Irã. Pelo contrário, as entidades internacionais que têm função de monitorar o cumprimento do acordo garantem que tem havido, por parte do Irã, um comportamento caracterizado pelo respeito ao acordo. E é evidente que, ao por em causa esse acordo, os Estados Unidos não são um parceiro confiável. Por outro lado, abrem as portas para uma escalada no Oriente Médio, com consequências absolutamente imprevisíveis. Estamos a falar de uma região do mundo dominada por fortíssimas tensões políticas e é evidente que este acordo tinha o efeito de impedir que o Irã chegasse ao ponto de poder ter armamento nuclear.

ABr - O Irã exigirá garantias da União Europeia para se manter no acordo e os Estados Unidos vão pressionar a Europa. O que deve acontecer?

FA - A chanceler alemã Angela Merkel declarou que há uma ruptura grave com os Estados Unidos. E ela vai mais longe, ao ponto de dizer que não podemos confiar no nosso tradicional aliado americano. Isso é uma mudança significativa, pois a UE sempre contou com os Estados Unidos e vice-versa, numa ligação muito próxima. Significa que há uma vontade dos europeus, quer por Merkel, quer por Macron [presidente da França], de tudo fazer para evitar que o Irã saia desse acordo. Portanto, eu creio que a resposta europeia vai ser muito clara: nós queremos mantê-lo, queremos que o Irã continue e, mesmo sem os Estados Unidos, vamos nos manter no acordo. Por parte do Irã, vamos ver. Porque isso também acentua as rivalidades internas entre os setores mais moderados e extremistas da vida política iraniana. Espero que os moderados, que têm prevalecido nos últimos tempos, continuem a prevalecer. Do ponto de vista da relação euroamericana, é evidente que ela não está nos melhores dias. E (é importante) sobretudo que os Estados Unidos não pressionem as empresas europeias que mantêm contatos especiais com o Irã. Aí é que está o problema, se os EUA de fato aplicarão sanções a empresas europeias. Eu acho que se isso acontecer pode haver o risco de uma guerra comercial entre os Estados Unidos e os países europeus. Guerra comercial que, aliás, o presidente Trump já começou, com a questão do aço e do alumínio. Nós estamos numa situação absolutamente nova desde a Segunda Guerra Mundial, no que concerne às relações entre EUA e UE. E é evidente que a responsabilidade é da atual administração e do atual presidente norte-americano, que é um homem despreparado para executar essas funções e que é hoje um dos principais fatores de perturbação da ordem internacional.

ABr - Quais efeitos diretos essa desestabilização pode ter na vida dos europeus, inclusive empresários?

FA - Os empresários, no momento em que haviam retomado as negociações comerciais com o Irã, podem sofrer pressões por parte dos americanos através da aplicação de sanções. Isso pode fazê-los pensar duas vezes se querem ou não manter as relações com o Irã e fazer investimentos no país. Creio que haverá mais repercussões no Irã do que na Europa. Mas acredito que para a Europa é sempre ruim termos um aumento de tensão numa região que nós é próxima. Diferentemente dos Estados Unidos, nós somos vizinhos do Oriente Médio e, portanto, o que se passa ali tem uma repercussão mais imediata no espaço europeu. Basta ver o que acontece no caso da guerra da Síria. Por outro lado, tem o aumento no preço do petróleo, que prejudica as economias europeias.

ABr - Quais medidas práticas a UE vai tomar para que o Irã não desenvolva armas nucleares?

FA - A UE tem que zelar pela manutenção do acordo. Isso significa que não voltaremos a impor sanções. Depois, (temos de) apoiar as empresas europeias que tenham relações comerciais e de investimento no Irã e colocar essa questão aos EUA: que não aceitamos que as nossas empresas sejam objeto de qualquer tipo de sanção. Julgo que a Europa está decidida a defender o acordo, porque é do interesse da região, é do interesse da Europa e do mundo.

ABr - Deve haver um crescente isolamento dos Estados Unidos?

FA - Eu acho que os Estados Unidos estão cada vez mais isolados e com pior imagem no mundo. Quando tinham, felizmente, recuperado a sua imagem sob a presidência de Barack Obama, e eram de novo uma referência para todo mundo... Esperamos que esse mandato (de Trump) passe o mais rápido possível e que os americanos tenham o bom senso de escolher um presidente à medida de sua dimensão de grande país no mundo.

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