Presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, se dirige aos meios de comunicação ao chegar à sede do organismo para reunião extraordinária (Philippe Huguen/AFP)
Da Redação
Publicado em 23 de abril de 2015 às 11h06.
Bruxelas - Os líderes europeus se reúnem nesta quinta-feira em um encontro de cúpula extraordinário em Bruxelas para avaliar a possibilidade de uma operação militar contra os traficantes de pessoas na Líbia e, assim, frear o fluxo de imigrantes que tentam chegar a Europa cruzando o Mediterrâneo.
Entre as propostas que serão apresentadas está a "captura e destruição dos navios usados pelos traficantes de seres humanos", segundo um projeto de declaração ao qual a AFP teve acesso.
A reunião acontece no momento em que começam a ser revelados detalhes estarrecedores sobre o naufrágio de domingo no Mediterrâneo, que matou mais de 800 pessoas.
Uma fonte diplomática afirmou que os Estados membros da União Europeia (UE) se preparam para aprovar a declaração, que inclui o plano de ação de 10 pontos apresentado na segunda-feira pela Comissão Europeia, que reflete a disposição de adotar ações decisivas contra os traficantes que colocam em embarcações improvisadas as pessoas desesperadas, em fuga da miséria e dos conflitos na África, Oriente Médio e Ásia.
"A UE deve declarar guerra aos traficantes de seres humanos", afirmou o comissário europeu para o tema tema, Dimitris Avramopoulos.
O primeiro-ministro italiano, Matteo Renzi, cujo país está na linha de frente da tragédia, citou durante a semana a possibilidade de ações militares contra os traficantes na Líbia.
O plano de ação da Comissão Europeia inclui a "captura e destruição" dos barcos utilizados pelos traficantes, assim como medidas para agilizar a análise dos pedidos de asilo e distribuir de maneira "solidária" a carga que representa para os Estados membros a recepção dos demandantes de asilo.
A chefe da diplomacia europeia, a italiana Federica Mogherini, enfatizou que a UE "não tem mais desculpas".
A Anistia Internacional já criticou o plano, que considera "inadequado" e incapaz de conter a espiral de mortes no mar.
"Se não fizermos nada, penso que este ano veremos meio milhão de migrantes atravessar o Mediterrâneo e, neste caso, podemos registrar potencialmente até 10.000 mortes", advertiu Koji Sekimizu, diretor da Organização Marítima Internacional (OMI).
Na Sicília, onde desembarcaram os 28 sobreviventes do naufrágio de domingo, os relatos da tragédia começaram a ser divulgados.
Muitos imigrantes viajavam trancados no porão do navio no momento em que a embarcação colidiu com um cargueiro português que se deslocara para ajudar os viajantes.
Um adolescente bengalês que sobreviveu explicou que havia três tipos de passageiros a bordo.
"Os que tinham menos dinheiro estavam trancados no porão", disse o jovem, identificado apenas como Abdirizak, segundo o jornal Corriere della Sera.
"Nós estávamos no nível médio e apenas os que pagaram estavam mais acima, na parte superior do barco", explicou.
No momento da primeira colisão, no escuro, os passageiros viveram cenas de terror.
"Todos gritavam, empurravam, em um ambiente aterrorizante. Podíamos ouvir os que estavam trancados no porão gritando 'socorro'", disse.
"Não sei como, mas conseguimos começar a nadar no momento que o barco afundava", relatou o adolescente.
Os imigrantes, em sua maioria africanos e que não sabiam nadar, pagaram entre 330 e 660 euros pela viagem, segundo a promotoria de Catania.