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UE cria "passaporte da vacina" para retomar viagens e revitalizar turismo

A decisão de ontem foi tomada durante videoconferência de 5 horas entre os líderes dos 27 países da UE

Passaporte da vacina: a Comissão Europeia tem agora três meses para definir as condições técnicas de funcionamento desse novo sistema (Ronstik/Getty Images)

Passaporte da vacina: a Comissão Europeia tem agora três meses para definir as condições técnicas de funcionamento desse novo sistema (Ronstik/Getty Images)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 26 de fevereiro de 2021 às 09h19.

Última atualização em 26 de fevereiro de 2021 às 12h56.

A União Europeia aprovou nesta quinta-feira, 25, a criação de um "passaporte da vacina" para retomar o turismo e as viagens de cidadãos europeus entre os países do bloco. Uma espécie de certificado digital, segundo a chanceler da Alemanha, Angela Merkel, estaria disponível antes das férias de verão, em julho.

A decisão de ontem foi tomada durante videoconferência de 5 horas entre os líderes dos 27 países da UE. Embora houvesse consenso sobre a necessidade de criar um certificado de algum tipo, os governos ainda não chegaram a um acordo sobre como eles serão emitidos.

"Todos concordaram que precisamos de um certificado de vacinação digital", disse Merkel, após a reunião. "No futuro, certamente será bom ter esse certificado, mas isso não significa que apenas aqueles com o passaporte poderão viajar. Sobre isso, nenhuma decisão política foi tomada ainda."

A Comissão Europeia tem agora três meses para definir as condições técnicas de funcionamento desse novo sistema. Os líderes do bloco acreditam que o mecanismo estará operando em uma questão de "meses", para estar pronto até as férias de verão.

O passaporte para vacinados era uma exigência de países que foram duramente afetados pela interrupção do turismo, especialmente Itália, Espanha e Grécia. A França era um dos países que mais ofereciam resistência à medida.

Ontem, o presidente francês, Emmanuel Macron, disse que a criação de uma passaporte da vacina seria "injusta" com os mais jovens, que estão em último lugar na fila da imunização. Alguns críticos de Macron, no entanto, alegam que a oposição da França ao certificado ocorre apenas porque o país tem hoje um dos mais ineficientes programas de vacinação de toda a Europa.

Preocupações

Médicos e grupos de defesa dos direitos humanos também disseram estar preocupados com a criação de um certificado de vacinação. Segundo Deepti Gurdasani, epidemiologista da Queen Mary University, de Londres, os passaportes poderiam dar "falsas garantias" aos turistas.

Gurdasani disse que a proteção oferecida pelas vacinas está "muito longe" de ser completa e ainda se sabe pouco sobre a eficácia dos imunizantes na prevenção de infecções, especialmente diante das muitas variantes que circulam pelo mundo. Além disso, a maioria dos países não tem acesso a vacinas e um certificado discriminaria ainda mais parte da população mundial.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) também é contra a criação de certificados de vacina. Em janeiro, especialistas da organização disseram que os governos "não deveriam impor a comprovação de vacinação ou de imunidade para viagens internacionais". "Ainda há muita dúvida sobre a eficácia da vacinação na redução da transmissão, além de a disponibilidade das vacinas ainda ser limitada", disse a OMS, em nota.

Um relatório publicado recentemente pela Economist Intelligence Unit projeta que a maior parte da população adulta das economias avançadas será vacinada até meados de 2022. O cronograma se estende até o início de 2023 para muitos países de renda média e até 2024 para muitos países pobres de todo o mundo.

"Os chamados passaportes garantem que aqueles que podem provar que têm imunidade ao coronavírus podem voltar à vida normal. O que levanta a questão: o que acontece com as outras pessoas?", questionou a Liberty, a maior organização de defesa das liberdades civis do Reino Unido, no início do mês.

Mesmo diante da desconfiança e de tantos questionamentos, a ideia de um certificado internacional tem ganhado corpo. O presidente dos EUA, Joe Biden, logo após a posse, em janeiro, delineou uma estratégia nacional de 200 páginas para conter a pandemia. O plano incluía uma diretiva para que várias agências governamentais "avaliassem a viabilidade" de adotar certificados internacionais de vacinação.

O primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, também ordenou uma análise sobre os passaportes para vacinados. Ontem, o governo da Tailândia, outro país que perdeu receita do turismo anunciou a intenção de abrir suas fronteiras para os vacinados e espera um retorno dos turistas no terceiro trimestre do ano.

Imunização pode ser periódica

A chanceler alemã, Angela Merkel, advertiu ontem que as mutações do coronavírus podem exigir vacinações anuais para que a pandemia seja controlada. "Em razão das mutações, talvez tenhamos de ficar muitos anos na situação de ter de vacinar uma vez ou outra (contra o coronavírus), como fazemos com a gripe", disse a chanceler.

Para os líderes europeus, a melhor forma de combater as novas variantes do vírus é acelerar o programa de vacinação nos países do bloco, outro tema que foi exaustivamente discutido na videoconferência de ontem. "A UE terá de conviver com o vírus por um longo período", disse o presidente da França, Emmanuel Macron.

 

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