Mundo

Turquia vota em eleições municipais vistas como teste para governo de Erdogan, há 20 anos no poder

Confrontos foram registrados no sudeste do país, durante a votação; uma pessoa foi morta e 12 ficaram feridas na província de Diyarbakir, de maioria curda

Eleitora vota em Istambum, em 31 de março de 2024 - Crédito: AFP (AFP/AFP)

Eleitora vota em Istambum, em 31 de março de 2024 - Crédito: AFP (AFP/AFP)

Agência o Globo
Agência o Globo

Agência de notícias

Publicado em 31 de março de 2024 às 09h48.

A Turquia vota neste domingo em eleições municipais vistas como um teste para o governo do presidente Recep Tayyip Erdogan, que, há 20 anos no poder, está tentando tirar a prefeitura de Istambul da oposição. Na província de Diyarbakir, de maioria curda, no sudeste do país, houve confrontos à margem das eleições nesta manhã, deixando um morto e 12 feridos, segundo uma autoridade local.

Nas seções eleitorais, que abriram primeiro no leste e uma hora depois no resto do país, os eleitores demonstraram pouco entusiasmo.

— Todos se preocupam com suas vidas diárias, a crise está afundando a classe média, tivemos que mudar todos os nossos hábitos — explica Guler Kaya, um homem de 43 anos que diz ter tido que desistir de muitos de seus hobbies. — Se Erdogan vencer, será ainda pior.

Aos 70 anos de idade, o presidente Recep Tayyip Erdogan fez uma campanha vigorosa nesse país de 85 milhões de habitantes ao lado dos candidatos de seu partido islâmico-conservador AKP. Ele realizou quatro comícios por dia e compartilhou o iftar, a refeição noturna para quebrar o jejum do Ramadã, todas as noites.

O Presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan (C), com sua esposa Emine Erdogan (D), deixa a estação de votação após votar, no distrito de Uskudar em Istambul, em 31 de março de 2024. Crédito: OZAN KOSE / AFP (OZAN KOSE / AFP/AFP)

LEIA MAIS: Primeiro turco no espaço, símbolo do orgulho do país e das ambições de Erdogan

Ainda há poucas informações sobre o incidente que ocorreu no vilarejo de Agaclidere, a 30 quilômetros da cidade de Diyarbakir. Segundo uma autoridade, o confronto tornou-se violento e incluiu armas de fogo. Uma bala atingiu o carro de um jornalista local, mas não se sabe como o tumulto começou, nem quem teria sido o autor do disparo.

A batalha por Istambul

Erdogan está pessoalmente envolvido nas eleições municipais de Istambul, ao lado de seu candidato Murat Kurum, um ex-ministro pouco carismático cujo retrato é frequentemente visto ao lado de seus cartazes eleitorais.

O presidente está tentando se redimir da afronta de 2019, destituindo o prefeito cessante Ekrem Immoglu, uma figura da oposição que lhe tirou a principal e mais rica cidade do país e que, se reeleito, ganharia muito peso antes das eleições presidenciais de 2028.

No sábado, véspera das eleições, Erdogan realizou três comícios em Istambul, a antiga "joia" e "tesouro nacional" de Constantinopla, onde foi prefeito na década de 1990 antes de se tornar presidente. Ele enfatizou novamente as deficiências, segundo ele, de Imamoglu, a quem retrata como ambicioso e despreocupado com sua cidade, chamando-o de "prefeito de meio período" obcecado pela Presidência.

— Istambul foi deixada à própria sorte nos últimos cinco anos. Queremos salvá-la do desastre — disse ele antes de ir rezar na mesquita Hagia Sophia.

Oposição dispersa

As pesquisas deste fim de semana ainda davam a liderança ao prefeito cessante, mas essas pesquisas haviam anunciado a derrota do chefe de Estado na eleição presidencial de maio de 2023, na qual ele foi reeleito com 52% dos votos.

Desta vez, ao contrário de 2019, a oposição enfrenta as eleições de forma dispersa. O CHP (social-democratas), seu principal partido, não conseguiu criar um consenso em torno de Imamoglu em Istambul e em outras partes do país. O partido Dem, pró-curdo, está concorrendo sozinho, o que pode favorecer o partido governista, ameaçado por uma pressão do partido islâmico Yeniden Refah.

— Obteremos uma grande vitória amanhã, que não será a derrota de ninguém — disse o presidente do partido CHP, Özgür Özel, na cidade ocidental de Izmir, que deve permanecer nas mãos da oposição, assim como a capital Ancara.

Em um país que enfrenta uma inflação oficial de 67% em 12 meses e a desvalorização de sua moeda (de 19 para 31 liras por dólar em um ano), os eleitores podem ser tentados a dar a vantagem aos oponentes do chefe de Estado. Para os observadores, o comparecimento tradicionalmente alto às urnas será uma indicação de apoio ao governo. O mesmo acontecerá em Istambul se os eleitores comparecerem em menor número para apoiar Imamoglu.

— Se ele conseguir voltar a Istambul e Ancara, Erdogan verá um estímulo para alterar a Constituição para se eleger em 2028 — prevê Bayram Balci, pesquisador do Centro de Estudos e Pesquisas Internacionais (Ceri)-Sciences-Po, em Paris. — Mas se Imamoglu conseguir se manter, ele terá vencido sua batalha dentro da oposição para se impor.

Acompanhe tudo sobre:TurquiaTayyip Erdogan

Mais de Mundo

MH370: o que se sabe sobre avião desaparecido há 10 anos; Malásia decidiu retomar buscas

Papa celebrará Angelus online e não da janela do Palácio Apostólico por resfriado

Albânia fechará o TikTok por pelo menos um ano

Drone ucraniano atinge prédio de 37 andares na Rússia; veja vídeo