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Turquia espera com inquietação negociações de pactos

Após as eleições que deram vitória a partido islamita, começa a fase de negociações na Turquia

O presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan: Erdogan divulgou hoje apenas um breve comunicado (Ints Kalnins/Reuters)
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Da Redação

Publicado em 8 de junho de 2015 às 16h26.

Istambul - Um dia de silêncio, marcado pela incomum ausência midiática do presidente Recep Tayyp Erdogan , inaugurou nesta segunda-feira a fase de negociações pós-eleitorais na Turquia , após os pleitos de domingo que deram a vitória ao islamita AKP, embora tenha perdido a maioria absoluta que ostentava desde 2002.

O desaparecimento do habitualmente ubíquo presidente, cuja imagem é um elemento quase diário nos noticiários de televisão, causou vários comentários nas redes sociais e inclusive já existe na internet um contador que registra os dias, horas e minutos que Erdogan está off-line.

Erdogan divulgou hoje apenas um breve comunicado escrito para avaliar o baque do AKP, partido islamita que fundou em 2001 e presidiu até o ano passado e que ficou agora com 258 cadeiras, 18 abaixo da maioria absoluta.

O presidente turco pediu uma "avaliação sã e realista por todos os partidos" dos resultados eleitorais que, reconheceu, não permitem que nenhum partido governe sozinho.

"No novo processo que começou depois das eleições, é muito importante para todos os partidos atuar de forma responsável e delicada para manter a atmosfera de estabilidade e confiança em nosso país", concluiu.

Para iniciar este processo, Erdogan deveria encarregar o atual primeiro-ministro e dirigente do AKP, Ahmet Davutoglu, de formar um governo, mas não está claro quando acontecerá esta reunião, já que a agenda oficial do presidente hoje aparece em branco.

Das três opções de pactos que tem Davutoglu, a de uma aliança com o partido esquerdista e pró-curdo HDP parece totalmente descartada.

"Prometemos não formar uma coalizão com o AKP. Não lhes apoiaremos nem de fora nem de dentro", prometeu Selahattin Demirtas, o líder desta legenda, na madrugada da segunda-feira, após saber de seus excelentes resultados: 13% dos votos e 80 cadeiras, as mesmas que conquistou o partido direitista e nacionalista MHP, com 16,3%.

O MHP e o social-democrata CHP, com 132 cadeiras, também se mostraram contrários a pactuar com o AKP, embora os analistas não descartem que reconsiderem essa postura.

Um alto cargo do CHP assegurou à Agência Efe que seu partido não descarta também uma coalizão tripartite com MHP e HDP, embora esta opção pareça extremamente difícil, pela animosidade entre nacionalistas de direita e os curdos esquerdistas.

A pergunta é se um Executivo de coalizão seria suficientemente estável para inspirar confiança nos mercados e resolver a pessimista evolução da economia turca, após uma década de rápido crescimento sem bases sólidas.

O analista Sinan Ülgen se mostrou dias antes das eleições a favor de uma grande coalizão entre AKP e CHP, que seria a melhor situada para "diminuir as tensões políticas e regular a economia" e melhorar a imagem da Turquia em política externa.

Mas julgou esta opção "pouco realista" porque, para isso, Erdogan deveria renunciar a todo poder executivo e ficar com as tradicionais atribuições simbólicas do cargo, ao invés de interferir na política como fez desde que ganhou as eleições presidenciais em agosto do ano passado.

"Essa coalizão não poderá ser formada, exceto se Davutoglu enfrentar Erdogan abertamente", comentou Ülgen, algo que parecia pouco provável até ontem, embora o prolongado silêncio de Erdogan volte a dar lugar a especulações.

A priori, uma coalizão do AKP com o MHP parecia "a aposta mais provável" para Ülgen, por ambos partidos compartilharem grande parte de suas bases ideológicas, mas o líder nacionalista, Devlet Bahçeli, também excluiu esta opção em seu discurso após as eleições e anunciou seu desejo de permanecer na oposição.

Também não seria fácil para o AKP, já que o preço seria uma limpeza interna para desfazer-se das várias figuras que protagonizaram escândalos de corrupção, um gesto que poderia abrir fissuras e guerras internas no até agora monolítico partido.

A primeira reação dos mercados perante a incerteza foi uma queda de 8% hoje na Bolsa de Istambul, embora depois o índice tenha se recuperado e a perda tenha ficado em 5%.

A lira turca também experimentou uma queda de 4%, tanto frente ao dólar como em relação ao euro, mas estabilizou-se durante a jornada nestes novos valores.

Em um sinal curioso da mudança política, uma das empresas mais afetadas pelas urnas foi a fabricante de veículos Katmerciler Araç, cujas ações caíram 19%.

Esta empresa fornece às forças policiais turcas os tristemente famosos "Toma", os blindados com potentes canhões de água que se transformaram em uma imagem habitual nas ruas de Istambul desde os protestos cívicos do parque Gezi de Istambul em 2013.

Paradoxalmente, esta desconfiança dos investidores poderia indicar certa esperança de uma política mais sossegada e menos polarizada na Turquia.

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O desaparecimento do habitualmente ubíquo presidente, cuja imagem é um elemento quase diário nos noticiários de televisão, causou vários comentários nas redes sociais e inclusive já existe na internet um contador que registra os dias, horas e minutos que Erdogan está off-line.

Erdogan divulgou hoje apenas um breve comunicado escrito para avaliar o baque do AKP, partido islamita que fundou em 2001 e presidiu até o ano passado e que ficou agora com 258 cadeiras, 18 abaixo da maioria absoluta.

O presidente turco pediu uma "avaliação sã e realista por todos os partidos" dos resultados eleitorais que, reconheceu, não permitem que nenhum partido governe sozinho.

"No novo processo que começou depois das eleições, é muito importante para todos os partidos atuar de forma responsável e delicada para manter a atmosfera de estabilidade e confiança em nosso país", concluiu.

Para iniciar este processo, Erdogan deveria encarregar o atual primeiro-ministro e dirigente do AKP, Ahmet Davutoglu, de formar um governo, mas não está claro quando acontecerá esta reunião, já que a agenda oficial do presidente hoje aparece em branco.

Das três opções de pactos que tem Davutoglu, a de uma aliança com o partido esquerdista e pró-curdo HDP parece totalmente descartada.

"Prometemos não formar uma coalizão com o AKP. Não lhes apoiaremos nem de fora nem de dentro", prometeu Selahattin Demirtas, o líder desta legenda, na madrugada da segunda-feira, após saber de seus excelentes resultados: 13% dos votos e 80 cadeiras, as mesmas que conquistou o partido direitista e nacionalista MHP, com 16,3%.

O MHP e o social-democrata CHP, com 132 cadeiras, também se mostraram contrários a pactuar com o AKP, embora os analistas não descartem que reconsiderem essa postura.

Um alto cargo do CHP assegurou à Agência Efe que seu partido não descarta também uma coalizão tripartite com MHP e HDP, embora esta opção pareça extremamente difícil, pela animosidade entre nacionalistas de direita e os curdos esquerdistas.

A pergunta é se um Executivo de coalizão seria suficientemente estável para inspirar confiança nos mercados e resolver a pessimista evolução da economia turca, após uma década de rápido crescimento sem bases sólidas.

O analista Sinan Ülgen se mostrou dias antes das eleições a favor de uma grande coalizão entre AKP e CHP, que seria a melhor situada para "diminuir as tensões políticas e regular a economia" e melhorar a imagem da Turquia em política externa.

Mas julgou esta opção "pouco realista" porque, para isso, Erdogan deveria renunciar a todo poder executivo e ficar com as tradicionais atribuições simbólicas do cargo, ao invés de interferir na política como fez desde que ganhou as eleições presidenciais em agosto do ano passado.

"Essa coalizão não poderá ser formada, exceto se Davutoglu enfrentar Erdogan abertamente", comentou Ülgen, algo que parecia pouco provável até ontem, embora o prolongado silêncio de Erdogan volte a dar lugar a especulações.

A priori, uma coalizão do AKP com o MHP parecia "a aposta mais provável" para Ülgen, por ambos partidos compartilharem grande parte de suas bases ideológicas, mas o líder nacionalista, Devlet Bahçeli, também excluiu esta opção em seu discurso após as eleições e anunciou seu desejo de permanecer na oposição.

Também não seria fácil para o AKP, já que o preço seria uma limpeza interna para desfazer-se das várias figuras que protagonizaram escândalos de corrupção, um gesto que poderia abrir fissuras e guerras internas no até agora monolítico partido.

A primeira reação dos mercados perante a incerteza foi uma queda de 8% hoje na Bolsa de Istambul, embora depois o índice tenha se recuperado e a perda tenha ficado em 5%.

A lira turca também experimentou uma queda de 4%, tanto frente ao dólar como em relação ao euro, mas estabilizou-se durante a jornada nestes novos valores.

Em um sinal curioso da mudança política, uma das empresas mais afetadas pelas urnas foi a fabricante de veículos Katmerciler Araç, cujas ações caíram 19%.

Esta empresa fornece às forças policiais turcas os tristemente famosos "Toma", os blindados com potentes canhões de água que se transformaram em uma imagem habitual nas ruas de Istambul desde os protestos cívicos do parque Gezi de Istambul em 2013.

Paradoxalmente, esta desconfiança dos investidores poderia indicar certa esperança de uma política mais sossegada e menos polarizada na Turquia.

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