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Turquia enfrenta debate acirrado sobre o véu a poucos meses das eleições

A decisão altamente politizada do partido AKP do presidente Recep Tayyip Erdogan ocorre seis meses antes da próxima eleição e promete acirrar os ânimos

Criança usando véu islâmico  (Znapshot.Photography/Getty Images)

Criança usando véu islâmico (Znapshot.Photography/Getty Images)

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AFP

Publicado em 9 de dezembro de 2022 às 10h06.

O partido governista na Turquia apresentará uma emenda constitucional ao Parlamento na próxima semana para adotar o direito das mulheres de escolher usar ou não o véu islâmico na vida cotidiana, reacendendo uma questão altamente divisiva neste Estado oficialmente laico.

A decisão altamente politizada do partido AKP do presidente Recep Tayyip Erdogan ocorre seis meses antes da próxima eleição e promete acirrar os ânimos.

O fundador do país de maioria muçulmana, Mustafa Kemal Ataturk, procurou resolver essa questão quando construiu a Turquia contemporânea das cinzas do Império Otomano há um século. Mas o uso do véu ou lenço continua dividindo os turcos.

Durante seus 20 anos no poder, primeiro como primeiro-ministro e depois como presidente, Erdogan sempre defendeu os direitos dos muçulmanos conservadores após décadas de governos mais laicos.

Mas foi seu provável rival presidencial do partido laico CHP de Ataturk que pareceu pressionar Erdogan a considerar mudanças constitucionais que poderiam ser submetidas a referendo.

Tentando cortejar os principais apoiadores de Erdogan e tirar parte dos votos do AKP, Kemal Kiliçdaroglu acusou o presidente de tentar "manter as mulheres reféns com o véu".

Ele admitiu que o CHP "cometeu erros no passado" ao impor restrições ao uso do véu e agora quer transformar em lei o direito das mulheres de cobrir a cabeça na escola e no trabalho.

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Levantar restrições

Erdogan imediatamente partiu para a ofensiva. "Existe discriminação contra mulheres com véu ou sem véu nas escolas ou no serviço público? Não! Fomos nós que conseguimos isso", declarou o presidente.

Marginalizado em nome da modernidade quando a República Turca moderna ressurgiu das cinzas do Império Otomano em 1923, o véu foi gradualmente banido de escolas e escritórios.

O AKP começou a mudar isso em 2008, suspendendo a proibição nas universidades, escolas e depois no serviço público, no Parlamento e na polícia.

As mulheres turcas aclamaram essas medidas de forma esmagadora, explica a historiadora Berrin Sonmez, que também é uma fervorosa defensora dos direitos das mulheres.

"Aqueles que veem o véu como um símbolo religioso que contradiz os princípios do secularismo devem entender que (seu modo de pensar) é discriminatório", diz Sonmez.

"Proibido ou obrigatório, o véu viola os direitos das mulheres apenas se as regras para o seu uso forem impostas pelo Estado", acrescenta Sonmez, que usa esta peça.

Com essa lei, as mulheres com véu teriam garantias de usá-lo com segurança na escola ou no trabalho, avalia a historiadora.

Na ausência de estudos mais recentes, ela citou uma pesquisa de 2012 em que 65% das mulheres turcas diziam usar véu ou lenço na cabeça.

Por outro lado, algumas feministas turcas veem o projeto de Erdogan como uma tentativa de garantir o apoio dos setores mais conservadores.

"Tanto a proibição laica do véu quanto seu levantamento foram lançados em nome da emancipação das mulheres, mas, na realidade, ambos buscaram impor sua própria versão da mulher ideal à sociedade", opina Gonul Tol, diretora do programa para a Turquia no Instituto do Oriente Médio com sede nos Estados Unidos.

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