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Trump se vira contra imigrantes da América Central

O presidente declarou que a gangue salvadorenha MS-13 cresceu devido à imigração da América Central e prometeu "libertar as cidades" de sua presença

Trump: "Não sejam carinhosos com criminosos" imigrantes, disse sorrindo aos policiais (Jonathan Ernst/Reuters)

Trump: "Não sejam carinhosos com criminosos" imigrantes, disse sorrindo aos policiais (Jonathan Ernst/Reuters)

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AFP

Publicado em 28 de julho de 2017 às 21h48.

Donald Trump visitou nesta sexta-feira Brentwood, em Long Island, onde a gangue de origem salvadorenha MS-13, que o presidente americano promete erradicar, aterroriza a população, e acusou os imigrantes em situação ilegal provenientes da América Central como causa de seu crescimento.

Neste povoado, onde a sanguinária gangue assassinou 17 pessoas no último ano e meio, todos hispânicos, a maioria da América Central, a população tem tanto medo ou mais da agência migratória ICE e das deportações do que da Mara Salvatrucha (MS-13).

Em seu discurso desta sexta-feira, Trump prometeu "libertar as cidades" da presença da MS-13. "Uma por uma, vamos libertar as cidades americanas. Vocês acreditam no que estou dizendo? Falo de libertar as nossas cidades", insistiu o presidente.

Entretanto, além de uma retórica inflamada, Trump não anunciou nenhuma medida concreta.

Mais de 40 organizações locais afirmam que a visita de Trump a Brentwood é uma estratégia para atiçar a sua base mais conservadora e fazer avançar sua agenda de deportações.

Agitando cartazes e bandeiras, centenas de pessoas se manifestaram contra o presidente em frente à Suffolk County Community College, uma universidade do condado.

No auditório, o presidente declarou que a MS-13 cresceu devido à imigração da América Central e pediu à polícia mais firmeza e mais deportações de imigrantes em situação ilegal.

Trump também pediu ao Congresso que financie 10.000 novos agentes migratórios e que contrate mais juízes de migração e procuradores federais.

"Não sejam carinhosos com criminosos" imigrantes, disse sorrindo aos policiais. O governo de Barack Obama "tinha uma política de portas abertas com os imigrantes ilegais da América Central. Bem-vindos. Venham, por favor", ironizou.

"Como resultado, a MS-13 se alastrou pelo país e destruiu tudo". E continuou: "Fizeram uma carnificina com essas crianças. Sequestram. Extorquem. Estupram e roubam. Observam as crianças. Não deveriam estar aqui [...]. São animais".

"Mas isto mudará agora. Defenderemos nosso país, protegeremos nossas comunidades e colocaremos a segurança dos Estados Unidos em primeiro lugar", indicou o presidente.

Do outro lado da rua, cerca de 30 simpatizantes de Trump gritavam "mais oito anos!".

"A visita de Trump aqui é uma tentativa de generalizar a violência e associá-la com todos os latinos, um pretexto para ver se ganha votos, para promover o seu racismo", disse à AFP o manifestante Edwin Avila, salvadorenho de 44 anos e que há 20 anos mora em Brentwood.

Desde 2014, cerca de 8.000 menores de idade sem documentação chegaram a Long Island fugindo da violência das gangues e da pobreza na América Central. A polícia assegura que muitos são recrutados à força pela MS-13 para entrar no país.

A gangue nasceu entre imigrantes salvadorenhos em Los Angeles nos anos 1980 e foi exportada para a América Central. Hoje há 10.000 integrantes e está presente em todo o país. Em Long Island existem 400 membros.

Os ativistas de Brentwood e seus arredores se queixam que o governo federal nunca os perguntou do que a comunidade precisa para enfrentar a gangue. E dizem que a resposta não é criminalizar ainda mais as comunidades de imigrantes, mas ajudar as lotadas e pobres escolas públicas da área, e criar mais programas extracurriculares que mantenham os jovens fora das ruas.

Da capital de El Salvador, o procurador-geral dos Estados Unidos, Jeff Sessions, advertiu nesta sexta sobre o perigo da expansão internacional da MS-13, classificando como uma das gangues mais brutais do mundo.

"Hoje nos reunimos não muito distante da sede de uma das gangues mais brutais, conhecida como MS-13", disse Sessions durante discurso pronunciado em cerimônia de graduação de oficiais da Academia Internacional para o Cumprimento da Lei (ILEA).

Para o procurador americano, somente uma "coordenação multilateral" das autoridades poderá "frustrar eficazmente o flagelo das organizações criminosas transnacionais".

Sessions também qualificou o procurador salvadorenho Douglas Meléndez como "guerreiro" por sua "liderança e valentia".

"Me olhar nos olhos"

Robert Mickens, pai de Nisa, uma jovem de 15 anos morta esfaqueada e com golpes de bastões de beisebol em setembro junto com sua amiga Kayla Cuevas, está satisfeito com a visita de Trump.

"Sua presença mostrará às pessoas que estão levando o assunto a sério. Deve ajudar", disse à AFP Mickens, de 40 anos.

As autoridades não o contactaram, mas o que Mickens queria era que Trump o visitasse em sua casa, visse as fotos de sua filha e entendesse o vazio que ficou em sua vida.

O presidente "precisa me olhar nos olhos e ver a dor que existe, precisa ver o que me tiraram. Uma filha inteligente, atlética, com o coração de uma rainha", afirmou.

Para Jim Thompson, enfermeiro de 60 anos, "é muito positivo que Trump esteja aqui" para falar da violência das gangues e sua ligação com a imigração ilegal.

A polícia local diz ter prendido mais de 170 membros da MS-13 desde o assassinato das duas adolescentes, incluindo seus supostos autores e responsáveis pelas mortes de outros quatro jovens cujos corpos apareceram em abril em um parque público de Central Islip, povoado vizinho a Brentwood.

Quase 100% das vítimas da MS-13 são hispânicos em situação ilegal.

"Precisamos da cooperação da comunidade para resolver esses crimes. Mas uma comunidade aterrorizada por uma batida migratória não fará denúncias. A visita de Trump só prejudicará", considerou Phil Ramos, vereador democrata de Brentwood.

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