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Trump enfrenta onda de protestos em primeiro dia na Casa Branca

Organizada pelas redes sociais, a manifestação defende os direitos das mulheres, mas também dos imigrantes, dos muçulmanos e dos gay

Protesters take part in the Women's March in Paris, France, January 21, 2017. The march formed part of a worldwide day of action following the inauguration of Donald Trump to U.S. President. REUTERS/Jacky Naegelen (Jacky Naegelen/Reuters)

Protesters take part in the Women's March in Paris, France, January 21, 2017. The march formed part of a worldwide day of action following the inauguration of Donald Trump to U.S. President. REUTERS/Jacky Naegelen (Jacky Naegelen/Reuters)

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AFP

Publicado em 21 de janeiro de 2017 às 13h39.

Última atualização em 21 de janeiro de 2017 às 15h19.

Após apenas uma noite na Casa Branca, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, enfrenta neste sábado (21) uma grande manifestação impulsionada por mulheres cuja convocação se espalhou como um rastilho de pólvora pelas redes sociais.

Dezenas de milhares de manifestantes já se concentram perto do Congresso para defender os direitos das mulheres, mas também dos imigrantes, dos muçulmanos e dos gays, enquanto Trump acompanha um serviço interreligioso na catedral nacional de Washington.

A "Marcha das Mulheres", que espera reunir mais de 200.000 manifestantes e avançar dois quilômetros pelo "National Mall", onde Trump foi empossado como presidente na sexta-feira, é um sinal da polarização da sociedade americana.

Longas filas de quase três quadras para entrar em estações de metrô como a de Bethesda, nos arredores de Washington, já demonstravam a magnitude do evento. Os vagões estavam repletos de mulheres segurando cartazes com frases como "Alguém viu minha máquina do tempo?", "Meu corpo, minha decisão" ou "Lute como uma menina".

"A marcha é uma demonstração de nossa solidariedade e nossa crença de que os Estados Unidos devem ser grandes e devem respeitar todas as pessoas, de todos os credos e cores", declarou à AFP Lisa Gottschalk, uma cientista de 55 anos que viajou da Pensilvânia para protestar.

"Estou muito preocupada pelo novo presidente. Vamos garantir que não faça coisas desonestas ou injustas", acrescentou.

Cerca de 225.000 pessoas confirmaram sua participação na página do Facebook da marcha, e outras 250.000 disseram estar interessadas no evento.

Durante sua polêmica campanha, Trump foi acusado de comportamento impróprio com várias mulheres, depreciou uma ex-Miss Venezuela por estar acima do peso, insultou imigrantes mexicanos, classificando-os de "estupradores" e "narcotraficantes", zombou de um jornalista com deficiência e ameaçou fechar as fronteiras do país a todos os muçulmanos.

Na sexta-feira, centenas de manifestantes já protestaram contra Trump durante a cerimônia de posse. A maioria de maneira pacífica, embora tenham sido registrados confrontos violentos com a polícia em dois protestos que terminaram com 217 detidos.

Uma longa lista de oradores, entre os quais figuram o cineasta Michael Moore, a atriz Scarlett Johansson e a lendária defensora dos direitos civis Angela Davis, esquentará os ânimos dos manifestantes antes do início da marcha.

As cantoras Cher e Katy Perry e a atriz Julianne Moore também anunciaram sua participação.

"A Marcha das Mulheres enviará uma mensagem clara ao mundo e ao nosso novo governo em seu primeiro dia no cargo de que os direitos das mulheres são direitos humanos", disseram os organizadores.

Tudo surgiu com uma ideia de uma desconhecida advogada aposentada do Havaí, Teresa Shook, que cresceu como uma bola de neve nas redes sociais.

"E se as mulheres marchassem em massa em Washington durante a posse?", perguntou. Quando foi dormir, tinha 40 "curtidas". Quando acordou, mais de 10.000, e a convocação seguiu crescendo.

Esta é a primeira vez em 40 anos que um presidente recém eleito tem uma popularidade tão baixa, de apenas 37%, segundo uma pesquisa da CBS News.

Embora Hillary Clinton tenha vencido na votação popular com três milhões de votos a mais que seu rival, isso não bastou para torná-la a primeira presidente dos Estados Unidos. Trump venceu a eleição com 308 votos do colégio eleitoral.

- Um gorro rosa para pedir mais respeito -

"Apenas uma semana depois da eleição de Trump, comprei a passagem de ônibus para vir a Washington à marcha. Para mim, é uma questão de ativismo pacífico", declarou Cecile Scius, uma manifestante de 33 anos do Queens, Nova York, que tem quatro filhos.

Como milhares de manifestantes, Scius vestirá um gorro de lã rosa com duas orelhas de gato, que foi produzido por vizinhas de seu bairro de Sunnyside e que se converteu em novo símbolo do desafio ao novo governo.

Os gorros, ou "pussy hats", como são chamados em inglês, têm orelhas de gato: é um trocadilho, porque a palavra em inglês "pussy" tanto pode significar gatinho quanto a forma pejorativa de se referir ao órgão sexual feminino.

A palavra faz referência direta a um áudio de 2005 vazado durante a campanha eleitoral em que Trump, conhecido por sua retórica controversa e divisionista, afirma que "quando você é uma estrela, (as mulheres) deixam você fazer o que quiser. Pode agarrá-las pela buceta".

A marcha é apoiada oficialmente pela Anistia Internacional e pela Planned Parenthood, a maior rede de planejamento familiar do país, da qual os republicanos do Congresso querem tirar o financiamento.

Também estarão presentes representantes do movimento Black Lives Matter, uma associação especializada na denúncia de abusos policiais contra os negros.

Trezentas "marchas irmãs" serão realizadas em outras grandes cidades do país, assim como no exterior.

As primeiras foram registradas na Austrália e na Nova Zelândia.

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