Tribunal de Mianmar rejeita recurso de repórteres presos
Dois repórteres foram condenados a 7 anos de prisão por violação da Lei de Segredos Oficiais de Mianmar
Reuters
Publicado em 11 de janeiro de 2019 às 10h39.
Última atualização em 11 de janeiro de 2019 às 10h39.
Yangon - Um tribunal de Mianmar rejeitou nesta sexta-feira recurso de dois repórteres da Reuters condenados a 7 anos de prisão por violação da Lei de Segredos Oficiais do país, dizendo que a defesa não forneceu evidências suficientes para mostrar que eles são inocentes.
Wa Lone, de 32 anos, e Kyaw Soe Oo, de 28, foram condenados em setembro do ano passado em um caso histórico que tem posto em dúvida o avanço democrático em Mianmar e desencadeado indignação de diplomatas e ativistas de direitos humanos.
"Foi uma punição adequada", disse o juiz Aung Naing, em referência à sentença de 7 anos de prisão imposta pela instância inferior.
A defesa ainda tem a opção de recorrer à Suprema Corte do país, na capital Naypyitaw.
"A decisão de hoje é mais uma injustiça, entre muitas, infligidas a Wa Lone e Kyaw Soe Oo. Eles permanecem atrás das grades por uma razão: os que estão no poder tentaram silenciar a verdade", disse o editor-chefe da Reuters, Stephen J. Adler, em comunicado.
"Fazer reportagens não é um crime e, até que Mianmar corrija esse terrível erro, a imprensa em Mianmar não está livre e o compromisso de Mianmar com o Estado de direito e com a democracia permanece em dúvida".
Durante os argumentos do recurso, apresentados no mês passado, os advogados de defesa citaram evidências de uma armação policial e a falta de provas do crime. Eles disseram ao tribunal de apelações que a instância inferior havia incorretamente colocado o ônus de prova nos réus.
A defesa também afirmou que os procuradores não conseguiram provar que os repórteres coletaram informações confidenciais, enviaram dados a um inimigo de Mianmar ou que tinham a intenção de prejudicar a segurança nacional.
Khine Khine Soe, autoridade legal representante do governo, disse em audiência no mês passado que as evidências provam que os repórteres coletaram e mantiveram documentos confidenciais. Ela disse que os jornalistas tinham o objetivo de comprometer a segurança e o interesse nacional.
Nesta sexta-feira, o juiz disse que "não é aceitável" dizer que os réus agiram de acordo com a ética jornalística. "Não pode ser dito que foi uma armação", disse.
O advogado de defesa Than Zaw Aung, falando após a decisão, disse que sua equipe discutirá com os dois repórteres a opção de recorrer à Suprema Corte. "Estamos muito decepcionados com o julgamento", disse.
Antes de serem presos, os repórteres estavam trabalhando em uma investigação da Reuters sobre o assassinato de 10 muçulmanos rohingyas por forças de segurança de Mianmar e civis budistas no Estado de Rakhine, durante uma campanha de repressão militar que começou em agosto de 2017.
A operação fez com que mais de 730 mil rohingyas fugissem para Bangladesh, de acordo com estimativas da ONU.