Tony Blair: Abandono ocidental do Afeganistão é perigoso e desnecessário
O ex-primeiro-ministro britânico estimou que a estratégia atual dos aliados irá prejudicá-los a longo prazo
André Lopes
Publicado em 22 de agosto de 2021 às 10h41.
O ex-primeiro-ministro britânico Tony Blair, que envolveu em 2001 o Reino Unido na guerra no Afeganistão , classificou neste sábado o que chamou de "abandono" do país asiático como "perigoso" e "desnecessário".
“O abandono do Afeganistão e do seu povo é trágico, perigoso, desnecessário, não é do interesse deles, nem do nosso”, afirma Blair em artigo publicado no site da sua fundação.
Em seu primeiro comentário público sobre a crise provocada pelo colapso do governo afegão, ocorrido no último fim de semana, o ex-primeiro-ministro trabalhista (1997-2007) critica duramente as ações ocidentais: "Após a decisão de devolver o Afeganistão ao mesmo grupo do qual emergiu o massacre do 11 de Setembro, e de uma forma que parece quase desenhada para fazer alarde sobre a nossa humilhação, a pergunta que se fazem tanto aliados, quanto inimigos, é: o Ocidente perdeu sua vontade estratégica? ”
Blair, uma figura controversa no Reino Unido e no exterior por seu forte apoio à ofensiva militar liderada pelos EUA no Afeganistão e, posteriormente, no Iraque, estimou que a estratégia atual dos aliados irá prejudicá-los a longo prazo.
“O mundo não sabe agora qual é a posição do Ocidente, porque é muito evidente que a decisão de se retirar do Afeganistão dessa forma não foi movida por uma grande estratégia, e sim por política”, avaliou.
Para o ex-chefe de governo britânico, isso foi feito "com todos os grupos jihadistas do mundo vibrando". "Rússia, China e Irã verão e irão se aproveitar. Qualquer um que tenha recebido compromissos dos líderes ocidentais irá considerá-los, compreensivelmente, instáveis", criticou.
Tony Blair, um dos líderes britânicos que permaneceram por mais tempo no poder, formou uma aliança estreita com o ex-presidente dos Estados Unidos George W. Bush durante a chamada "guerra contra o terrorismo".
Seu forte apoio às intervenções militares cada vez mais impopulares no Oriente Médio foi um fator-chave para que o político trabalhista acabasse cedendo o poder a Gordon Brown em 2007.