The Economist: novo câmbio chinês é bem-vindo, mas não resolve tudo
Publicação britânica diz que "uma solução duradoura para os desequilíbrios globais passa necessariamente por reformas que combatam o excesso de poupança dos chineses"
Da Redação
Publicado em 6 de setembro de 2010 às 17h26.
São Paulo - A edição desta semana da revista The Economist, que chega às bancas nesta quinta-feira (24), diz que "a flexibilização cambial na China é bem-vinda, mas não causará os efeitos desejados rapidamente". "Tudo dependerá de quão rapidamente a moeda estará autorizada a subir."
A publicação britânica lembra que o anúncio do governo chinês aconteceu dias antes da reunião do G-20, no Canadá, após meses de pressão política dos países desenvolvidos. "A decisão da China é oportuna porque alivia os receios de que o governo não estava comprometido com o reequilíbrio da sua economia."
O crescimento das exportações chinesas, em maio, levantou preocupações de que o gigante asiático iria novamente se apoiar no mercado externo para crescer, "justamente agora que o mundo rico está emergindo da recessão". Outro ponto importante é que a China consegue desarmar o argumento dos críticos de que ela subsidia ilegalmente os exportadores via iuane (nome em português da moeda chinesa, yuan) artificialmente barato.
A reportagem da Economist diz ainda que a China ganhará mais instrumentos para desaquecer a economia e controlar a inflação. Um deles é aproveitar a moeda valorizada para importar produtos mais baratos. "Ainda melhor, o abandono do câmbio atrelado ao dólar permite a utilização efetiva da política de taxa de juros."
Porém, os desequilíbrios comerciais não são resolvidos apenas com um ajuste monetário. Por um lado, a moeda mais valorizada aumentaria o poder de compra da população, aquecendo a demanda doméstica. Por outro, as indústrias chinesas exportadoras seriam afetadas e eventuais trabalhadores demitidos teriam de procurar emprego em outro setor. "Portanto, é possível que, num primeiro momento, a valorização cambial gere um aumento no desemprego em vez de impulsionar o mercado interno", diz a reportagem.
A publicação diz que "uma solução duradoura para os desequilíbrios globais passam necessariamente por reformas que combatam o excesso de poupança dos chineses". É preciso facilitar o acesso das pequenas empresas de serviços de trabalho internsivo à competição com as companhias subsidiadas pelo governo.
"Isso significa uma melhor governança corporativa para ajudar a desbloquear o dinheiro acumulado por empresas estatais e espalhá-lo pela economia. Precisa-se de uma ampla rede de proteção social para convencer os chefes de família de que eles não precisam se precaver de uma eventual catástrofe." E finaliza a reportagem: "A moeda valorizada é o primeiro passo nessa direção. Mas ela não consegue promover toda a transformação necessária na economia chinesa."
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