Ataque terrorista do Talibã no Afeganistão: pela primeira vez desde 2014, Talibã toma do Estado Islâmico o posto de grupo terrorista mais violento do mundo (Mohammad Ismail/Reuters)
Gabriela Ruic
Publicado em 20 de novembro de 2019 às 11h36.
Última atualização em 20 de novembro de 2019 às 11h45.
São Paulo – O Talibã, organização que atua no Afeganistão, é o grupo terrorista mais violento do planeta e seus ataques se tornaram mais mortais do que aqueles conduzidos pelo Estado Islâmico (EI), ativo na Síria e no Iraque. É a primeira vez em seis anos que os terroristas do EI são destronados dessa posição.
A constatação é do Índice Global do Terrorismo (Global Terrorism Index 2019), divulgado nesta quarta-feira. O relatório é produzido todos os anos pelo Instituto para Economia e Paz, centro de pesquisas que estuda os impactos macroeconômicos da violência e da paz. Na análise, a atividade de afiliados não é considerada na avaliação de um grupo, mas sim separadamente.
Em 2018, as mortes decorrentes de ataques por militantes do Talibã responderam por 38% do total de fatalidades em atos terroristas no mundo (6.103 mortes), um aumento de 71% na comparação com o ano anterior.
No caso do Estado Islâmico, as mortes caíram 69% (1.328) e o número de ataques despencou 63%. Os dados refletem o enfraquecimento das atividades do grupo em razão do combate realizado pela coalizão liderada pelos Estados Unidos. O estudo estima que, atualmente, há 18.000 militantes do EI no Iraque e na Síria. Em 2014, esse número chegou a 70.000.
Apesar no aparente enfraquecimento das atividades do Estado Islâmico, o estudo alerta para um fortalecimento no nível de atividades terroristas por grupos afiliados, baseados em outros países, como é o caso do chamado Estado Islâmico Província de Khorasan, ativo no Afeganistão e no Paquistão.
O impulso nas atividades do Talibã e do afiliado do Estado Islâmico fez do Afeganistão o país que mais sofreu com ataques terroristas em 2018, posto ocupado pelo Iraque desde 2003. Palco de uma intensa guerra civil entre militantes do Talibã e governo, situação agravada pela atividade de outros grupos terroristas, o país registrou 7.379 mortes em 2018, aumento de 59% ante 2017.
Os quatro grupos terroristas mais violentos do mundo, revelou o índice, foram responsáveis por 9.223 mortes em todo o planeta e representaram 58% de todas as fatalidades decorrentes desse tipo de ataque. Há dez anos, o único grupo significativamente ativo no mundo era o Talibã. Veja abaixo o ranking produzido pelo índice.
Número de mortes em 2018: 6.103
Em atividade desde 1994, o Talibã conquistou o controle do Afeganistão em 1996 e permaneceu nessa posição até 2001, quando tropas da Otan invadiram o país e derrubaram o regime. Desde então, o Talibã vem liderando uma insurgência contra o governo afegão e o grupo internacional liderado pelos Estados Unidos que atua na segurança do país. Em 2019, os EUA tentaram negociar um acordo de paz com os militantes, mas a conversa naufragou.
Número de mortes em 2018: 1.328
O Estado Islâmico na Síria e no Iraque observou uma queda brusca nas suas atividades em decorrência das operações da coalizão internacional liderada pelos Estados Unidos. Apesar do enfraquecimento, o estudo lembra que vem crescendo o número de afiliados mundo afora.
Há, ainda, outro problema: os militantes estrangeiros que atuaram no grupo e retornaram aos seus países de origem. Segundo o relatório, 18% dos 42 mil combatentes estrangeiros voltara para casa, mas ainda há um número considerável preso na Síria.
Número de mortes em 2018: 1.060
Braço do Estado Islâmico no Afeganistão, Paquistão e Índia, esse grupo terrorista surgiu em 2014 com o objetivo de estabelecer um califado islâmico na região histórica persa de Khorasan, que abarcava, por exemplo, partes do que é hoje o Irã e o Afeganistão, mas que incluiria também outros países. Declarou lealdade ao EI em 2015 e tem no Talibã um rival com quem frequentemente entra em combate.
Número de mortes em 2018: 589
O grupo terrorista é o mais violento em atividade na África subsaariana, atuando principalmente na Nigéria, mas também em países limítrofes, como Camarões e Burkina Faso, e ganhou fama internacional depois do sequestro de quase 300 meninas em uma escola localizada em Chibok (Nigéria) em 2014.
Uma característica que o difere de outros grupos extremistas islâmicos é o fato de o Boko Haram recrutar mulheres e crianças para seus ataques. O estudo estima que dois terços do total de combatentes do grupo terroristas são mulheres e que uma em três é menor de idade.