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Talibã permitirá que mulheres estudem, mas separadas dos homens

O anúncio preocupa universidades, que afirmam não ter meios materiais e financeiros para se adequar à separação por sexo e que isso pode estimular os alunos a deixar o país para estudar no exterior

Mulher caminha em mercado de Cabul vestida com uma burca: temor de retrocesso de direitos com Talibã no poder. (AFP/AFP)

Mulher caminha em mercado de Cabul vestida com uma burca: temor de retrocesso de direitos com Talibã no poder. (AFP/AFP)

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AFP

Publicado em 12 de setembro de 2021 às 16h36.

Os talibãs permitirão que as mulheres estudem na universidade, desde que o façam separadamente dos homens, confirmou neste domingo (12) o ministro do Ensino Superior do novo regime afegão.

"Nossos combatentes assumiram suas responsabilidades" ao reconquistar o poder, disse Abdul Baqui Haqqani em um coletiva de imprensa em Cabul, na qual destacou a importância do sistema universitário.

O Ocidente acusa o regime talibã de querer negligenciar a educação.

"A partir de agora, a responsabilidade pela reconstrução do país cabe às universidades. E estamos esperançosos, porque o número de universidades aumentou consideravelmente" em comparação com a época do primeiro regime talibã (1996-2001), insistiu.

"Isso nos deixa otimistas para o futuro, para construir um Afeganistão próspero e autônomo (...) Devemos fazer bom uso dessas universidades", acrescentou.

Ele também confirmou que o governo vai proibir as aulas mistas nas universidades, permitidas pelo governo deposto em meados de agosto.

"Isso não representa nenhum problema para nós. São muçulmanos e vão aceitar isso. Decidimos separar (homens e mulheres) porque as classes mistas são contrárias aos princípios do Islã e às nossas tradições", disse.

Segundo ele, a educação mista foi imposta pelo governo pró-Ocidente dos últimos 20 anos, apesar do fato das universidades solicitarem aulas separadas para mulheres e homens.

O novo governo talibã anunciou na semana passada que permitiria que as mulheres estudassem na universidade, sob condições estritas: usar véu completo e em aulas separadas dos homens ou divididas por uma cortina se houver poucas meninas.

O anúncio preocupa algumas universidades, que afirmam não ter meios materiais e financeiros para se adequar à separação por sexo e que isso pode estimular os alunos (frequentadores de turmas mistas) a deixar o país para estudar no exterior.

Também preocupa a Unesco, que estimou na sexta-feira que o "imenso" progresso feito desde 2001 na educação no Afeganistão está em "perigo" com os talibãs e alertou para os riscos de uma "catástrofe geracional" que poderia afetar o desenvolvimento do país "por anos".

No sábado, porém, centenas de afegãs vestidas com o véu integral manifestaram em uma universidade de Cabul apoio ao Talibã.

Durante os anos em que esteve no poder (1996-2001), o Talibã suprimiu os direitos das mulheres afegãs e restringiu suas liberdades mais simples, como estudar, trabalhar ou sair sozinhas.

Os afegãos e a comunidade internacional esperam para ver como o novo governo definirá os padrões que afetarão as mulheres e sua vida em sociedade.

A sharia, lei islâmica, foi aplicada com muito rigor entre 1996 e 2001.

Segundo os fundamentalistas islâmicos, agora as mulheres também poderão trabalhar, mas respeitando os "princípios do Islã", algo que pode ser interpretado de várias maneiras.

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