Mundo

Tailândia tenta reeducar transexuais em mosteiros

Pipop, "noviço" em templo, foi enviado pela família para perto da fronteira com o Laos, para "tornar-se homem"

Mosteiro na Tailândia: curso para "virar homem" é para jovens de até 18 anos (Christophe Archambault/AFP)

Mosteiro na Tailândia: curso para "virar homem" é para jovens de até 18 anos (Christophe Archambault/AFP)

DR

Da Redação

Publicado em 18 de julho de 2011 às 17h25.

Chiang Khong, Tailândia - "Eles têm regras aqui; dizem que um noviço não pode usar cosméticos, correr para todos os lados ou mostrar-se afeminado". Mas Pipop está convencido de que é mulher e de que a "reeducação" à qual está sendo submetido, no mosteiro tailandês onde está internado, será um fracasso.

Aos 15 anos, escondido em sua cela, aplica delicadamente pó de arroz no nariz e na face. "Não quero que meu rosto apareça gorduroso ou sujo, nem ficar com a pele fosca".

Seu gesto, no entanto, revela insubmissão. Pipop Thanajindawong, há dois anos, foi enviado a Bangcoc pela família para este templo, o Wat Kreung Tai Wittaya, perto da fronteira com o Laos.

Objetivo anunciado: "tornar-se homem".

Uma missão incompatível com um país onde a tolerância é grande em relação a todas as práticas sexuais, onde os homossexuais são aceitos e os transexuais são considerados um "terceiro sexo" à parte.

A Tailândia é, de fato, um dos países do mundo onde são mais numerosos. Mas sem dúvida, a família de Pipop não tem essa abertura de espírito.

O filho foi enviado para viver como um monge. Despertar ao alvorecer, coleta de esmola e estudos do budismo não o diferenciam dos outros noviços, nesta etapa pela qual todos os tailandeses passam, numa fase a outra de sua existência.

Mas ele acompanha também, às sextas-feira, um curso numa escola perto do templo, onde o provisor Phra Pitsanu destaca as evidências. "Você não pode ser outra coisa senão parte de seu gênero verdadeiro, que é ser homem. Enquanto noviço, não pode ser senão um homem".

Perfume e cosméticos são proibidos, assim como o canto, a música. E até correr. Mas as infrações não são raras.

"Às vezes, damos a Pipop dinheiro para ele comprar merenda, mas ele o economiza, para se oferecer essa espécie de máscara", lamenta o provisor.

"Não podemos mudar todos eles mas, sim, controlar seu comportamento, para fazê-los compreender que nasceram homens (...) e não podem agir como se fossem mulheres", comenta, apesar de confessar que três de seis desses estudantes diplomados decidiram, apesar de tudo, tornar-se mulheres.

O templo inaugurou o curso para jovens entre 11 e 18 anos, em 2008, como iniciativa do diretor precedente, Phra Maha Vuthichai Vachiramethi. Ele temia que os transexuais - ou "katoeys"- nos noviciados "fragilizassem a estabilidade do budismo tailandês".

Hoje, ele espera que outros mosteiros adotem seus metodos para "solucionar esse desvio de comportamento".

Esse discurso deixa indignado Natee Teerarojanapong, militante dos direitos dos homossexuais e das minorias, para quem tentar modificar a percepção dos adolescentes de sua identidade sexual é "extremamente perigoso".

"Esses rapazes vão acabar por se detestarem, porque terão ouvido os monges lhes dizer que a homosexualidade é nociva. É terrível para eles. Jamais serão felizes".

Phra Atcha Apiwanno, 28 anos, considera, também, que a sociedade tailandesa não é assim tão tolerante quanto parece. A estigmatização é tanta que ele desistiu. "Tornei-me monge para quebrar meus hábitos, controlar minhas expressões (...).

Quanto a Pipop, parece constantemente em luta interior. Precisou interromper seu tratamento hormonal, assim como seus vestidos; a maquilagem consiste, apenas, num pouco de pó de arroz.

Diz, no entanto, que depois dos estudos vai se submeter a uma cirurgia. E no final do curso vai criar, hurlar. "Serei, enfim, capaz de ser eu mesmo".

Acompanhe tudo sobre:ÁsiaReligião

Mais de Mundo

Torre Eiffel é evacuada devido a incêndio e curto-circuito em sistema de elevadores; veja vídeo

Novas autoridades sírias anunciam acordo para dissolução dos grupos armados

Porto de Xangai atinge marca histórica de 50 milhões de TEUs movimentados em 2024

American Airlines retoma voos nos EUA após paralisação nacional causada por problema técnico