Garotos afegãos tomam sorvete: a empresa envia a cada dia 30 toneladas de sorvete por todo país, inclusive nas áreas dominadas pelos talibãs e nas de difícil acesso (Omar Sobhani/Reuters)
Da Redação
Publicado em 30 de outubro de 2012 às 12h22.
Herat - Pode ser que os talibãs e os soldados afegãos possuem diferenças em seu modo de pensar, mas pelo menos eles compartilham um ponto em comum: saborear os sorvetes Herat, marca de referência até nos vales mais remotos do Afeganistão.
"Com as temperaturas tão altas que temos (no Afeganistão), todo mundo adora os sorvetes e, inclusive, os talibãs, que também os consomem", explicou à Agência Efe o sorridente Fayiz Ahmad Faizi, presidente e fundador desta companhia afegã de sorvete.
Apesar dos intensos e constantes combates em algumas regiões e das estradas estarem infestadas de minas, Faizi garante que os caminhões de sua companhia circulam livremente por todo o território afegão, enquanto seus empregados são recebidos "de braços abertos" em todo o país.
A sorvetes-Herat, que também produz outros produtos lácteos, começou suas atividades em 2002, com um investimento de US$ 500 mil. Atualmente, já como uma empresa líder no setor, a Herat está avaliada em mais de US$ 12 milhões.
Desde sua fábrica, situada na cidade ocidental de Herat - que deu nome à companhia -, os trabalhadores enviam a cada dia 30 toneladas de sorvete por todo país, inclusive nas áreas dominadas pelos talibãs e nas de difícil acesso.
"Temos mais de 300 trabalhadores na fábrica e mais outros mil no exterior, a maioria atuando na distribuição dos sorvetes e dos produtos lácteos", afirmou o presidente e fundador da Herat.
Faizi distribui seus produtos - sorvetes, barras de chocolate e alguns doces - desde os centros de distribuição das cidades de Herat, Cabul (este), Kandahar (sul) e Mazar-e-Sharif (norte) até às 34 províncias afegãs.
O fundador da Herat também lembra que, antes de tomar a decisão de abrir a maior fábrica de sorvetes do Afeganistão, era um homem de negócios que se dedicava à importação e exportação de diferentes mercadorias da China, França e Tailândia.
No entanto, durante uma viagem à China, ele visitou uma fábrica de sorvetes local e, de imediato, decidiu que tinha que fazer o mesmo em sua cidade de origem, famosa pela fabricação caseira de sorvetes, mas onde nunca ninguém tinha produzido a iguaria em escala industrial.
Agora, após ter transformado seu sonho em realidade, Faizi reconhece que deve enfrentar inúmeras preocupações diárias, como a segurança de seus trabalhadores em um país em guerra, os problemas com o fornecimento de energia e a concorrência iraniana.
"Os sorvetes provenientes do Irã são vendidos a preços muito baixos, muito inferiores ao nosso. Se um Herat é vendido a 10 afganis (US$ 0,20), os iranianos são vendidos pela metade do preço. Neste caso, o objetivo é debilitar às empresas afegãs", apontou Faizi.
Apesar das adversidades, o empresário se mostra otimista e, enquanto caminha pelas instalações de sua fábrica localizada em um polígono industrial no arredor de Herat, assegura que dentro de dois anos também começará a exportar seus produtos para outros países asiáticos.
Uma das causas para o êxito dos sorvetes Herat é, segundo muitos habitantes, o acerto da companhia ao escolher o tema principal da trilha sonora de "Titanic", "My Heart Will Go On", para acompanhar os carrinhos de sorvete e avisar a todos sua presença.
"Gosto muito do sorvete Herat, principalmente pela encantadora melodia do "Titanic" que os vendedores fazem soar a sua passagem", diz à Agência Efe Bashir Nader, um adolescente kabulí de 14 anos.
O costume no país é que os vendedores das distintas marcas façam soar uma melodia com um megafone para anunciar sua passagem, e escutar a "música do Titanic" para as crianças é sinônimo de sair à rua e tomar um bom gelado.