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Sol ligado na tomada

Por que a energia solar pode ser uma das principais fontes de eletricidade do Brasil na próxima década.

EXAME.com (EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h37.

Até 2020, sua casa poderá virar uma pequena usina fotovoltaica. Grandes placas instaladas no telhado ou no terreno vão captar a energia do Sol e transformá-la em eletricidade, que será consumida por lâmpadas, gadgets e outros eletrônicos. O que sobrar irá diretamente para a rede elétrica, e as concessionárias vão pagar por esse excedente. Com isso, quase todo mundo terá a chance de se tornar um microempresário do setor energético.

A previsão acima não é um exercício de futurologia. Países como a Alemanha já adotam esse modelo, e com tremendo sucesso. Só no ano passado, foram instalados cerca de 100 mil telhados solares nesse país. Na opinião de especialistas na área, como Ricardo Rüther, professor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), o mesmo cenário tem grandes chances de se repetir por aqui. "A energia fotovoltaica vai ser competitiva no Brasil dentro de dez anos", diz.

A preocupação com o aquecimento global fez explodir o interesse por energias renováveis e limpas, que passaram a receber investimentos cada vez maiores em todo o mundo. E o que pode ser mais ecológico do que captar a luz do Sol e convertê-la em eletricidade? Além da Alemanha, o time das superpotências solares inclui Espanha, Estados Unidos e Japão. Juntos, os quatro países geram aproximadamente 50% dos cerca de 14 gigawatts produzidos no planeta.

Lá e aqui, o maior impedimento para a popularização dos sistemas fotovoltaicos está no preço dos equipamentos. Mas os valores têm caído vertiginosamente. No final da década de 70, cada watt produzido por meio de células fotovoltaicas custava nada menos do que 150 dólares. Hoje, o preço varia entre 3 e 4 dólares. "Quando o valor baixar para entre 1,5 e 2 dólares, conseguirá competir com qualquer outro tipo de energia", afirma Adriano Moehlecke, professor da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS).

Isso já deve se tornar realidade nos próximos anos, uma vez que a energia solar está cada vez mais em alta. A venda de sistemas desse tipo em todo o planeta aumentou 85% em 2008, na comparação com 2007. E não foi pequena a quantidade de aparelhos comercializados no período: somada, a produção desses módulos fotovoltaicos chega a 8 gigawatts, pouco mais da metade da potência da Usina de Itaipu. No Brasil, no entanto, esse volume ainda é desprezível - os produtos mais bem-sucedidos na área são os aquecedores solares. O que vai fazer esse panorama mudar? 


 

Placas saem do forno

Pesquisadores brasileiros têm procurado uma solução. É o caso de Moehlecke e da professora Izete Zanesco, também da PUC-RS. Eles montaram uma planta-piloto para produzir módulos fotovoltaicos com tecnologia nacional. A mini-indústria fabrica células solares que alcançam efi ciência energética de até 15,4% - a média mundial está em 14%. "Estamos produzindo todos os dias", diz Moehlecke. "O próximo passo será transferir essa tecnologia para as empresas."

Entre a década de 80 e o início dos anos 90, o Brasil já teve uma indústria mundialmente renomada na área de produção de sistemas fotovoltaicos, a Heliodinâmica. Situada em Vargem Grande Paulista (SP), ela não suportou a concorrência estrangeira, que conseguia fazer produtos mais baratos, e desapareceu do mapa. "Em 1986, fomos responsáveis por mais de 5% da produção mundial", afirma Bruno Topel, presidente da empresa. "Agora estamos em reestruturação." Embora o site da companhia ainda esteja no ar, não é possível mais adquirir seus painéis.

A instalação de sistemas solares nas residências, com a venda de parte da energia para as concessionárias, é vista como uma das alternativas mais promissoras para a área superar as dificuldades do passado e deslanchar. Tudo indica que o processo vai começar nos estados em que os preços da energia solar e tradicional devem se igualar primeiro: Minas Gerais, Tocantins, Mato Grosso do Sul e Ceará. Mas para que um modelo similar ao da Alemanha seja adotado, é necessário mudar a legislação brasileira. Hoje, pessoas físicas não podem conectar cabos à rede elétrica e sair comercializando watts.


 

Eletrizando a floresta

Enquanto a mudança não vem, os principais investimentos do governo federal e de empresas estatais do setor concentram-se na energização de comunidades isoladas ou de pontos de difícil acesso no país, como a Amazônia. De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), até 2007 havia 1,2 milhão de casas no país sem nenhuma iluminação elétrica, ou 2,3% do total.

 Em muitos desses lugares, criar conexões à rede sairia caro - algo entre 8 mil e 15 mil reais por quilômetro de extensão. "O uso de sistemas fotovoltaicos é mais viável no processo de eletrificação rural", diz Hamilton Moss, diretor do Departamento de Desenvolvimento Energético do Ministério de Minas e Energia. Segundo ele, a instalação de um sistema desse tipo, de 1 kilowatt, custa entre 7 mil e 9 mil dólares.

A potência representa o mínimo necessário para o consumo de uma família de quatro pessoas, sem chuveiro elétrico e ar-condicionado. Os sistemas autônomos têm, no entanto, uma desvantagem: a dependência de baterias, carregadas ao longo do dia para que a energia possa ser usada à noite. Além de custarem caro, precisam ser trocadas a cada cinco anos em média. Já os painéis têm garantia de 25 anos. 


 

Índios com energia solar

Entre os beneficiados pela energia solar estão os índios guatós, do Mato Grosso do Sul. "Eles vivem a 40 horas de barco da cidade mais próxima, no meio do Pantanal", afirma Ronaldo dos Santos Custódio, diretor de engenharia da Eletrosul. A concessionária ajudou a instalar 104 placas na aldeia, pelo projeto Luz para Todos. A Eletrosul também montou módulos fotovoltaicos na Ilha do Arvoredo (SC), uma reserva antes 100% dependente de geradores a diesel.

 Outra empresa que tem apostado em energia solar é a Petrobras. Além de financiar pesquisas, a estatal usa sistemas fotovoltaicos em plataformas desabitadas. "Desde que começamos a trabalhar com energias renováveis, em 2001, investimos 10 milhões de reais nessa área", afirma Paulo Roberto Barreiros, gerente de Gás Natural do Centro de Pesquisas da Petrobras.

No ano que vem, a empresa vai construir uma usina solar de 44 kilowatts no Polo Industrial de Guamaré (RN). A unidade funcionará em caráter experimental. Por enquanto, esse modelo de geração de energia não é economicamente viável no Brasil — o alto custo em relação a outras opções, como as hidrelétricas, torna raras as iniciativas desse tipo.

No exterior, vêm ganhando destaque as usinas heliotérmicas. Em vez de painéis com células fotovoltaicas, elas usam concentradores de calor para gerar energia. Como ocupam grandes áreas, sua instalação só é viável em regiões desérticas. Ninguém sabe dizer qual sistema vai prevalecer ou se todos vão coexistir. Mas uma coisa é certa: o futuro ao Sol pertence.


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