Corpos de civis mortos: Lepick observa que "o gás sarin é o agente mais utilizado no arsenal da Síria" e que o país tem foguetes, bombas aéreas e de artilharia capazes de difundir este gás (REUTERS/Bassam Khabieh)
Da Redação
Publicado em 22 de agosto de 2013 às 17h21.
Os sintomas apresentados pelas vítimas dos supostos ataques desta quarta-feira na periferia de Damasco são compatíveis com os das pessoas atingidas com armas químicas, particularmente gases neurotóxicos, mas o único meio de confirmar seria analisar amostras, insistiram especialistas consultados pela AFP.
A oposição síria acusa o regime de ter matado mais de 1.300 pessoas com armas químicas perto da capital, em uma região controlada pelos rebeldes, com o apoio de muitos vídeos captados no momento. O governo sírio desmente as acusações e se nega a permitir que os inspetores da ONU tenham acesso ao local.
"Assisti a 21 vídeos e tenho fortes suspeitas do uso de armas químicas, mas são necessárias provas científicas, como a presença de sarin no sangue e na urina das vítimas", resume Olivier Lepick, especialista em armas químicas e biológicas e pesquisador da Fundação de Pesquisa Estratégica (FRS).
"Em todos esses vídeos, os sintomas clínicos (contrações musculares, contração das pupilas, hipersalivação, dificuldade respiratória, ritmo cardíaco acelerado, ausência de ferimentos físicos, etc.) são fortes e fazem pensar em neurotóxicos", declara Lepick à AFP.
"Ontem (quarta-feira), não estava acreditando, mas revi a minha posição" após assistir a vídeos de melhor qualidade, explica Jean Pascal Zanders, especialista em desarmamento químico.
Nas imagens é possível ver, segundo ele, "um certo número de sintomas compatíveis com envenenamento por produtos organofosforados", dos quais o sarin faz parte, "e a uma morte por asfixia".
"Eu não posso confirmar se é sarin ou VX (um gás similar). Pode ter sido uma série de coisas diferentes ou uma combinação", diz ele.
Lepick observa, no entanto, que "o gás sarin é o agente mais utilizado no arsenal da Síria" e que o país tem foguetes, bombas aéreas e de artilharia capazes de difundir este gás.
"Alguns sintomas são consistentes com outros agentes neurotóxicos, outros mais relacionados com agentes incapacitantes. Parece muito com agentes neurotóxicos, mas não podemos descartar que outras substâncias possam ter sido usadas ", segundo Ralf Trapp, consultor independente que foi perito da Organização para a Proibição de Armas Químicas (OPAQ) em Haia.
Pode ter se tratado de substâncias tóxicas, como cloro, por exemplo, lançado acidentalmente durante um bombardeio a um armazém? "Essa é uma explicação possível. Mas quanto mais eu vejo, mais é consistente com um ataque com gás, em vez de uma liberação acidental de substâncias químicas tóxicas", responde Ralf Trapp.
Outros especialistas são mais cautelosos, citando detalhes perturbadores. "As pessoas que ajudam as vítimas não usam roupas de proteção ou máscaras. Se fosse um ataque com gás, elas teriam sido infectadas e afetadas pelos mesmos sintomas", adverte Paula Vanninen, diretora do Instituto finlandês de Verificação da Convenção sobre Armas Químicas.
"É uma das coisas a serem observadas. A equipe médica realiza uma descontaminação sumária, jogando água nas vítimas. As ambulâncias e aqueles que levam as vítimas para o hospital deveriam estar contaminados", reconhece Ralf Trapp.
"Mas, se for um gás volátil, como o sarin, a equipe de socorro seria apenas ligeiramente contaminada e iria apresentar apenas sintomas leves, como visão turva ou dor nos olhos. Poderiam suportar isso por um tempo, o que explicaria a falta de sinais muito visíveis", diz.
"A única maneira de verificar o uso de armas químicas é tomar amostras do local e analisá-las", insiste um ex-diretor da inteligência militar francesa sob condição de anonimato.
"Precisamos conversar com testemunhas, com as vítimas, realizar exames médicos, colher amostras", acrescentou Ralf Trapp, que aponta que os agentes neurotóxicos são detectáveis apenas alguns dias na urina, mas ainda por "várias semanas" no sangue.
"Não é tarde demais. Os inspetores da ONU estão lá e, se eles tiverem acesso à área e a seus moradores nos próximos dias, eles têm boas chances" de descobrir o que aconteceu, garante Trapp.