Berlim - A seleção alemã gerou nesta terça-feira uma onda do novo "patriotismo light" no país com o retorno da delegação campeã da Copa do Mundo a Berlim, cidade que recebeu os jogadores com imensa festa.
Os jogadores da equipe foram recebidos aos gritos de "Fussballgott" ("Deuses do futebol"), por cerca de 400 mil torcedores concentrados no Portão de Brandemburgo.
"Sem vocês não estaríamos aqui. Todos somos campeões do mundo", enalteceu Löw, reponsável por dirigir o elenco que não se resume a um ou vários astros, mas sim pela força de toda a equipe.
Autor do único gol da final contra a Argentina, o meia-atacante Mario Götze foi um dos mais festejados da comemoração, mas a multidão também dedicou inúmeros aplausos a Miroslav Klose, que se tornou o maior artilheiro da história da Copa do Mundo, com 16 gols.
O elenco que comemorava no palco parecia refletir o retrato da Alemanha atual, integrada por pessoas de diferentes origens, fruto de distintas ondas de imigração.
Entre os jogadores que festejavam estavam Jérôme Boateng, de origem ganesa, Sami Khedira, de ascendência tunisiana, Lukas Podolski e Klose, nascidos na Polônia, Mesut Özil, filho de turcos, e Per Mertesacker, genuinamente alemão.
A comemoração contou com muitos cantos de torcida, além do já tradicional grito "Deutschland, Deutschland" ("Alemanha, Alemanha"), enquanto os jogadores acenavam do palco.
Para a multidão, não havia sob o céu berlinense nada além de uma bandeira - a alemã -, multiplicada ao infinito em meio a um mar de gente, expoente de um novo patriotismo festivo, com Lahm e os demais colegas dançando ao redor da taça conquistada.
Era a festa de um herói coletivo, de acordo com o espírito da seleção que começou a ser estabelecido quando Löw ainda era assistente de Jürgen Klinsmann, técnico do país na Copa do Mundo de 2006, disputada na Alemanha.
O avião da Lufthansa que transportou a delegação de volta a Berlim saiu com duas horas de atraso do Rio de Janeiro devido a um problema antes de decolar. Batizado como "Fanhansa Siegerflieger" - trocadilho com as palavras vencedores e voadores -, aterrissou no aeroporto de Tegel como se fosse um comercial da companhia aérea.
Em solo alemão, os tetracampeões foram de ônibus com carroceria aberta - da Mercedes, emblema industrial alemão - ao centro da capital. Em alguns momentos do percurso o veículo não conseguia avançar por causa dos torcedores que tomavam conta das ruas.
Na Pariser Platz, a multidão que aguardava a horas sob o sol ainda teve que esperar por mais meia hora, enquanto a seleção comia salsichas e bebia cervejas na sede de um banco, patrocinador da festa organizada na capital.
Antes de subir ao palco de 30 metros de comprimento, a delegação passou por um corredor com mais salsichas e cerveja. Os jogadores pararam para aparecer em "selfies" tiradas por um torcedor que tinha chegado até o último cordão de segurança. Na multidão, a emoção tomava conta até dos mais experientes.
"Assisti o retorno da seleção ao país em todas as Copas do Mundo. Agora finalmente faço isso em minha cidade, Berlim", explicou Matthias Selig, com mais de 70 anos, que recepcionou a equipe de 1954 em Mannheim, a de 1974 em Frankfurt e a de 1990 em Bonn, capital federal do país na época que Berlim era dividida pelo Muro.
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1. Alemanha nas Copas
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1/6 (Keystone/Getty Images)
São Paulo - A história da
Alemanha nas
Copas do Mundo é uma coleção de fatos atípicos. O país já chegou a ter três times oficiais por causa de guerras e também uma conquista que foi chamada de "milagre" e virou filme, justamente no seu primeiro título mundial em 1954. A Alemanha também já deixou de participar de Copas do Mundo e possui gerações de craques da mesma familia, como Thomas Müller que é sobrinho de Gerd Müller (foto), e também jogadores que na verdade não são alemães, como Podolski e Klose. Confira alguns fatos da seleção tricampeã do mundo (1954, 1974 e 1990) e que agora vai em busca do tetra contra a Argentina.
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2. Milagre de Berna
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2/6 (Allsport/Hulton/Getty Images)
Na
Copa do Mundo de 1954 na Suíça, a Alemanha Ocidental perdeu na fase de grupos para a
Hungria por uma goleada de 8-3. Classificada para as fases seguintes, a Alemanha chegou à final, que disputaria novamente contra a seleção húngara numa revanche histórica. Os húngaros estavam invictos a 32 jogos e eram os favoritos para levar o título. O Estádio Wankdorf em Berna recebeu 60.000 pessoas naquele dia chuvoso. O clima era o preferido do jogador da Alemanha, Fritz Walter, pois dizem que melhorava seu desempenho. A Hungria parecia confirmar o favoritismo ao abrir o placar com gol de Ferenc Puskás em apenas 6 minutos de jogo. Dois minutos depois, Zoltán Czibor fez 2-0. A Alemanha reagiu e Max Morlock fez um gol no décimo minuto do primeiro tempo e Helmut Rahn empatou o jogo aos19. O jogo estava o 2-2. No segundo tempo, a Hungria desperdiçou várias chances e faltando menos de 6 minutos para o fim da partida, Rahn chutou da meia-lua da grande área e fez o gol da virada. A Alemanha conquistava a primeira Copa do Mundo de sua história e o episódio ficou conhecido como "Milagre de Berna". A campanha surpreendente virou um filme de mesmo nome em 2003. Até hoje a expressão "tempo de Fritz Walter" é utilizada na Alemanha para designar jogos em dias de chuva muito forte que deixa o gramado pesado e encharcado.
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3. Três seleções
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3/6 (Allsport UK /Allsport/Getty Images)
Por causa de disputas da Segunda Guerra Mundial e do contexto da Guerra Fria, chegaram a existir três seleções de origem germânica. A divisão do país em Alemanha Ocidental e Oriental gerou dois times para cada região. E até meados dos anos 50, a
França manteve um território alemão, o Sarre, sob sua tutela, que também teve uma seleção de futebol. A seleção da Alemanha Oriental foi criada em 1952 e existiu até a reunificação alemã, em 1990. Em 1974, fez a sua única participação em Copas do Mundo e jogou contra a Alemanha Ocidental. Na foto, o capitão da
Alemanha Ocidental, Franz Beckenbauer, aperta as mãos do capital da Alemanha Oriental antes da partida na Copa do Mundo. A partida, disputada em plena Guerra Fria, tornou-se histórica já que os alemães orientais venceram os ocidentais por 1x0 com gol de Jürgen Sparwass. Já o Sarre é uma região da fronteira da Alemanha com a França que, após a II Guerra Mundial, tornou-se protetorado francês. Na sua curta existência a região disputou os Jogos Olímpicos de 1952 e os jogos classificatórios para a Copa do Mundo de 1954. A seleção do pequeno território (de 2500 quilómetros quadrados e com cerca de um milhão de habitantes),chegou a disputar uma partida com a Alemanha Ocidental justamente na etapa classificatória, mas perdeu de 3-1. Em 1956, seus habitantes escolheram, em referendo, a reincorporação na Alemanha.
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4. 1ª Copa do Mundo em 1930
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4/6 (Allsport/Hulton/Getty Images)
A Alemanha não esteve na primeira edição da Copa do Mundo, em 1930. Com a Europa vivendo uma grave crise econômica, a Federação Alemã de Futebol decidiu recusar o convite (ainda não havia fase de classificação) para a 1ª edição do evento, realizada no Uruguai. A final foi disputada pela Argentina e Uruguai e o time da casa venceu e conquistou o seu primeiro título em 30 de julho de 1930. Quatro anos depois, em 1934, a Alemanha disputou sua primeira Copa e fez uma excelente campanha, terminando em 3º lugar na competição
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5. Família de craques
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5/6 (Dylan Martinez/Reuters)
Muitos não sabem, mas Thomas Muller tem o futebol no sangue. Ele é sobrinho do craque Gerd Müller, o maior artilheiro da história da seleção alemã: chamado de “caubói” pela imprensa, fez 68 gols em 62 partidas, uma média quase insuperável de 1,1 gols por jogo. Gerd Müller foi por muito tempo o maior artilheiro de todas as Copas com 14 gols, até ser superado por Ronaldo que teve 15 gols marcados na Copa de 2006. O brasileiro foi superado nessa edição pelo jogador alemão Klose, que tornou-se o maior artilheiro com 16 gols. É também o maior artilheiro da história do campeonato alemão (do qual foi campeão quatro vezes) em uma única edição (40 gols em 1972). Gerd Muller foi jogador do Bayern Munique quando este ainda era um time médio e ajudou o clube a entrar para a elite do futebol alemão e mundial no início dos anos 70.
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6. Poloneses
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6/6 (Ruben Sprich/Reuters)
Os jogadores Miroslav Klose e Lukas Podolski na verdade não são alemães. Eles nasceram na Polônia, mas foram para a Alemanha ainda crianças, em 1987. Além da seleção alemã, os dois jogaram juntos no Bayern de Munique na temporada 2006-2007 e costumavam conversar em polaco quando estavam em campo para confundir os adversários. O fato de ser polonês já causou situações constrangedoras a Podolski. Durante jogo da Alemanha contra a Polônia pela primeira rodada do grupo B da Eurocopa em 2008, ele fez dois gols pela seleção alemã e foi excomungado pelo partido ultracatólico LPR do seu país natal. Antes, o jogador havia sido criticado pelo ex-vice-ministro polonês Miroslaw Orzechowski, que pediu a retirada da cidadania das pessoas que defendem outros países.