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Saída dos EUA do TPP abre caminho para a China, diz especialista

Marina Tsirbas, especialista em política externa da National Security College, fala sobre o vácuo de liderança que os Estados Unidos deixarão no Pacífico

Marina Tsirbas: "A liberalização comercial buscada em vias paralelas tem sido uma prioridade dos governos australianos, independentemente de ideologia política" (NSC/Divulgação)
RK

Rafael Kato

Publicado em 16 de março de 2017 às 15h50.

Entrevista publicada originalmente em EXAME Hoje, app disponível naApp Storee noGoogle Play. Para ler entrevistas antecipadamente,assine EXAME Hoje.

Assim que assumiu, o presidente Donald Trump, cumprindo uma promessa de campanha, decidiu pela saída americana do TPP. Marina Tsirbas, especialista em política externa da National Security College, da Austrália, acredita que a desistência dos Estados Unidos abre o caminho para o avanço da influência da China na região, mas tem dúvidas se o gigante asiático conseguirá ocupar esse espaço.

Qual será o impacto econômico na economia australiana da decisão do presidente Trump de abandonar o Acordo Transpacífico? Por que o TPP seria positivo para a Austrália?
As estimativas dos benefícios econômicos do TPP para a Austrália eram na verdade bastante modestas. Sem os Estados Unidos, o impacto econômico não seria tão significativo. Segundo o modelo do Banco Mundial, as previsões de crescimento do PIB ficavam em torno de 0,7% em 2030. Outros estudos também encomendados pelo governo tiveram descobertas semelhantes. As vantagens do TPP seriam as de tornar os custos de negócios mais baratos e de padronizar as regras em todas as 12 economias. O TPP era ambicioso no sentido de que ele enfrenta questões comerciais da nova geração, uma vez que a Austrália já tem acordos de livre comércio com a maioria dos estados-integrantes do TPP, inclusive os maiores parceiros como Japão e EUA. Haverá setores específicos da Austrália que sairão perdendo como resultado do fracasso das negociações – açúcar e carne bovina são dois exemplos importantes.

Até que ponto o recuo de Trump enfraquece a posição americana na Ásia?
Os Estados Unidos já têm um investimento econômico significativo na região e nos principais países do TPP, de modo que seria errado interpretar o pacto como um pré-requisito para o envolvimento econômico do país na Ásia. Porém, o TPP foi divulgado como o lastro econômico do reequilíbrio americano para a Ásia. Ao se recusar a ratificá-lo, os Estados Unidos abrem mão da oportunidade de definir as regras do jogo e o quadro normativo para a liberalização comercial regional, o investimento e a integração econômica. E claramente há uma preocupação dos participantes asiáticos quanto ao fracasso TPP. O primeiro-ministro do Japão, Shinzo Abe, disse oficialmente que tratou disso com o presidente Trump. O fim do acordo tem causado alguma consternação em Cingapura e em outros países do sudeste asiático. Em termos regionais, sem o TPP, alguns governos perdem a cobertura para liberalizar internamente setores que necessitam de reformas.

O abandono de Washington do acordo é uma abertura para a China?
O abandono do TPP de fato deixa a porta aberta para negociações da Parceria Econômica de Cooperação Regional (RCEP) e do Acordo de Livre Comércio do Pacífico Asiático (FTAAP), que é a próxima negociação em debate. Nos dois pactos, os chineses estão envolvidos. Contudo, há dúvidas sobre se a China quer ou tem a capacidade de impor uma liderança regional em relação ao livre comércio ou se os interesses dela são mais restritos, especialmente com a economia chinesa desacelerando. As preocupações em casa são expressivas.

Quais as chances de um TPP ir adiante sem os Estados Unidos? A Austrália lideraria o avanço?
O primeiro-ministro australiano tem interesse em salvar o TPP. Também tem havido especulações quanto a incentivar a China a aderir. Porém, o acordo tem atraído um bocado de repercussão pública negativa na Austrália, e diversos questionamentos de parlamentares. Se vamos de fato levá-lo adiante sem os Estados Unidos, é uma leitura complexa. A Austrália pode implementar unilateralmente os novos parâmetros de triagem de investimentos. Vale notar que a liberalização comercial buscada em vias paralelas tem sido uma prioridade dos governos australianos, independentemente de ideologia política. Como resultado, a Austrália é integrante de todas as principais negociações plurilaterais de comércio regional que estão em andamento, inclusive a RCEP e FTAAP, e está negociando um acordo de livre comércio com a Indonésia. Os Estados Unidos têm definido as regras da ordem global desde a Segunda Guerra Mundial, e o TPP é um meio de mudar isso na região. Seria um trampolim para um acordo de livre comércio entre os países asiáticos.

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Entrevista publicada originalmente em EXAME Hoje, app disponível naApp Storee noGoogle Play. Para ler entrevistas antecipadamente,assine EXAME Hoje.

Assim que assumiu, o presidente Donald Trump, cumprindo uma promessa de campanha, decidiu pela saída americana do TPP. Marina Tsirbas, especialista em política externa da National Security College, da Austrália, acredita que a desistência dos Estados Unidos abre o caminho para o avanço da influência da China na região, mas tem dúvidas se o gigante asiático conseguirá ocupar esse espaço.

Qual será o impacto econômico na economia australiana da decisão do presidente Trump de abandonar o Acordo Transpacífico? Por que o TPP seria positivo para a Austrália?
As estimativas dos benefícios econômicos do TPP para a Austrália eram na verdade bastante modestas. Sem os Estados Unidos, o impacto econômico não seria tão significativo. Segundo o modelo do Banco Mundial, as previsões de crescimento do PIB ficavam em torno de 0,7% em 2030. Outros estudos também encomendados pelo governo tiveram descobertas semelhantes. As vantagens do TPP seriam as de tornar os custos de negócios mais baratos e de padronizar as regras em todas as 12 economias. O TPP era ambicioso no sentido de que ele enfrenta questões comerciais da nova geração, uma vez que a Austrália já tem acordos de livre comércio com a maioria dos estados-integrantes do TPP, inclusive os maiores parceiros como Japão e EUA. Haverá setores específicos da Austrália que sairão perdendo como resultado do fracasso das negociações – açúcar e carne bovina são dois exemplos importantes.

Até que ponto o recuo de Trump enfraquece a posição americana na Ásia?
Os Estados Unidos já têm um investimento econômico significativo na região e nos principais países do TPP, de modo que seria errado interpretar o pacto como um pré-requisito para o envolvimento econômico do país na Ásia. Porém, o TPP foi divulgado como o lastro econômico do reequilíbrio americano para a Ásia. Ao se recusar a ratificá-lo, os Estados Unidos abrem mão da oportunidade de definir as regras do jogo e o quadro normativo para a liberalização comercial regional, o investimento e a integração econômica. E claramente há uma preocupação dos participantes asiáticos quanto ao fracasso TPP. O primeiro-ministro do Japão, Shinzo Abe, disse oficialmente que tratou disso com o presidente Trump. O fim do acordo tem causado alguma consternação em Cingapura e em outros países do sudeste asiático. Em termos regionais, sem o TPP, alguns governos perdem a cobertura para liberalizar internamente setores que necessitam de reformas.

O abandono de Washington do acordo é uma abertura para a China?
O abandono do TPP de fato deixa a porta aberta para negociações da Parceria Econômica de Cooperação Regional (RCEP) e do Acordo de Livre Comércio do Pacífico Asiático (FTAAP), que é a próxima negociação em debate. Nos dois pactos, os chineses estão envolvidos. Contudo, há dúvidas sobre se a China quer ou tem a capacidade de impor uma liderança regional em relação ao livre comércio ou se os interesses dela são mais restritos, especialmente com a economia chinesa desacelerando. As preocupações em casa são expressivas.

Quais as chances de um TPP ir adiante sem os Estados Unidos? A Austrália lideraria o avanço?
O primeiro-ministro australiano tem interesse em salvar o TPP. Também tem havido especulações quanto a incentivar a China a aderir. Porém, o acordo tem atraído um bocado de repercussão pública negativa na Austrália, e diversos questionamentos de parlamentares. Se vamos de fato levá-lo adiante sem os Estados Unidos, é uma leitura complexa. A Austrália pode implementar unilateralmente os novos parâmetros de triagem de investimentos. Vale notar que a liberalização comercial buscada em vias paralelas tem sido uma prioridade dos governos australianos, independentemente de ideologia política. Como resultado, a Austrália é integrante de todas as principais negociações plurilaterais de comércio regional que estão em andamento, inclusive a RCEP e FTAAP, e está negociando um acordo de livre comércio com a Indonésia. Os Estados Unidos têm definido as regras da ordem global desde a Segunda Guerra Mundial, e o TPP é um meio de mudar isso na região. Seria um trampolim para um acordo de livre comércio entre os países asiáticos.

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