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Russos controlam bases antes de reunião diplomática

Forças russas assumiram controle parcial de locais militares na Crimeia, poucas horas antes de uma reunião entre os chefes da diplomacia russa e americana

Garota passa em frente a uma base militar tomada por tropas russas na Crimeia: duas bases tomadas nesta quarta foram ocupadas sem troca de tiros (Alexander Nemenov/AFP)

Garota passa em frente a uma base militar tomada por tropas russas na Crimeia: duas bases tomadas nesta quarta foram ocupadas sem troca de tiros (Alexander Nemenov/AFP)

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Da Redação

Publicado em 5 de março de 2014 às 13h23.

Kiev - As forças russas assumiram o controle parcial de duas bases de lançamento de mísseis, dois locais militares estratégicos na Crimeia, aumentando a tensão na região poucas horas antes de uma reunião em Paris entre os chefes da diplomacia russa e americana.

Após dias de confronto silencioso, onde as forças russas se concentraram em cercar as bases militares ucranianas, ocupar locais simbólicos, este último evento constitui uma escalada na crise nesta península banhada pelas águas do Mar Negro.

As duas bases tomadas nesta quarta-feira, a primeira situada em Evpatoria (oeste) e a outra localizada no cabo de Fiolent (sul), próxima ao porto de Sebastopol que abriga a frota russa do Mar Negro, foram ocupadas sem troca de tiros, com as forças russas acompanhadas de manifestantes pró-russos.

Em Fiolent, "os soldados russos bloqueiam o edifício que abriga os mísseis", informou à AFP um oficial ucraniano, Volodymir Bova. "Há mísseis, mas estão desarmados", completou.

A situação é a mesma na base A4519 de Evpatoria, ocupada terça-feira à noite, mas os mísseis já haviam sido retirados do local.

O presidente Vladimir Putin negou veementemente terça-feira à noite a presença de suas tropas na Crimeia, evocando grupos de "autodefesa" e explicando que era possível comprar uniformes do exército russo "em qualquer loja". Mas, segundo jornalistas da AFP presentes nesta península autônoma, são forças russas que têm desembarcado desde sábado na região.

Plano de saída da crise

No plano diplomático, Washington mantém sua pressão sobre Vladimir Putin na disputa mais tensa entre americanos e russos desde o final da Guerra Fria.

Reunidos em Paris para uma conferência sobre o Líbano, os chefes da diplomacia americana e russa, John Kerry e Sergueï Lavrov, discutiram nesta tarde a sensível situação na Ucrânia, segundo várias fontes diplomáticas.

Ao final de um almoço de trabalho no Palácio do Eliseu do Grupo de Apoio Internacional (GIS) ao Líbano, Kerry e Lavrov se encontraram para um café com seus colegas francês e alemão, Laurent Fabius e Frank-Walter Steinmeier, constatou um jornalista da AFP.

Antes de chegar em Paris, o ministro das Relações Exteriores de Moscou ressaltou que a Rússia não vai permitir um banho de sangue na Ucrânia e que seu governo não tem nenhuma autoridade sobre as forças de autodefesa mobilizadas na Crimeia.

Enquanto que os ocidentais buscam uma solução diplomática, o ministro francês das Relações Exteriores Laurent Fabius anunciou que Paris e Berlim querem propor "um plano de saída da crise", que poderá ser discutido nesta quarta-feira.


Este plano, detalhado por Fabius, destaca alguns pontos do acordo de 21 de fevereiro concluído em Kiev após vários dias de violentos confrontos entre manifestantes pró-europeus e as autoridades então no poder: "o governo de unidade, a retirada das tropas russas, a dissolução de milícias extremistas, a aplicação da Constituição e a organização de eleições presidenciais".

Também presente em Paris, o ministro das Relações Exteriores ucraniano Andrii Dechtchitsa insistiu no desejo das novas autoridades de definir "pacificamente" a crise com a Rússia.

"Nós não queremos combater os russos. Queremos manter um bom diálogo, boas relações com o povo russo. Agradecemos todos os contatos possíveis", disse o ministro ucraniano para a imprensa.

Diálogo tenso entre Moscou e Washington

Na terça-feira, os chefes de Estado russo e americano endureceram seus discursos, com o presidente Barack Obama dizendo que Vladimir Putin não "engana ninguém" com suas declarações sobre a Ucrânia, enquanto o Kremlin criticou o Ocidente e seus "treinadores" que formaram "unidades de combate" na Ucrânia, em referência aos manifestantes da famosa praça Maidan, palco da contestação que levou à queda do presidente Viktor Yanukovytch.

Em visita a Kiev, John Kerry acusou a Rússia de buscar um "pretexto para invadir a Ucrânia", e advertiu Moscou de que a sua política atual só levará ao isolamento.

Mas há sinais de que Washington também está em busca de uma saída para a Rússia. A ideia, mencionada por Barack Obama durante um telefonema a Vladimir Putin no sábado, é responder ponto por ponto às preocupações levantadas por Moscou sobre a situação em seu vizinho, de acordo com um funcionário da Casa Branca.

Enquanto que ucranianos e ocidentais temem uma grande operação militar na Ucrânia, Putin considerou na terça-feira que o envio de tropas russas "não era necessário neste momento."

Economia russa em dificuldade

Cerca de 16.000 soldados russos, entre eles 5.000 que chegaram nos últimos dias, ocupam a Crimeia, ondem guardam a maior parte de locais estratégicas (navios de guerra, bases, sedes administrativas).

Moscou já encara as consequências econômicas de sua política na Ucrânia. A Rússia precisou vender na segunda-feira moedas estrangeiras por um valor recorde de 11,3 bilhões de dólares em um único dia, chamada de "segunda-feira negra", para dar apoio ao rublo que sofre forte pressão em razão do conflito na Ucrânia.

Paralelamente, os senadores russos trabalham em um projeto de lei que permita confiscar os bens de companhias europeias e americanas em caso de sanções impostas à Rússia.

A Ucrânia, por sua vez, recebeu nesta quarta-feira um respaldo econômico da União Europeia (UE), que negocia com Estados Unidos e Rússia uma solução para a região ucraniana da Crimeia.

A Comissão Europeia (Executivo da UE) apresentou em Bruxelas um plano de ajuda de pelo menos 11 bilhões de euros para a Ucrânia, à beira da falência e muito endividada com a Rússia, que não reconhece as novas autoridades pró-ocidentais do país.

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