Rússia, território hostil para homossexuais
"Em matéria de direitos humanos, que inclui os homossexuais, a Rússia se parece mais com o Irã e Coreia do Norte do que com o Ocidente", disse Vladimir Voloshin
Da Redação
Publicado em 17 de maio de 2012 às 18h47.
Moscou - As leis contra a "propaganda homossexual", repressão policial e oposição de ortodoxos e muçulmanos às manifestações de orgulho gay transformam a Rússia no país europeu mais hostil com as minorias sexuais.
"Em matéria de direitos humanos, que inclui os homossexuais, a Rússia se parece mais com o Irã e Coreia do Norte do que com o Ocidente", disse nesta quinta-feira à Agência Efe Vladimir Voloshin, redator chefe da "KVIR", a revista mais popular entre a comunidade homossexual russa.
A Associação Internacional de Gays e Lésbicas concedeu à Rússia e também à Moldávia a controversa honra de serem os países do continente onde seus diretores são menos respeitados. "Nossa sociedade está muito atrasada. A maioria dos russos continua vendo os gays como algo mau, terrível, anormal e incompreensível. Não entendem por que nós exigimos que nossos direitos sejam respeitados", assinalou.
A Rússia ganhou esse título com a recente aprovação de uma lei municipal contra a "propaganda homossexual", na qual também se inclui pedofilia, o que indignou a comunidade homossexual. "É uma questão política. Se a Rússia fosse uma democracia, tal lei não teria sido aprovada. As autoridades sempre estão procurando inimigos do povo. No exterior, a Otan, e no país, as minorias políticas e sexuais", disse Voloshin.
A lei, aprovada no começo do ano pelo Governo de São Petersburgo, prevê uma multa de 5 mil rublos (R$ 322) às pessoas físicas; de 50 mil rublos (R$ 3,2 mil) a servidores públicos e entre 500 mil e 1 milhão de rublos (entre R$ 32,2 mil e R$64,4 mil) às pessoas jurídicas.
Recentemente, um juiz de paz da antiga capital imperial ditou a primeira sentença em virtude da nova lei contra o líder dos homossexuais russos, Nikolai Alexeyev, que protagonizou uma greve individual contra a Prefeitura local. "A homossexualidade não é uma degeneração. Degeneração é o hóquei sobre grama e o balé sobre gelo", dizia o cartaz.
A lei em questão, que também foi aprovada em outras cidades russas com modificações, foi denunciada diante dos tribunais pelos homossexuais russos, que a qualificaram de anticonstitucional e acusam as autoridades de "tentar legalizar a homofobia".
"Entre 5% e 7% da população, ou seja, milhões de pessoas estão sendo discriminados", disse o ativista Valeri Sozáev, que denunciou que mais da metade dos homossexuais russos são diariamente vítimas de abusos físicos, hostilidade e discriminação.
Além disso, as organizações homossexuais criticaram a lei ao considerar que supõe uma violação da liberdade de expressão e que servirá de pretexto para que passeatas do orgulho gay continuem proibidas. Voloshin defendeu que as manifestações de orgulho gay são mais prejudiciais que beneficentes. "Rússia não está preparada para isso. O confronto social criado (pelas manifestações) contribui unicamente para piorar a opinião sobre os homossexuais", diz.
A Igreja Ortodoxa Russa, que considera um "sacrilégio" as passeatas do orgulho gay, pediu recentemente que a lei seja estendida por toda a Rússia. "As coisas pioraram nos últimos tempos. Nas províncias os homossexuais só têm uma alternativa: a vida dupla. Contudo, não acredito que a lei se torne federal. Para o Kremlin é muito importante conservar sua imagem no Ocidente", opina Voloshin.
A última tentativa de realizar uma Parada do Orgulho Gay, em maio de 2011, na capital russa, terminou em choques violentos entre ativistas homossexuais e ultranacionalistas e na prisão de dezenas de pessoas.
"A esperança está nas novas gerações que pensam de outra forma. Eles veem nas redes sociais que ser homossexual é normal. Mais do que nos manifestar nas ruas, devemos educar a sociedade", aponta.
O patriarca ortodoxo Kirill considera que "a homossexualidade é um pecado" e se mostra contrário à legalização do casamento homossexual e ao direito das minorias sexuais à adoção. Segundo uma pesquisa do Centro Levada, 74% dos russos acham que os gays e lésbicas têm uma problema mental e são amorais, enquanto menos da metade opina que devem ter os mesmos direitos que os heterossexuais.
O artigo 121 do código penal da Rússia, que sancionava com penas de prisão as práticas homossexuais, não foi abolido até 1993, ano em que também se deixou de considerar a homossexualidade como uma doença mental.
Moscou - As leis contra a "propaganda homossexual", repressão policial e oposição de ortodoxos e muçulmanos às manifestações de orgulho gay transformam a Rússia no país europeu mais hostil com as minorias sexuais.
"Em matéria de direitos humanos, que inclui os homossexuais, a Rússia se parece mais com o Irã e Coreia do Norte do que com o Ocidente", disse nesta quinta-feira à Agência Efe Vladimir Voloshin, redator chefe da "KVIR", a revista mais popular entre a comunidade homossexual russa.
A Associação Internacional de Gays e Lésbicas concedeu à Rússia e também à Moldávia a controversa honra de serem os países do continente onde seus diretores são menos respeitados. "Nossa sociedade está muito atrasada. A maioria dos russos continua vendo os gays como algo mau, terrível, anormal e incompreensível. Não entendem por que nós exigimos que nossos direitos sejam respeitados", assinalou.
A Rússia ganhou esse título com a recente aprovação de uma lei municipal contra a "propaganda homossexual", na qual também se inclui pedofilia, o que indignou a comunidade homossexual. "É uma questão política. Se a Rússia fosse uma democracia, tal lei não teria sido aprovada. As autoridades sempre estão procurando inimigos do povo. No exterior, a Otan, e no país, as minorias políticas e sexuais", disse Voloshin.
A lei, aprovada no começo do ano pelo Governo de São Petersburgo, prevê uma multa de 5 mil rublos (R$ 322) às pessoas físicas; de 50 mil rublos (R$ 3,2 mil) a servidores públicos e entre 500 mil e 1 milhão de rublos (entre R$ 32,2 mil e R$64,4 mil) às pessoas jurídicas.
Recentemente, um juiz de paz da antiga capital imperial ditou a primeira sentença em virtude da nova lei contra o líder dos homossexuais russos, Nikolai Alexeyev, que protagonizou uma greve individual contra a Prefeitura local. "A homossexualidade não é uma degeneração. Degeneração é o hóquei sobre grama e o balé sobre gelo", dizia o cartaz.
A lei em questão, que também foi aprovada em outras cidades russas com modificações, foi denunciada diante dos tribunais pelos homossexuais russos, que a qualificaram de anticonstitucional e acusam as autoridades de "tentar legalizar a homofobia".
"Entre 5% e 7% da população, ou seja, milhões de pessoas estão sendo discriminados", disse o ativista Valeri Sozáev, que denunciou que mais da metade dos homossexuais russos são diariamente vítimas de abusos físicos, hostilidade e discriminação.
Além disso, as organizações homossexuais criticaram a lei ao considerar que supõe uma violação da liberdade de expressão e que servirá de pretexto para que passeatas do orgulho gay continuem proibidas. Voloshin defendeu que as manifestações de orgulho gay são mais prejudiciais que beneficentes. "Rússia não está preparada para isso. O confronto social criado (pelas manifestações) contribui unicamente para piorar a opinião sobre os homossexuais", diz.
A Igreja Ortodoxa Russa, que considera um "sacrilégio" as passeatas do orgulho gay, pediu recentemente que a lei seja estendida por toda a Rússia. "As coisas pioraram nos últimos tempos. Nas províncias os homossexuais só têm uma alternativa: a vida dupla. Contudo, não acredito que a lei se torne federal. Para o Kremlin é muito importante conservar sua imagem no Ocidente", opina Voloshin.
A última tentativa de realizar uma Parada do Orgulho Gay, em maio de 2011, na capital russa, terminou em choques violentos entre ativistas homossexuais e ultranacionalistas e na prisão de dezenas de pessoas.
"A esperança está nas novas gerações que pensam de outra forma. Eles veem nas redes sociais que ser homossexual é normal. Mais do que nos manifestar nas ruas, devemos educar a sociedade", aponta.
O patriarca ortodoxo Kirill considera que "a homossexualidade é um pecado" e se mostra contrário à legalização do casamento homossexual e ao direito das minorias sexuais à adoção. Segundo uma pesquisa do Centro Levada, 74% dos russos acham que os gays e lésbicas têm uma problema mental e são amorais, enquanto menos da metade opina que devem ter os mesmos direitos que os heterossexuais.
O artigo 121 do código penal da Rússia, que sancionava com penas de prisão as práticas homossexuais, não foi abolido até 1993, ano em que também se deixou de considerar a homossexualidade como uma doença mental.