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Rússia faz novos exercícios militares antes de negociação com Ucrânia

Acúmulo de forças na Bielorrússia cria nova frente para possível ataque, enquanto europeus buscam ganhar influência diplomática

Um ativista pró-Rússia segura uma bandeira russa atrás de um militar armado no topo de um veículo do exército russo, próximo a um posto de controle de fronteira na cidade de Balaclava, na Crimeia (Baz Ratner/Reuters)

Um ativista pró-Rússia segura uma bandeira russa atrás de um militar armado no topo de um veículo do exército russo, próximo a um posto de controle de fronteira na cidade de Balaclava, na Crimeia (Baz Ratner/Reuters)

AO

Agência O Globo

Publicado em 26 de janeiro de 2022 às 13h39.

Última atualização em 26 de janeiro de 2022 às 13h55.

A Rússia realizou novos exercícios militares perto da fronteira com a Ucrânia e enviou mais soldados, navios e caças para a Bielorrússia para exercícios para o próximo mês, horas antes da realização em Paris de negociações com representantes do Kremlin, de Ucrânia, Alemanha e França — sem a participação dos Estados Unidos — sobre as tensões envolvendo separatistas no Leste da Ucrânia.

O Ministério da Defesa russo anunciou o envio de uma unidade de paraquedistas para a Bielorrússia, um dia depois de deslocar forças de artilharia e fuzileiros navais supostamente para exercícios conjuntos anunciados para o próximo mês. O órgão também disse que a Rússia vai transferir caças Su-35 para a Bielorrússia, para os exercícios chamados de “Resolução Aliada”.

O acúmulo de forças russas na Bielorrússia, país que faz fronteira com o Norte da Ucrânia, cria uma nova frente para um possível ataque. Separadamente, as forças de artilharia russas na região de Rostov, que, no Sul da Rússia, também faz fronteira com a Ucrânia, devem fazer exercícios de tiro ainda nesta quarta-feira, como treinamento de prontidão de combate, disse o Ministério da Defesa.

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No extremo norte russo, navios de guerra do país entraram no Mar de Barents para treinamentos ligados à proteção de uma importante rota marítima no Ártico, disse a Frota do Norte. Na semana passada, Moscou anunciou a realização de amplos exercícios.

A Rússia insiste que não planeja invadir a Ucrânia, mas potências ocidentais consideram a mobilização de tropas e logística um forte indício de que isso pode estar sendo planejado. Nesta quarta-feira, o ministro das Relações Exteriores ucraniano, Dmytro Kuleba, disse que Moscou ainda não reuniu forças suficientes para conduzir uma ofensiva em larga escala, mas isso não significa que não possa fazê-lo mais tarde.

A Rússia diz que a crise está sendo impulsionada por ações da Otan e dos EUA, e está exigindo garantias de segurança do Ocidente, incluindo uma promessa da Otan de nunca admitir a Ucrânia entre seus membros. Moscou vê a Ucrânia como uma proteção estratégica crucial entre seu território e os membros da Otan.

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, disse na terça-feira que consideraria sanções pessoais ao presidente russo, Vladimir Putin, e o Reino Unido disse nesta quarta-feira que não descarta fazer o mesmo.

Em referência à ameaça, o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, afirmou que quem discute sanções pessoais contra os principais líderes da Rússia ignora o fato que esses líderes foram legalmente impedidos de manter ativos, propriedades e contas bancárias no exterior. Em vistas disso, segundo Peskov, sanções individuais contra Putin "não seriam dolorosas, e sim politicamente destrutivas". Anteriormente, Peskov já dissera que essas sanções significariam um rompimento das relações diplomáticas.

Os Estados Unidos passaram semanas tentando chegar a um acordo com parceiros europeus sobre um forte pacote de sanções se a Rússia atacar. Mas a tarefa é complicada, pela dependência da Europa da energia russa e porque as sanções drásticas também prejudicariam os próprios negócios americanos.

Enquanto os Estados Unidos lideram as negociações com Moscou, representantes de Alemanha e França buscam não se apartar totalmente do diálogo. Desde a manhã desta quarta-feira, representantes das duas maiores potências da UE se reúnem no Palácio do Eliseu com representantes de Rússia e Ucrânia, no chamado "formato da Normandia", um grupo de contato estabelecido em 2014.

Este grupo de contato da Normandia — que tem esse nome por ter se reunido pela primeira vez na região francesa em 2014 — tem o objetivo explícito de acabar com a guerra em Donbass, no Leste da Ucrânia, entre Kiev e separatistas apoiados pela Rússia. Durante anos, ele se reuniu por anos sem progressos concretos, mas as negociações desta quarta-feira podem ser vistas como um sinal positivo de que a diplomacia está ocorrendo.

Há mais de seis meses o grupo não se reunia. Este encontro representa a primeira iniciativa de negociação com protagonismo explícito de países da União Europeia. Ao chegar a Paris, o chefe de Gabinete do presidente da Ucrânia, Andriy Yermak, mostrou-se otimista.

"Finalmente conseguimos desbloquear o formato — e é um forte sinal de disposição para um acordo pacífico. Espero um diálogo construtivo nos interesses (da Ucrânia)", tuitou. Apesar disso, ele disse que grandes violações do cessar-fogo estão ocorrendo e descartou a possibilidade de falar diretamente com os separatistas.

A UE depende da Rússia para cerca de um terço de seu abastecimento de gás. Quaisquer interrupções em suas importações russas piorariam uma grave crise de energia em curso. Os Estados Unidos têm conversado com os principais países e empresas produtoras de energia em todo o mundo sobre um possível desvio de suprimentos para a Europa se a Rússia invadir a Ucrânia.

Enquanto isso, Putin participou de uma reunião por videoconferência com líderes empresariais italianos nesta quarta-feira, incluindo o gigante estatal de energia Enel, o banco UniCredit e a principal seguradora Generali. A reunião aconteceu apesar de um apelo de Roma para que os líderes empresariais não comparecessem.

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