Rússia critica comparação entre Copa do Mundo com Olimpíadas de Hitler
Ninguém tem o direito de insultar o povo russo que derrotou o nazismo e perdeu mais de 25 milhões de pessoas, afirmou embaixador russo
EFE
Publicado em 22 de março de 2018 às 11h33.
Última atualização em 22 de março de 2018 às 11h37.
Londres - O embaixador russo no Reino Unido, Alexander Yakovenko, criticou nesta quinta-feira o governo britânico por comparar a realização da Copa do Mundo de futebol na Rússia com os Jogos Olímpicos da Alemanha nazista de Adolf Hitler em 1936.
"Ninguém tem o direito de insultar o povo russo, que derrotou o nazismo e perdeu mais de 25 milhões de pessoas, ao comparar nosso país com a Alemanha nazista", disse o embaixador em entrevista coletiva em resposta ao ministro das Relações Exteriores britânico , Boris Johnson, que ontem fez essa comparação em um comitê parlamentar.
As relações anglo-russas se deterioraram pelo envenenamento do ex-espião russo Sergei Srkipal e de sua filha Yulia com um agente nervoso de fabricação russa no último dia 4 em Salisbury, no sul da Inglaterra, um ataque do qual Londres considera o governo russo como responsável.
Yakovenko qualificou os comentários de Johnson de "totalmente inaceitáveis" e acrescentou que não acredita que os ex-combatentes britânicos pensem da mesma maneira que o titular de Relações Exteriores.
Em um pronunciamento no comitê de Assuntos Exteriores da Câmara dos Comuns para falar sobre o caso, o titular de Relações Exteriores britânico comparou ontem a Copa do Mundo de futebol que será realizada na Rússia com os Jogos Olímpicos de 1936, que Hitler utilizou para fazer propaganda do regime nazista.
O titular da diplomacia britânica afirmou que sente "náuseas" ao pensar no presidente russo, Vladimir Putin, "cobrindo-se de glórias" nesse evento esportivo.
O líder da oposição trabalhista, Jeremy Corbyn, declarou hoje à imprensa que os comentários de alguns ministros do governo, em clara referência a Johnson, "não ajudam, nem são sensatos" e lembrou que não tem "problemas" com a população russa.
O embaixador russo voltou a rejeitar hoje as afirmações britânicas de que seu país estaria por trás do ataque em Salisbury.
A primeira-ministra britânica, Theresa May, não apresentou qualquer "prova" sobre o envenenamento e seu governo "construiu sua posição ofiial apenas com base em suposições", acrescentou o embaixador.
Além disso, Yakovenko disse que soube da morte do cidadão russo Nikolai Glushkov em Londres através da imprensa e afirmou que os britânicos estão "ignorando deliberadamente" os pedidos russos para obter informação sobre essa pessoa.
A polícia britânica informou que Glushkov, exilado no Reino Unido e encontrado morto no último dia 12 em Londres com sinais de estrangulamento, foi assassinado, mas não vinculou o caso com os eventos do dia 4 em Salisbury.
Além disso, o diplomata manifestou que a Rússia deseja "pronta recuperação" às vítimas afetadas pelo agente nervoso, os Skripal e um policial britânico, que ainda estão hospitalizados.
Ontem, Johnson disse que as provas do caso do ex-espião levaram "inexoravelmente" ao presidente russo, cujo objetivo era enviar uma mensagem para possíveis desertores.
"Como vimos no assassinato do (antigo agente russo) Alexander Litvinenko, a pista da responsabilidade desses assassinatos leva inexoravelmente ao Kremlin", insistiu o ministro em seu pronunciamento no comitê da Câmara dos Comuns.
O governo britânico expulsou 23 diplomatas russos pelo ataque contra Skripal e sua filha, que lembra o envenenamento em 2006 do ex-espião Litvinenko com uma xícara de chá com polônio-210 radioativo no hotel Millenium em Londres, um crime que também foi vinculado ao Estado russo.