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Roma, sem governo e sem Papa, à espera de definições

Além da renúncia de Bento XVI, as eleições não resultaram em um maioria no Parlamento, o que provocou uma crise política na Itália

Vista da Praça de São Pedro, no Vaticano: nenhum "papável" é dado como favorito, cinco dias após a renúncia histórica de Bento XVI (Filippo Monteforte/AFP)
DR

Da Redação

Publicado em 5 de março de 2013 às 13h21.

Roma - Nada está no lugar em Roma: as eleições legislativas não resultaram em uma maioria no Parlamento, e o trono do Papa está vazio desde que Bento XVI se tornou o primeiro pontífice em 700 anos a deixar suas funções por vontade própria.

"Sede vacante": o termo utilizado no Vaticano para designar este período de transição na espera da eleição do novo Papa foi aproveitado por Ezio Mauro no jornal Repubblica para intitular o seu editorial sobre a crise política italiana. Na ausência de uma maioria clara no Parlamento, será difícil a escolha pelo presidente da República do próximo chefe de Governo.

O mesmo ocorre no Vaticano, onde nenhum "papável" é dado como favorito, cinco dias após a renúncia histórica de Bento XVI.

O suspense sobre os dois casos pode acabar no mesmo momento, em todo caso, na mesma semana. A data do conclave será definida pelos cardeais reunidos desde segunda-feira em reunião preparatória, as "congregações". Mas já se especula o dia 11 de março.

Quanto a nomeação de um primeiro-ministro, ocorrerá após a primeira reunião das duas câmaras do Parlamento, inicialmente prevista para 15 de março, mas que pode ser antecipada para o dia 12.

Enquanto isso, comparações são quase inevitáveis. Basta os "grillini", os seguidores recém-eleitos do ex-comediante Beppe Grillo, se reunirem a portas fechadas para toda a imprensa italiana falar de "conclave".

Mas enquanto os trabalhos dos partidos políticos italianos são transmitidos pela internet, os cardeais devem deixar do lado fora os seus celulares e são proibidos de qualquer comunicação com o mundo exterior - sms, mensagens, tweetes...- sob pena de excomunhão.


Última vítima desta coincidência histórica: o cardeal ganês Peter Turkson. Cartazes pedindo que o Sagrado Colégio vote nele foram colados na sexta-feira no centro de Roma por um grupo de artistas.

"No conclave, votem Peter Kodwo Appiah Turkson !", proclama o cartaz, ilustrado por um retrato do prelado africano com os olhos para o céu, uma paródia com os posters eleitorais ainda presentes nas ruas após as eleições legislativas italianas.

Esta campanha eleitoral insólita é assinada pelo coletivo de artistas "ZeroZeroKappaKappa" (00kk.org), que já havia produzido cartazes com aparência oficial protestando contra o aumento dos preços da cocaína, maconha e heroína.

As duas eleições não têm nada a ver, mesmo Ferruccio Sansa do jornal Fatto quotidiano considerando que "os italianos sempre confundiram a sacralidade de Deus e a de César". Ainda assim, nos dois casos, escândalos abriram o caminho da crise: Vatileaks e pedofilia na Igreja católica; corrupção, desvio de dinheiro público, e até prostituição na classe política italiana. Nos dois universos, são exigidos reformas, punições, honestidade e rejuvenescimento.

Mas de acordo com o Fatto, a resposta é paradoxalmente mais moderna para o trono da Santa Sé. "Enquanto o Papa deixa de ser Papa e deixa para a História um pouco de gestos e frases simples, abrindo o caminho para uma renovação da mais antiga instituição do mundo, a política italiana e o jornalismo político se perdem em velhas práticas bizantinas e fórmulas politiqueiras decrépitas", escreveu Marco Travaglio.

"Hoje, Roma está vazia, à espera de alguém que venha ocupar seus palácios", nas duas margens do Tibre, ressalta Sansa, considerando que "os locais de poder podem ser também onde se desenham um futuro melhor". Para ele, aquele que chegar ao poder "deve estar consciente do grande dever que o espera: inventar um novo Renascimento".

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Roma - Nada está no lugar em Roma: as eleições legislativas não resultaram em uma maioria no Parlamento, e o trono do Papa está vazio desde que Bento XVI se tornou o primeiro pontífice em 700 anos a deixar suas funções por vontade própria.

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O mesmo ocorre no Vaticano, onde nenhum "papável" é dado como favorito, cinco dias após a renúncia histórica de Bento XVI.

O suspense sobre os dois casos pode acabar no mesmo momento, em todo caso, na mesma semana. A data do conclave será definida pelos cardeais reunidos desde segunda-feira em reunião preparatória, as "congregações". Mas já se especula o dia 11 de março.

Quanto a nomeação de um primeiro-ministro, ocorrerá após a primeira reunião das duas câmaras do Parlamento, inicialmente prevista para 15 de março, mas que pode ser antecipada para o dia 12.

Enquanto isso, comparações são quase inevitáveis. Basta os "grillini", os seguidores recém-eleitos do ex-comediante Beppe Grillo, se reunirem a portas fechadas para toda a imprensa italiana falar de "conclave".

Mas enquanto os trabalhos dos partidos políticos italianos são transmitidos pela internet, os cardeais devem deixar do lado fora os seus celulares e são proibidos de qualquer comunicação com o mundo exterior - sms, mensagens, tweetes...- sob pena de excomunhão.


Última vítima desta coincidência histórica: o cardeal ganês Peter Turkson. Cartazes pedindo que o Sagrado Colégio vote nele foram colados na sexta-feira no centro de Roma por um grupo de artistas.

"No conclave, votem Peter Kodwo Appiah Turkson !", proclama o cartaz, ilustrado por um retrato do prelado africano com os olhos para o céu, uma paródia com os posters eleitorais ainda presentes nas ruas após as eleições legislativas italianas.

Esta campanha eleitoral insólita é assinada pelo coletivo de artistas "ZeroZeroKappaKappa" (00kk.org), que já havia produzido cartazes com aparência oficial protestando contra o aumento dos preços da cocaína, maconha e heroína.

As duas eleições não têm nada a ver, mesmo Ferruccio Sansa do jornal Fatto quotidiano considerando que "os italianos sempre confundiram a sacralidade de Deus e a de César". Ainda assim, nos dois casos, escândalos abriram o caminho da crise: Vatileaks e pedofilia na Igreja católica; corrupção, desvio de dinheiro público, e até prostituição na classe política italiana. Nos dois universos, são exigidos reformas, punições, honestidade e rejuvenescimento.

Mas de acordo com o Fatto, a resposta é paradoxalmente mais moderna para o trono da Santa Sé. "Enquanto o Papa deixa de ser Papa e deixa para a História um pouco de gestos e frases simples, abrindo o caminho para uma renovação da mais antiga instituição do mundo, a política italiana e o jornalismo político se perdem em velhas práticas bizantinas e fórmulas politiqueiras decrépitas", escreveu Marco Travaglio.

"Hoje, Roma está vazia, à espera de alguém que venha ocupar seus palácios", nas duas margens do Tibre, ressalta Sansa, considerando que "os locais de poder podem ser também onde se desenham um futuro melhor". Para ele, aquele que chegar ao poder "deve estar consciente do grande dever que o espera: inventar um novo Renascimento".

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