Donald Trump: em caso de derrota, os republicanos enfrentarão o desafio de reconstruir o partido e curar as feridas (Rick Guy / Reuters)
AFP
Publicado em 7 de novembro de 2016 às 11h24.
A classe operária mais conservadora da Pensilvânia considera Donald Trump um salvador que pode devolver aos Estados Unidos os empregos transferidos para outros países e revolucionar Washington. Mas temem seriamente pelo futuro do Partido Republicano em caso de derrota do candidato.
Os homens e mulheres que moram nas localidades industriais da Pensilvânia (leste dos Estados Unidos) e outros estados com presença da mineração e industrial foram catalogados por Barack Obama em 2008 como americanos "amargurados que estão aferrados às armas ou à religião".
Oito anos depois, com a disputa pela Casa Branca na reta final, o desprezo permanece na memória de muitos nas áreas rurais do estado, que se consideram cada vez mais afastados das decisões de Washington.
Trump é para eles o provocador magnata imobiliário que atacou a classe política com uma campanha eleitoral de confronto de 18 meses, na qual venceu 16 pré-candidatos republicanos.
Ao atuar desta maneira ele provocou um abismo entre os líderes republicanos e milhões de militantes da base.
Se Trump vencer em 8 de novembro, o partido será seu - uma esmagadora tomada de poder político que poderia mudar por décadas o cenário do conservadorismo americano.
Em caso de derrota, os republicanos enfrentarão o desafio de reconstruir o partido e curar as feridas.
Alguns seguidores de Trump contemplam abertamente a possibilidade de que muitos seguidores do ex-apresentador de reality shows abandonem o partido.
"Duvido que desejem retornar ao curral", disse à AFP Ken Bleistein, 66 anos, em Hershey, Pensilvânia.
O aposentado afirmou que não ficaria surpreso se os simpatizantes mais conservadores de Trump - contrariados com dirigentes como Paul Ryan, presidente da Câmara de Representantes, que deram as costas ao polêmico candidato - deixassem o partido em uma tentativa de retomada do controle sobre o rebanho descontente.
A Pensilvânia se considera particularmente ofendida, pois o estado perdeu muitos empregos nas indústrias e tem uma taxa de desemprego maior que a média nacional.
Nenhum candidato à presidência republicano vence no estado desde 1988. As áreas rurais são conservadoras, mas a majoritariamente democrata metrópole da Filadélfia cresceu nos últimos anos.
Entre os eleitores entrevistados em Hershey, todos expressaram diferentes níveis de indignação com o Partido Republicano por negar um apoio integral a Trump ou por não cumprir algumas promessas, como a de revogar a reforma da saúde de Obama mesmo com maioria no Congresso.
"Se deslocaram para o centro, fizeram um pacto e insto deixou a massa conservadora inquieta", afirma Roger Springer, de 67 anos, em Harrisburg, capital da Pensilvânia.
"Sinto que temos que voltar aos nossos princípios e lutar por aquilo que acreditamos que é correto", completa Springer, membro de uma cooperativa de produtores de batatas. Ele considera Trump o homem adequado para a missão.
Springer afirma que os apelos por uma revolução por manifestantes irritados é algo exagerado, mas que terá consequências no partido.
"Vai acontecer uma revolução", afirma o operário Wayne Hess, 56 anos. Ao mesmo tempo, acredita que o partido permanecerá unido.
"Se você é republicano, não abandona os republicanos", completa.
"Estou falando de que nos devolvam o país. Custe o que custar. Votar não funciona", afirma, antes de explicar que a revolução "consistirá em grandes manifestações e protestos".
Nathaniel Valentin, 20 anos, também acredita em mudanças, mas sem armas e sim com o voto.
Indignados e com um compromisso frágil com os princípios conservadores tradicionais, muitos republicanos falam abertamente em abandonar o partido porque os dirigentes não aceitaram Trump.
Um sentimento coletivo de perda e vitimismo poderia levar os fãs de Trump a dividir o partido e prejudicar suas possibilidades de conquistar a presidência no futuro, afirma Saladin Ambar, diretor do departamento de Ciências Políticas na Universidade de Lehigh.
"Talvez não morra e desapareça com os Whigs", disse, em referência ao partido de curta vida do século XIX. "Mas poderia morrer como partido relevante em uma eleição nacional".
A coordenadora da campanha de Trump, Kellyanne Conway, se negou a considerar a possibilidade de uma derrota. Ela afirmou à AFP que o candidato "trabalha para unificar o partido", muito mais que os republicanos que se negaram a apoiar sua campanha.
Ao falar sobre os conservadores que pensam em abandonar o partido, disse: "Não deveriam fazer isto. Não há um espaço confortável para eles no Partido Democrata".