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Repressão e violência: a perseguição dos gays na Chechênia

Jornal russo acusa autoridades locais de campanha violenta contra gays. Governo diz ser impossível haver perseguição, já que não existem gays na região

Grozny, capital da Chechênia: homens gays vem sendo sistematicamente perseguidos e presos (Konstantin_Novakovic/Thinkstock)

Grozny, capital da Chechênia: homens gays vem sendo sistematicamente perseguidos e presos (Konstantin_Novakovic/Thinkstock)

Gabriela Ruic

Gabriela Ruic

Publicado em 22 de abril de 2017 às 12h33.

São Paulo - Homens gays estão sofrendo atos de violência e perseguição na Chechênia. A revelação foi primeiro feita pelo jornal russo Novaya Gazeta, conhecido por suas reportagens investigativas e a oposição ao governo de Vladimir Putin, e depois corroborada por entidades de defesa de direitos humanos como a Human Rights Watch (HRW) e veículos internacionais como o The New York Times e o The Guardian.

Segundo a publicação russa, o governo da Chechênia estaria conduzindo uma campanha de repressão contra a comunidade LGBT há algumas semanas, depois que grupos de defesa dos direitos dessas pessoas começaram a pedir por autorizações para a realização de paradas do orgulho gay em diferentes regiões do Cáucaso.

O líder da Chechênia, Kamzan Kadyrov, negou a perseguição, dizendo ser impossível perseguir o que não existe: gays em uma região predominantemente muçulmana. “Se existissem essas pessoas na Chechênia, autoridades não teriam de fazer nada, pois suas famílias os mandariam para algum lugar longe e sem volta”, adicionou Kadyrov.

Mas não é esse o retrato encontrado pela HRW e pelos jornais, que ouviram depoimentos de vítimas dessa repressão. De acordo com a Novaya Gazeta, ao menos cem homens foram presos nos últimos meses. Alguns foram espancados, outros torturados e outros sequer tem o seu paradeiro conhecido.

Perseguição e prisão

Ao NYT, um jovem identificado apenas como Maksim contou que, na região, gays dificilmente se tratam por seus nomes reais. Encontram-se às escondidas em grupos de chats online ou em apartamentos alugados por apenas uma noite. Ele próprio contou ter sido espancado por policiais durante o que seria um encontro com um amigo de longa data, também gay.

A dupla combinou um encontro em um apartamento. Ao chegar, Maksim disse ter sido recebido por policiais que haviam espancado seu amigo. Eles então o prenderam em uma cadeira e passaram a interrogá-lo com choques elétricos, pressionando para que ele desse nomes de outros gays. Resistiu, mas outros não tiveram a mesma sorte. Naquela noite, acabou preso com mais seis homens em uma cela improvisada.

Outro relato, esse ouvido pelo jornal britânico The Guardian, foi de um jovem chamado Adam, que também foi vítima de uma emboscada e terminou preso em uma cela com 30 homens. “Pessoas diferentes entravam na cela par anos espancar”, disse ele à publicação, “nos chamavam de animais e diziam que íamos morrer ali”.

Agora, grupos de defesa dos direitos da comunidade LGBT na Rússia vem auxiliando a fuga dessas pessoas da região com a compra de passagens aéreas, acomodações seguras e atendimento médico.

Repercussão

Embora neguem as acusações do jornal russo, autoridades da Chechênia e líderes religiosos locais passaram a ameaçar os jornalistas da Novaya Gazeta, cujas reportagens explosivas sobre corrupção e violações de direitos humanos na Rússia já tiveram como respostas o assassinato de seus jornalistas.

O governo da Rússia, por sua vez, inicialmente disse que não tinha notícias sobre o caso e que quem se sentisse perseguido poderia procurar as autoridades e fazer suas denúncias. Após a pressão da comunidade internacional, contudo, o Kremilin abriu uma investigação de âmbito federal para apurar as alegações, mas segue dizendo que não há evidências de tal perseguição.

 

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