Mundo

Reino Unido inicia "nova era" fora da União Europeia

Boris Johnson disse que não deseja ficar alinhado com as normas europeias

Brexit: O conservador Johnson conseguiu acabar com anos de bloqueio político em eleições antecipadas em dezembro (Toby Melville/Reuters)

Brexit: O conservador Johnson conseguiu acabar com anos de bloqueio político em eleições antecipadas em dezembro (Toby Melville/Reuters)

A

AFP

Publicado em 1 de fevereiro de 2020 às 15h51.

Fora da União Europeia (UE) pela primeira vez em quase 47 anos, o Reino Unido iniciou neste sábado uma "nova era" em que deverá superar as divisões e redefinir seu lugar no mundo, negociando a nova relação comercial com Bruxelas, mas também com Washington.

"A cortina se abre para um novo ato em nosso grande drama nacional", disse o primeiro-ministro Boris Johnson em uma mensagem à nação, quando o país deixou oficialmente o bloco europeu, para celebração de alguns e lágrimas de tristeza de outros.

"Despedida da UE" (The Times), "O dia em que dizemos adeus" (The Guardian) ou "O Reino Unido corta finalmente laços com a UE" (Financial Times): a imprensa recebeu o dia como uma nova página do futuro do país. "Agora a construir o Reino Unido que nos prometeram", pediu o jornal The Mirror.

Porém, graças a um período de transição que vai até o fim de dezembro, pouco ou nada mudou na realidade para a maioria.

Agora sozinhos, os britânicos devem "usar os novos poderes, a soberania recuperada, para conquistar as mudanças pelas quais as pessoas votaram", disse Johnson.

O resultado do referendo de 2016, quando 52% dos britânicos votaram a favor do Brexit, foi explicado por muitos como uma reação desesperada da parte do país - principalmente o norte da Inglaterra - esquecida por uma globalização que enriqueceu Londres e aumentou as desigualdades.

O conservador Johnson conseguiu acabar com anos de bloqueio político em eleições antecipadas em dezembro, nas quais seduziu várias circunscrições de trabalhadores que desejavam o Brexit. Com o resultado, ele prometeu reunificar o país e investir, em educação e saúde, para reduzir as desigualdades.

Manifestação na Escócia

"O Brexit está longe de ter acabado. A batalha sobre a UE pode ter acabado, a batalha pelo Reino Unido está a ponto de começar", afirmou neste sábado o lobby pró-Brexit da indústria pesqueira, que espera recuperar a prosperidade com o gim das cotas e a presença de barcos europeus.

Na segunda-feira, Johnson fará um discurso para apresentar suas metas para os britânicos e o papel do Reino Unido no mundo.

No momento, porém, precisa lidar com o descontentamento de uma parte importante do país, a Escócia, uma nação semiautônoma de 5,4 milhões de pessoas em sua maioria contrárias ao Brexit que, em uma tentativa de retornar à UE, parece cada vez mais tentada por uma eventual independência.

Centenas de escoceses voltaram a protestar neste sábado em Edimburgo para pedir um segundo referendo de autodeterminação, após a vitória do não em uma consulta em 2014.

Sobre a bandeira azul da Escócia, muitas pessoas imprimiram as estrelas amarelas da bandeira da UE. Cartazes exibiam frases como "a união está morta, deixem que a Escócia floresça".

"Há muito em jogo"

Entre as poucas mudanças visíveis de maneira imediata, a missão diplomática britânica em Bruxelas, até agora denominada "Representação do Reino Unido ante a UE", enviou um funcionário durante a manhã para mudar a placa de seu edifício, que agora diz "Missão do Reino Unido ante a União Europeia", o que significa que não é mais um país membro.

Também assumiu o posto o novo embaixador da UE em Londres, o português João Vale de Almeida, que afirmou no Twitter que deseja "trabalhar de maneira construtiva com as autoridades britânicas e povo britânico, estabelecendo as bases para uma sólida relação".

Nos próximos meses, Londres terá que negociar a futura relação com Bruxelas, ao mesmo tempo que tentará alcançar um ambicioso tratado de livre comércio com os Estados Unidos, sua principal aposta para substituir o sócio europeu.

"Há muitas coisas em jogo", declarou à AFP Jill Rutter, do centro de pesquisa 'UK in a Changing Europe'.

Johnson disse que não deseja ficar alinhado com as normas europeias, o que preocupa os ex-sócios.

"Não podemos permitir que se estabeleça uma concorrência nefasta entre nós", advertiu o presidente francês, Emmanuel Macron, em uma carta aos britânicos publicada no jornal The Times.

Acompanhe tudo sobre:BrexitReino UnidoUnião Europeia

Mais de Mundo

Israel reconhece que matou líder do Hamas em julho, no Irã

ONU denuncia roubo de 23 caminhões com ajuda humanitária em Gaza após bombardeio de Israel

Governo de Biden abre investigação sobre estratégia da China para dominar indústria de chips

Biden muda sentenças de 37 condenados à morte para penas de prisão perpétua